Comportamentos

Por que razão as pessoas andam mais irritadas e agressivas?

 
Cada vez se ouve dizer mais que, as pessoas andam muito irritadas, agressivas e com muitas expressões de raiva, pelo que é interessante saber o que se passa.

Na posição dos psicólogos entendidos nesta matéria, a raiva esconde sempre uma dor que não se expressa por medo ou vergonha. Ao mesmo tempo, esta emoção representa uma forma de proteção quando nos sentimos ameaçados e tentamos esconder algo que nos fere muito.
 
Neste sentido, uma pessoa que explode com relativa facilidade, que não tem paciência para nada ou que desencadeia uma discussão por muito pouco, é alguém que se sente muito ferido, muito amargurado com a vida e que não encontrou outra forma de expressar tais sentimentos.
 
O leitor sai de casa de manhã, chega ao trabalho e escorrega no piso molhado. A primeira reação é ficar revoltado contra si mesmo por se ter magoado e por ter passado por essa situação desconfortável, mas como não quer assumir esse sentimento, vai acabar por mostrar o seu mau humor com um colega ou com o chefe que o chamou a atenção por algum motivo.
 
Quer isto dizer que, raramente transformamos as nossas emoções negativas em positivas porque se tornou mais fácil e habitual descarregar sobre os outros.
 
Uma criança que cresceu e se desenvolveu num ambiente hostil, tenderá a ser um adulto agressivo porque é muita a dor que sente dentro de si e, ao não ter transformado essas emoções acumuladas, acaba por reproduzir nos outros esse mal-estar que vivenciou e que se arrasta há anos.
 
Esta é uma explicação para que existam tantas pessoas irritadas e agressivas, sem paciência para nada: não se aprendeu a ir ao fundo da nossa dor e tentar compreender aquilo que nos magoa para lhe podermos dar um novo sentido. Como consequência, vamos transferindo essa raiva de uma situação para outra, de uma pessoa para outra. Tornamo-nos más pessoas, poucos gostam de conviver connosco, mas não conseguimos saber porquê.
 
De acordo com os técnicos da psicologia, é fundamental fazer um exercício diário de encontro pessoal para que consigamos compreender o que se passa dentro de nós. Temos de compreender e assumir que tivemos um percurso difícil, que temos dificuldades no nosso dia a dia, que acreditamos que a vida seria mais fácil e daí por diante, para que nos possamos encontrar no nosso mundo e percurso atual, pois caso contrário, vamos desgastar-nos muito e prejudicar a nossa relação com os outros.
 
A pessoa que assume que teve uma infância dolorosa, mas que quer sair desse sofrimento, pede ajuda psicológica e tenta enfrentar a vida noutros moldes. O mesmo se passa com alguém que é vítima de maus-tratos e que se apercebeu que não merece passar por isso. Tem de pedir ajuda, tal como a pessoa que tem dificuldades monetárias e que não consegue gerir melhor o seu dinheiro…
 
Não há outra solução para sairmos do sofrimento senão enfrentá-lo e dizer a nós próprios que queremos mudar de vida, pois a irritabilidade, a raiva e a agressividade é, como já referimos, um reflexo do que se passa dentro de nós. É essa dor imensa que sentimos que faz com que descarreguemos tudo sobre aqueles que vivem ao nosso lado, que trabalham connosco e com quem poderíamos manter relações pacíficas, se não estivéssemos em sofrimento.
 
Temos de ir ao fundo dessa dor para a podermos tratar, por isso, não hesite em pedir apoio psicológico.
 
Ao mesmo tempo, os entendidos lembram que, a raiva é muito mais fácil de manifestar do que a dor, já que funciona como uma proteção do nosso “eu”. Assim, ao manifestarmos essa agressividade, ninguém nos vai perguntar o que se passa, porque pensa logo que estamos muito zangados com algo, pelo que é melhor não nos dizerem nada. No fundo, qualquer um de nós gostaria de receber atenção e carinho, mas ao apresentarmos a raiva, evitamos ainda mais que tal aconteça. Mostramo-nos fortes e poderosos, intocáveis, quando na realidade, estamos carentes e frágeis.
 
Uma pessoa está com uma dor imensa, em sofrimento e “escuda-se” na irritabilidade para evitar falar no assunto ou para o assumir. Se, em algum momento, lhe perguntarmos se está triste ou chateada com algo, é muito natural que a mesma se acalme e que deixe de expressar essa fúria, pois tocamos-lhe na ferida.
 
Na realidade, andamos todos muito irritados porque temos muita falta de atenção, de carinho e compreensão numa sociedade que só nos exige e que dá muito pouco em troca. No fundo, todos precisamos de afeto e estamos cada vez mais afastados dele, por isso, armadilhamo-nos com todas as defesas que temos ao nosso dispor e… andamos em estado de fúria por todo o lado. Precisamos de aprender a olhar mais e melhor para nós e a pedir ajuda quando dela necessitamos. Precisamos de nos permitir ser frágeis para que possamos ter mais forças para enfrentar a vida, as pessoas e as situações, precisamos de nos tratar mais carinhosamente para que vivamos mais felizes e confiantes. Comece já hoje, amigo leitor!
 
Fátima Fernandes