Comportamentos

Pessoas que dizem amar o parceiro/a, mas que o/a tratam mal

 
É no mínimo estranho que uma pessoa ame e que trate mal quem está ao seu lado, no entanto, a situação não é assim tão invulgar.

Segundo os cientistas, cerca de 17% dos casais confronta-se com esta forma de masoquismo: querer estar ao lado do outro, mas fazer de tudo para afastá-lo, dizer que se ama o outro, mas apresentar reações destrutivas, querer manter uma relação duradoura, mas colocar o outro sempre “a prazo” na sua vida.
 
Tal acontece devido a muitos fatores, sendo os mais comuns, uma infância dolorosa, a convivência com um estilo de apego evitativo, a perda de uma pessoa significativa, bem como a falta de um apoio especializado que permita melhorar a situação traumática.
 
Segundo os especialistas, uma criança que é educada e criada numa família disfuncional, onde não há a construção de um vínculo afetivo, onde os sentimentos não são incluídos, onde se vivem cenários de violência física, psicológica ou intelectual, forçosamente terá muitos problemas na idade adulta e nas relações que vai estabelecer com os demais.
 
Todos sabem o quanto é importante educar e preparar um filho para o mundo, mas nesse processo têm de estar incluídos vários aspetos como sendo o afeto, o diálogo, a compreensão e o respeito. Quando tal não existe, as consequências são desastrosas.
 
Acaba-se por se desenvolver pessoas frias e calculistas, pessoas que não têm qualquer problema em ferir o outro, pessoas que não se conseguem colocar no lugar das demais, sem esquecer que, em muitos casos, se tornam indivíduos violentos e rudes.
 
Naturalmente que a pessoa não escolheu ser assim e que é uma consequência do seu percurso, mas é preciso motivá-la para que peça apoio psicológico e, em muitos casos, psiquiátrico, para que possa encontrar uma forma de vida mais gratificante.
 
Para além dos problemas que acarretam para si mesmas, estas pessoas fazem desencadear muito sofrimento naqueles que estão ao seu redor, na medida em que querem amar, querem dar atenção, carinho e conforto, mas as marcas do seu passado não permitem que se entreguem, que desfrutem de bons momentos e que amem em liberdade.
 
Estas pessoas estão sempre com medo de voltarem a ser feridas, enganadas, traídas ou trocadas por outras, facto que as levam a muitas complicações até do foro psicológico.
 
Passam-se por pessoas fortes como forma de esconderem a sua fragilidade, apresentam-se de forma agressiva também para mascarar uma essência complexa, escondem o que pensam e o que sentem porque assim conseguem proteger-se melhor e, ao mesmo tempo, não mostrarem ao outro o seu passado.
 
Uma das maiores dificuldades em ajudar estas pessoas é o facto de esconderem muito bem o que sentem e o que pensam, omitirem os seus sentimentos, falarem pouco de si mesmas e não permitirem que os outros lhes façam determinadas perguntas. Muitas vezes, mostram-se ofendidas com o parceiro quando este as confronta com algo e, não muito raramente, terminam a relação sem uma justificação, só porque se sentiram “invadidas” emocionalmente.
 
Se é verdade que devemos compreender a realidade destas pessoas e tentar ajudá-las, também o é assumir que, em muitos casos se torna numa tarefa árdua, longa e difícil porque a pessoa não colabora.
 
Tentar adivinhar o que se passa é algo de muito difícil, pelo que, quem vive um conjunto de situações traumáticas deve assumir esse facto e aceitar o apoio de quem está ao seu lado, pois só dessa forma poderá alcançar o que pretende: viver uma relação saudável e significativa.
 
A quem se casa com uma pessoa marcada pelo passado pede-se muita paciência e compreensão, mas a consciência de que, os problemas de saúde mental devem ser tratados por um profissional, sob pena de todos entrarem por um caminho muito doloroso e nem sempre com os melhores resultados.
 
É comum que, em algum momento, estas pessoas desabafem algo acerca do seu passado e que isso seja o ponto de partida para poderem ser apoiadas.
 
É importante que todos saibam que não é normal estar com uma pessoa que nos rejeita e que, ao mesmo tempo, diz que nos ama, muito menos é saudável viver com alguém que faz de tudo para nos afastar, mas que diz que quer estar connosco, uma pessoa que diz que nos ama e que nos agride de alguma forma e daí por diante, pelo que, se a pessoa não aceitar ser tratada, é muito natural que tenha de procurar um outro alguém com quem dividir os seus traumas, pois ninguém merece ser tratado assim, alertam os especialistas.
 
Também é fundamental que, a pessoa que passou por esses traumas saiba que, o seu parceiro não estará ali infinitamente, que não lhe dará todas as desculpas do mundo para as suas atitudes e comportamentos negativos, já que isso lhe dará força para pedir ajuda. Se uma pessoa sabe que terá o apoio incondicional do outro, naturalmente que não precisará de mudar nada na sua postura, pelo que, esse “abanão” também é muito importante para que algo se modifique, concluem os mesmos entendidos.
 
Fátima Fernandes