Família

Oito “segredos” para ser bom pai

 
Todos assumem que os desafios da paternidade têm vindo a ganhar mais expressão nas sociedades modernas e que, educar nos dias de hoje é muito mais exigente do que no passado, porém, os especialistas acreditam que é tudo uma questão de compreender os novos tempos e necessidades.

 
Se no passado o papel do pai se resumia à autoridade em casos extremos e ao sustento da família, presentemente a figura masculina é entendida como tão importante no desenvolvimento dos filhos como o da mãe.
 
O papel do pai tem vindo a ganhar expressão mais alargada sobretudo desde a década de 70 do século XX, altura em que o movimento feminista acarretou mais exigências aos progenitores.
 
Está provado que é fundamental o toque entre pai e filho porque reforça a presença e é essencial para o desenvolvimento da criança, tal como o diálogo, a participação e o acompanhamento nas mais variadas situações sociais, acrescenta a autoestima e permite um maior conhecimento da realidade por parte dos mais novos.
 
A principal dificuldade em assumir o papel de pai prende-se com o afastamento que lhe foi dado no passado. Era a mãe que, em quase exclusivo, tomava as decisões, cuidava nos mais variados momentos e marcava presença nas reuniões da escola. Os tempos mudaram e, cabe aos pais encontrarem o seu lugar na educação e na formação global dos filhos. A mãe amamenta, o pai dá o banho. A mãe mede a temperatura, o pai ministra o medicamento e muda a fralda. É por aqui o caminho que tem de ser conjunto entre os pais. À medida em que o pai se envolve no processo, tudo é mais fácil defende a terapeuta familiar Quézia Bombonatto, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp).
 
A mesma especialista reforça:“Ainda temos resquícios de uma educação que nos ensinou que a responsável pelos filhos é a mãe. Mas, aos poucos, o homem começa a deixar o papel de provedor exclusivo para se assumir como participante ativo na vida das crianças.”
 
A educadora Cris Poli, também conhecida como a “Supernanny” brasileira e autora do livro “Pais Responsáveis Educam Juntos” (Mundo Cristão), concorda com a importância da participação dos pais na vida das crianças. “Não existe uma mãe ideal, tão pouco existe um modelo de pai. Mas algumas dicas podem ajudar a facilitar a tarefa conjunta e colocar o pai no centro do desenvolvimento das crianças.”
 
Na posição desta educadora, existem oito segredos para orientar os pais na tarefa de educar e de permitir um desenvolvimento mais sadio e equilibrado:
 
1. Participe ativamente – e com frequência
 
Não podemos estar presentes apenas nos momentos decisivos. “O pai deve participar como quem vai colocar o limite, quem vai estimular e elogiar, quem vai acompanhar a criança”, diz Quézia Bombonatto. “Cinco minutos por dia já podem ser muito importantes para o desenvolvimento da relação de ambos. Não é correto acumular esse tempo e reservá-lo a um dia por mês em que se é pai a tempo inteiro. O processo é diário, nem que seja numa tarefa. A relação entre pai e filho tem de ser construída diariamente para que ocorra a confiança mútua, para que o pai seja valorizado e devidamente incluído em todo o desenvolvimento.
 
“É preciso, por exemplo, acompanhar o percurso escolar e não somente as notas finais. Transformar estes momentos em significado para a criança já é um bom começo.”
 
2. Não confunda atenção afetiva com atenção material
 
Ao testemunhar um mau comportamento dos filhos, muitos pais desviam as atenções para afirmações do género: “Mas não lhe falta nada. Tem brinquedos, alimentação, material escolar, vestuário, etc.” O problema é mesmo a falta de carinho, de atenção, de diálogo e de envolvimento na relação. “A presença é muito importante”, diz Quézia que reforça: “O carinho dos pais beneficia a alma e o cérebro de crianças e adolescentes.”
 
3. Seja carinhoso
 
Muitos pais confundem masculinidade com falta de afeto e evitam beijar e abraçar a criança. O pai pode e deve mostrar o amor que sente pelo filho. Segundo Cris Poli, é preciso haver uma interação física com a criança também durante as brincadeiras. “Não temos sempre vontade de brincar, mas aos poucos, acabamos por gostar desse tempo que dedicamos aos nossos filhos e até nos distraímos do dia agitado. Qualquer brincadeira serve, basta que envolva emoções e permita desfrutar de momentos agradáveis em conjunto.”
 
4. Mostrar autoridade sem ser autoritário
 
Muitos homens confundem autoritarismo com masculinidade e tornam-se pais agressivos e ameaçadores. “Não é preciso gritar nem bater para mostrar desagrado face a um comportamento.” Para o psicanalista Rubens de Aguiar Maciel, especialista em desenvolvimento humano e paternidade, os pais devem evitar a imposição de regra pela regra. “É muito prejudicial as crianças serem obrigadas a fazer isso ou aquilo porque o pai mandou, sem que haja uma explicação maior”. A autoridade torna-se superficial quando a ordem não faz sentido para a criança.
 
Para Cris Poli, pais com perfil autoritário impedem a criança de expressar sentimentos e pensamentos com facilidade, pois os mais novos não se sentem respeitados. “Se um pai é autoritário e se impõe pela força e pelo medo, acaba por inibir a criança dando lugar à timidez, à introversão e a uma maior dificuldade em se expressar. Os limites devem ser construídos – e não impostos. Explique porque razão o seu filho não pode mexer no computador, por exemplo.
 
5. Não seja excessivamente permissivo
 
Os pais permissivos acabam por fazer o oposto dos autoritários, sem que ambos estejam corretos. Os pais permissivos são carinhosos, mas não conseguem estabelecer limites, pelo que, no entendimento dos filhos, acabam por se tornar ausentes. Brincam, acarinham, mas não marcam presença; não assumem o papel de pais.
 
Segundo Cris Poli, os pais demasiadamente permissivos deixam de se posicionar e preferem deixar o filho fazer tudo o que quer. Este tipo de pai não toma decisões, empurra as responsabilidades para a mãe e deixa os filhos confusos e sem compreender qual é a função da referência masculina.
 
6. Assuma o seu papel de pai
 
Para Cris Poli, o erro mais recorrente dos pais é não assumir essa postura em relação à educação dos filhos. “A ausência, a falta de posicionamento e de autoridade são uma carência muito forte”. O pai tem de se assumir como tal nas mais variadas situações em que tem de ser quem brinca com os filhos, quem lhes orienta o banho, as refeições, os horários e as tarefas do dia a dia. 
 
O pai corrige comportamentos, ensina a fazer e controla quando as regras não estão a ser cumpridas nas mais variadas situações. O pai não pode permitir que “tudo se perca” por falta de um “não” ou por uma indicação: “são mesmo horas de ir para a cama.”
 
A mesma especialista recorda que, “os momentos de diversão devem ser vividos pelo pai e pela mãe, logo o papel da mulher não pode ser restrito à educação e ás regras. A função tem de ser partilhada e o pai tem de saber estar à altura em qualquer situação.” Se algo corre mal numa brincadeira, é o pai quem vai resolver o problema; não vai chamar a mãe para o fazer! 
 
7. Exija o seu espaço
 
De acordo com a psicóloga Camila Guedes Henn, do Núcleo de Infância e Família (NUDIF) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a mãe também deve dar espaço para a entrada do pai na vida dos filhos. “Às vezes as mães não acreditam muito na capacidade do pai de cuidar da criança, e é algo que não pode acontecer.” A figura masculina também é importante e deve atuar em colaboração com a mãe, trocando opiniões sem que um desautorize o outro.
 
8. Seja um bom cidadão
 
Um bom pai é também um bom marido e um bom cidadão. De acordo com o psicanalista Rubens de Aguiar Maciel, “o ambiente ao redor da criança assume uma forte influência na sua formação. A figura do pai também conta. Para os filhos crescerem de forma mais saudável e equilibrada, os pais devem ser maduros emocionalmente.” Para o mesmo psicanalista, o homem e a mulher precisam saber quais são os seus valores diante de uma sociedade que muitas vezes os leva a conhecer pouco sobre si mesmos e a serem competitivos e consumistas”. Rubens Maciel resume: “Para ser um bom pai é essencial ser um bom ser humano.”
 
Fátima Fernandes