Família

O que uma criança deve saber aos 4 anos de idade?

 
Certamente que, se colocar esta pergunta num qualquer motor de busca, vai deparar-se com um conjunto de explicações, de exigências e, acima de tudo, com respostas «cruéis» de mães que, não sabendo muito do assunto acabam por deixar as outras desoladas com a sua «sabedoria caseira» e a achar que tudo o que fazem ou dizem é o mais correcto para todos!

 
Quem se dedica a procurar respostas para tudo na Internet, rapidamente entra em depressão com a «sabedoria popular» que, parecendo ser a «única e a dona da verdade» está muito distante da ciência e da posição dos especialistas, sem esquecer, a sensibilidade de cada um para ser melhor pai ou mãe.
 
Neste tempo moderno, parece que nos esquecemos de ouvir o coração, de tentar interpretar o que «nos vai dentro da alma», para nos focarmos naquilo que a «sociedade nos exige». Antes de avançar mais no tema propriamente dito, vale a pena pensar no que é socialmente aceite e correto quando somos nós quem fazemos a sociedade…
 
Carregados de melhores ou piores intenções, os fóruns virtuais que colocam em debate a posição de várias mães, acabam por fazer acreditar que, «se não pensarmos pela nossa cabeça, estamos a dar lugar à ideia de ter um filho «menos desenvolvido, com um percentil abaixo da média e com poucos conhecimentos para a idade», quando comparado com o que se escreve. Tal como, a sentir que já nos tornamos escravos de um sistema que não nos faz sentido, mas que acabamos por arrastar por estar na moda!»
 
Curiosamente, apercebemo-nos de que, se dá tanta importância ao que se escreve e diz acerca das crianças nos fóruns virtuais que, muitas vezes se desvaloriza a orientação dos especialistas que acompanham os mais pequenos desde que chegam ao mundo! 
 
Vivem-se verdadeiros dramas virtuais quando se deixa «cair por terra» o essencial, o que se sabe quase por «instinto maternal» e que dispensa as melhores enciclopédias.
 
Quando nos preparamos para abraçar a parentalidade, devemos saber que, o primeiro direito da criança é ser desejada e amada e, para que este direito se consolide, os pais devem oferecer carinho, amor, dar atenção, educação, regras de boa convivência social e proporcionar momentos de felicidade aos seus filhos, já que eles são (também) elementos da família, para além de constituírem o agregado familiar.
 
Na realidade, é preciso ter muita força e convicção no que se pretende aquando se coloca um filho no mundo, pois a partir do momento em que a criança frequenta o infantário, a creche ou o jardim de infância, começam as críticas ao que os pais não fizeram de trabalho de casa. 
 
Começam as comparações entre mães que ultrapassam o que é melhor para os filhos, e que se assumem como «o exemplo de todos». 
 
Dispara, em muitos casos, a competição, a necessidade de ter o filho mais inteligente e capaz de responder prontamente aos desafios que lhe são colocados, como se tivesse que os ter apreendido antes de tempo e, mesmo antes das suas capacidades. 
 
Se muitas mães sabem que, se a criança está na instituição é para desenvolver habilidades, outras sofrem em silêncio pela rapidez com que algumas crianças  exibem as suas habilidades nas festas ou em diversos momentos. 
 
Como cada criança tem o seu ritmo de desenvolvimento, não faz qualquer sentido fazer parte desta inquietação, mas sim, valorizar as conquistas individuais e aquilo que a criança mostra como aprendizagem.
 
Depois, tem sido notável a ideia de que, a inteligência é uma garantia de sucesso, mesmo que a mesma não implique a felicidade e as particularidades de cada sujeito. 
 
No fundo, cabe aos pais, saberem o que é mais correto para os seus filhos e seguir uma linha de orientação que, não perdendo de vista a socialização, deve ser ajustada a cada indivíduo, pois também é uma prova de amor, aceitar os nossos filhos tal como são e, incentivá-los a crescer de forma equilibrada e saudável.
 
O que uma criança deve saber aos 4 anos de idade? 
 
Segundo a posição de  Alicia Bayer, num artigo publicado no The Huffington Post –, «o que me entristecesse, mas também me irrita, são as respostas que muitas mães dão nos fóruns sociais onde cada uma apresenta as suas dúvidas e, à distância, as outras acabam por mostrar as habilidades dos seus filhos que, a serrem verdadeiras, em nada ajudam as outras que se sentem produto de desvalorização e de culpa pelo “insucesso” dos filhos.»
 
A especialista reforçou: «ao invés de ajudarem a diminuir a angústia dessa mãe, outras mães indicam o que os seus filhos fazem, numa clara expressão de competição para ver quem tem o filho que mais sabe com 4 anos. Só algumas poucas indicam que cada criança apresenta um ritmo próprio e que não precisamos de nos preocupar com o que cada um faz ou sabe numa determinada etapa de desenvolvimento».
 
Alicia Bayer, mostrou-se horrorizada com a lista de conhecimentos que as mães expõem dos filhos, como se de uma medida padrão se tratasse, sem esquecer que, em lado algum do mundo, existe um especialista a defender tais conhecimentos infantis.
 
Note-se que, saber o nome completo, saber escrever o nome e o sobrenome, identificar os planetas ou contar até 100 seriam «níveis a atingir» nas listas das mães «sábias e convictas de que o sucesso advém da inteligência precoce».
 
Para contrapor esses escritos indicados pelas mães, a autora organizou uma lista muito mais simples, acessível e interessante para que pais e mães considerem o que uma criança deve saber nesta e em qualquer idade.
 
Qualquer criança, deve saber que a querem e a aceitam por completo, incondicionalmente e em todos os momentos.
 
– Deve sentir que está segura e deve saber como se manter a salvo em lugares públicos, com outras pessoas e em situações distintas.
 
– Deve saber os seus direitos e que a família é o seu porto-seguro.
 
– Deve saber rir, chorar, cantar, encantar os outros, bem como ser vilã e utilizar a sua imaginação nas mais variadas situações.
 
– Deve saber que nunca acontecerá nada se agarrar no lápis ou no pincel e colorir o céu de laranja ou desenhar gatos com seis patas.
 
– Deve saber que o mundo é mágico e ela também.
 
– Deve saber que é fantástica, inteligente, criativa, trabalhadora, habilidosa e maravilhosa.
 
– Deve saber que passar o dia ao ar livre fazendo colares de flores, bolas ou bolinhos de barro e casinhas de contos de fadas, é tão importante como praticar fonética. Melhor dizendo, muito mais importante.
 
Alicia Bayer ainda acrescenta outra lista que considera mais importante. A lista do que os pais devem saber:
 
– Cada criança aprende a andar, falar, a ler e a fazer cálculos ao seu próprio ritmo, e que isso não tem qualquer influência na forma como irá andar, falar, ler ou fazer cálculos no futuro.
 
– Que o fator de maior impacto no bom desempenho escolar e na conquista de melhores resultados, passa pela leitura desde cedo. Os pais devem dedicar um tempo diário a contar histórias aos seus filhos. Sejam elas lidas nos livros ou inventadas, as histórias são a base do desenvolvimento do gosto pela leitura e pela escrita e, a «garantia» de que a infância se processa com muita imaginação e alegria, essenciais à felicidade e ao bem-estar.
 
Neste ponto, a autora reforça que, não são as tecnologias avançadas, as creches mais elegantes e  referenciadas que dão lugar a esta conquista que se desenvolve no seio familiar com todo o carinho que reúne.
 
– Os pais devem saber que, ser a criança mais inteligente ou a mais estudiosa da turma nunca significou ser a mais feliz. Estamos tão obstinados em garantir aos nossos filhos todas as “oportunidades” que o que lhes estamos dando são vidas com múltiplas atividades e cheias de tensão como as nossas. Uma das melhores coisas que podemos oferecer aos nossos filhos é uma infância simples e despreocupada.
 
– Os pais devem saber que, as crianças merecem viver rodeadas de livros, natureza, materiais artísticos e de liberdade para explorá-los. A maioria de nós poderia desfazer-se de 90% dos brinquedos dos nossos filhos, com a certeza de que, eles nem sentiriam essa falta.
 
– Que os nossos filhos necessitam de sentir e de ter mais a presença dos pais.
 
Vivemos  numa época em que as revistas para pais recomendam que tratemos de dedicar 10 minutos diários a cada filho e prever um sábado por mês dedicado à família. Que horror! Os nossos filhos necessitam do Nintendo, dos computadores, das atividades extracurrículares, das aulas de ballet, do grupo para jogar futebol muito menos do que necessitam de nós. Necessitam de pais que se sentem para ouvir os relatos do que fizeram durante o dia, de mães que se sentem e façam trabalhos manuais com eles. 
 
Necessitam que passeiem com eles nas noites de primavera sem se importar que se ande a 150 metros por hora. Têm direito a ajudar-nos a fazer o jantar mesmo que gastemos o dobro de tempo e tenhamos o dobro de trabalho. Têm o direito de saber que para nós são uma prioridade e que nos encanta verdadeiramente estar com eles.
 
Alicia Bayer deixa então a questão: «Então, o que precisa mesmo uma criança de 4 anos?
 
Muito menos do que pensamos e muito mais!»
 
Fátima Fernandes