Família

Pais que vivem através dos filhos

 
Se os seus pais também viveram através de si, não hesite em fazer uma boa reflexão e pedir apoio psicológico se não conseguir ultrapassar a situação, pois corre o risco de reproduzir o mesmo padrão também com os seus filhos.

Assim à primeira vista, pode dizer-se que é bom que os pais se dediquem aos filhos, que os mimem, que os eduquem e que lhes transmitam uma boa base de valores. O problema começa quando os pais vivem tão intensamente a relação que, acreditam que os mais novos são uma extensão de si mesmos.
 
Começam a comandar-lhes as opiniões, os comportamentos, a apresentação social, aquilo que esperam deles e daí por diante.
 
Chegam a um ponto tal que, os filhos deixam de ter liberdade para serem tal como são e para encontrarem o seu próprio caminho e os seus interesses. Ficam dependentes, infelizes e, na primeira oportunidade, afastam-se dos pais.
 
É fundamental ter em conta que, quem vive através dos filhos acaba por responsabilizá-los por tudo, por culpá-los de tudo e por não lhes deixar margem para que cresçam e que sejam eles próprios.
 
Os pais precisam de compreender que, ter um filho é um ato de amor e de altruísmo. Dá-se o melhor que se sabe e que se consegue, mas não se exige algo em troca. Os filhos vão ter de construir o seu caminho e serão capazes de seguir as orientações dos pais que mais lhes agradem. Manterão uma relação positiva com os progenitores quando estes lhes dão a necessária liberdade, amor e compreensão e poderão dar continuidade aos valores da família se os mesmos lhes fizerem sentido, se forem bem apresentados e se forem suportados pela tal margem de liberdade.
 
Não é tarefa dos pais obrigar os filhos a seguirem as suas orientações, mas sim, ensinar-lhes a diversidade de escolha, as boas regras de convivência social, dar-lhes oportunidade de se conhecerem melhor e de conhecerem o mundo e prepará-los para a vida com amor, diálogo, brincadeiras, regras e exigência.
 
No fundo, é tarefa dos pais fornecer uma base a um ser humano para que ele tenha a sua autonomia e liberdade de escolha, para que encontre o prazer e afelicidade, para que se realize e que se ame a si mesmo.
 
Muitos pais não conseguem entender o que é colocar um ser humano no mundo e acabam por sufocá-lo com tantas exigências, regras, obrigações e uma profunda necessidade de que eles sejam iguais a eles.
 
Ao mesmo tempo, também há progenitores que vêm nos filhos aquilo que eles não conseguiram ser e depositam-lhes todas as suas expetativas, sonhos e até frustrações. Os filhos têm de conseguir aquilo que eles não conseguiram e ser o que eles não são. Esta é mais uma carga negativa que os mais novos carregam e, na maior parte dos casos, só se libertam dela quando, em adultos, se afastam dos pais.
 
Há pais que encaram os filhos como um “cartão de visita” da família, pelo que, os mais novos têm de se apresentar impecavelmente bem, seja no comportamento, no vestuário, na educação, nas opiniões, nos comentários e daí por diante. Qualquer falha ao que lhes é exigido, será alvo de represálias e em muitos casos de castigos ou de abandono parental.
 
Muitos pais também imaginam um filho perfeito, que não erra, que se comporta sempre bem, que só diz o que os outros querem ouvir e que parece estar sempre em sintomia com os pais. Qualquer “desvio” dessa rota é motivo de uma profunda desilusão e, em muitos casos, implica desprezo parental. Os pais ficam tão furiosos com a queda da perfeição que deixam de aceitar o filho.
 
Depois, também há progenitores que, mesmo com os filhos adultos, querem controlar-lhes a vida, as escolhas, orientar-lhes os sonhos, escolher-lhes o parceiro, a profissão, a casa onde vão morar e daí por diante. O filho tem de ter a profissão do pai ou a que este queria ter, tem de obedecer às orientações dos progenitores, tem de ser fiel aos valores e comportamentos da família e não tem qualquer margem de manobra e de liberdade para tomar uma decisão.
 
Há ainda pais que fingem que aceitam a liberdade do filho, mas que, no fundo, estão sempre a dar-lhe as orientações mesmo que de forma indireta. Vão fazendo um comentário daqui e dali, vão criticando os filhos através de comentários que fazem de outras pessoas e encontram sempre uma forma de os filhos se sentirem mal e culpados por não lhes seguirem os passos.
 
É caso para dizer que, talvez a maioria de nós tenha crescido num ambiente parecido a um destes exemplos e que, por isso, muitos filhos não consigam manter uma relação saudável com os pais, por isso, vale a pena repensar na sua forma de ser pai ou mãe, abrir horizontes e tentar aceitar que os filhos não são propriedade dos pais. Os filhos têm autonomia e liberdade para seguirem o seu percurso com toda a fromação que lhes transmitimos, pelo que temos de lhes dar asas e deixá-los voar. Temos de os aceitar tal como são e assumir que cada ser humano é único e igual a si mesmo.
 
Temos de colocar de lado as modas da sociedade que parecem impor um filho modelo em cada tempo da nossa história e permitir que, os nossos descendentes tenham oportunidade de se encontrarem dentro de si com tudo aquilo que lhes ensinamos e que, acima de tudo, sejam iguais a si mesmos e felizes!
 
Fátima Fernandes