Família

Pais superprotetores criam filhos inseguros e dependentes

 
As crianças precisam de ser autónomas e de enfrentar sozinhas os desafios próprios da sua idade, é por essa razão que, os especialistas alertam para um dos grandes problemas da atualidade: os pais superprotetores que ultrapassam grandemente os seus limites de cuidadores e de protetores para caírem no exagero.

Há pais que nem deixam que os filhos toquem nas coisas já os estão a alertar para os eventuais perigos. Naturalmente que há objetos e utensílios proibidos para crianças como é o caso de facas, garfos e tesouras, por exemplo. Estes objetos nem sequer devem estar ao alcance das crianças pequenas tal como os medicamentos, no entanto, os ‘pais-helicóptero’ ou superprotetores preocupam-se com coisas tão elementares como a comida em que estão sempre a alertar a criança para o perigo de se engasgar, o que denota o medo de que algo lhe aconteça. Se por um lado é normal que os pais protejam os filhos, os especialistas despertam consciências para o exagero que não deixa que os mais novos brinquem, que experimentem, que vivenciem as coisas como é necessário para a sua idade. É normal que a criança tropece, que se suje, que se arranhe, pois tudo isso faz parte do desenvolvimento. Ao limitarmos todas ou quase todas as ações dos mais novos, acabamos por lhes retirar esse direito à experiência, alertam os entendidos.
 
Ao exagero nos cuidados com os filhos, os entendidos designam por paternidade-helicóptero, ou seja, aqueles pais e mães que estão sempre de olho nos filhos, como se sobrevoassem todos os passos dos mais novos para evitar que algo de negativo lhes aconteça. Esse comportamento superprotetor pode ser muito nocivo para as crianças, quem o demonstra é um recente estudo elaborado pela Universidade de Minnesota e publicado na revista Developmental Psychology.
 
“Os pais superprotetores e ultracontroladores podem ter um efeito muito negativo que afeta o desenvolvimento da criança para lidar de forma correta com as suas emoções e comportamentos”, disseram em nota os autores do estudo. A pesquisa demonstra que os pequenos que têm pais-helicóptero “são menos capazes de lutar com os desafios exigidos pelo próprio crescimento, tais como: comportar-se bem na sala de aula, fazer amigos ou ter um bom rendimento escolar”.
 
Os mesmos entendidos lembram que, ser um pai ou mãe helicóptero é aquele que controla continuamente o filho, que lhe diz como deve brincar, como guardar as  suas coisas, como agir, entre outras determinações. “Diante desse comportamento, e segundo os nossos resultados, as crianças reagem de maneira diferente. Algumas tornam-se desafiadoras em relação aos pais, outras simplesmente  ficam apáticas ou mostram-se muito frustradas”, explicam os mesmos especialistas.
 
No mesmo apontamento, os autores do estudo sublinham que, os pais superprotetores, desenvolvem crianças que não sabem lidar com as suas emoções. Esta é a premissa. E tem as suas consequências. Costumam ser meninos e meninas que não controlam as suas alterações de humor, as suas emoções e os seus sentimentos, e são mais fracos quando precisam de enfrentar os desafios de cada etapa do crescimento. “Isto é negativo, pois. as crianças precisam de cuidadores que lhes sirvam de guia no momento de entenderem o que lhes acontece, não de alguém que evite tudo ou que faça tudo por elas”, acrescentam os especialistas.
 
Segundo os mesmos investigadores, os pais devem:
 
- Ser sensíveis às necessidades dos seus filhos, reconhecendo quais são as suas capacidades no momento de encarar diferentes situações.
 
- Orientar a criança, sem interferir nem solucionar o problema, para que ela consiga o objetivo a que se propõe, orientando-lhe que se pode desembaraçar sozinha, o que a levará a um melhor desenvolvimento da sua saúde mental e física e a melhores relações sociais e resultados escolares.
 
- Não limitar as oportunidades das crianças.
 
- Ajudar os filhos a controlarem as suas emoções, conversando com eles sobre como entender os seus sentimentos e explicando-lhes que os comportamentos podem resultar de certas emoções, assim como as consequências que as diferentes reações podem acarretar.
 
- Também podem ajudar os filhos a identificar estratégias de confrontação positivas, como respirar fundo, ouvir música, pintar um desenho ou retirar-se para um lugar tranquilo.
 
“As nossas conclusões salientam a importância de educar os pais, frequentemente bem intencionados, sobre o apoio à autonomia dos filhos perante os desafios emocionais”, prosseguem os autores. “Também podem ser um bom exemplo para os filhos. Estes pais podem usar estratégias de confrontação positivas, no momento de lutar com as suas próprias emoções e comportamentos quando estão incomodados ou irritados”, concluem.
 
Refira-se que, para chegarem a estes resultados, os investigadores analisaram durante oito anos 422 meninos e meninas de diferentes etnias e condições económicas, fazendo avaliações em três ocasiões: aos 2, 5 e 10 anos de idade. Os dados surgiram da análise das interações entre pais e filhos, de relatórios dos professores e da sua própria experiência narrada aos 10 anos.
 
“Efetivamente, os principais efeitos da superproteção são que não deixamos que os menores aprendam por si mesmos a resolver os problemas do seu dia a dia. Ao não desenvolverem tais habilidades, normalmente têm mais propensão a serem mais ansiosos e a terem mais dificuldades de regulação emocional”, explica o psicólogo espanhol Jesús Matos, mestre em Psicologia Clínica e da Saúde. “Se em lugar de fomentar a autonomia optamos pela superproteção”, prossegue, “estamos a criar crianças muito dependentes, que irão sofrer muito quando precisam de enfrentar as dificuldades inerentes à vida, por não terem ninguém que as resolva”.
 
Neste sentido e, partindo do princípio de que os pais também não sabem tudo e que estão “ carregados” de boas intenções, torna-se imperioso que estes progenitores recebam orientações de especialistas para que possam aprender a libertar os filhos da melhor maneira. É de sublinhar que, um bom psicólogo pode ajudar toda a família nesse importante processo de autonomização.
 
Fátima Fernandes