Curiosidades

Por que razão há pessoas que alimentam a ignorância?

 
No mundo atual, vivemos duas situações distintas: por um lado, as pessoas que ‘devoram’ informação e, por outro, aquelas que evitam saber o que se passa e que literalmente fogem do conhecimento.

Na tentativa de explicar este fenómeno, têm sido muitos os estudos levados a cabo, uma vez que, na posição dos entendidos, parece não fazer muito sentido que, num tempo em que a informação nos é tão acessível nos diversos canais, que existam pessoas que se coloquem num “mundo à parte”.
 
Para a psicologia, o fenómeno de quem não quer aprender, designa-se por “ignorância motivada”. De um modo geral, estas pessoas não querem saber de eventos específicos, como por exemplo, estar doente e não querer ir ao médico na tentativa de procurar saber o que se passa, porque temem saber qual é a causa desse mal-estar ou desconforto, mas também sucede com situações do quotidiano em que lhes é mais fácil passar ao lado do conhecimento para evitar cenários de ansiedade.
 
Ainda segundo a psicologia, as pessoas que optam por se manterem na ignorância, lutam a todo o custo por preservarem as suas crenças e por não as colocarem em causa, pois afinal, saber mais abre-nos horizontes e faz com que mudemos de opinião em relação a diversos assuntos.
 
A pouca informação a que estas pessoas têm acesso é sempre condizente com aquilo que defendem e em que acreditam, pelo que se afastam do conhecimento científico que lhes poderia ajudar a explicar os fenómenos.
 
Por norma, estas pessoas colocam-se, por exemplo, no plano dos negacionistas das mudanças climáticas e demais áreas como forma de evitarem procurar outro tipo de informação mais alargada, credível e científica que possa colocar em causa aquilo que defendem.
 
Segundo os especialistas nesta matéria,, há pessoas que permanecem na ignorância porque assumem um desejo expresso de não se informarem sobre as situações e, ao mesmo tempo, também são conhecidas cada vez mais pessoas que procuram informação pouco credível e que se afasta da científica, para que se sintam informadas sem que coloquem em causa aquilo em que acreditam. Basicamente, suportam-se do tipo de informação que vai ao encontro do que querem ler e não da vontade de aprender mais e algo novo.
 
Ainda na posição de muitos estudiosos na área da psicologia, «o propósito de alguém não querer descobrir algo que não se encaixa na sua ideologia é evitar a dissonância cognitiva (desconforto que surge quando dois pensamentos se contradizem)». Quando procuramos informação acerca de algum tema em concreto, na maioria das vezes, confrontamo-nos com uma abordagem distinta daquela que possuímos, pelo que, para estas pessoas, se torna mais fácil ler apenas aquilo que melhor se encaixa no que defendem, mesmo que se afaste do credível.
 
É também um facto que, segundo os estudos, são muitas as pessoas que lutam diariamente para se manterem informadas e que, naturalmente, procuram recorrer sempre a fontes credíveis para que se sintam a aprender mais e a colocar em causa aquilo que defendiam. Estas pessoas sentem-se cada vez mais despertas para o mundo e para o conhecimento e apresentam uma visão mais alargada dos outros e de si mesmas.
 
Na posição dos psicólogos, «permanecer na ignorância ou  informar-nos, depende de três fatores:
• Em primeiro lugar, as pessoas procuram ou não determinadas informações partindo da base de que as mesmas vão afetar-lhes as emoções. A forma como se vão sentir determina se procuram a informação e a que tipo de conteúdos recorrem. É aqui que entra o plano emocional e também o motivacional. Isso interessa-me? Será que vou ficar incomodado com o que encontrar? Isso vai fazer-me sentir mal?
• O segundo aspeto é a utilidade. Escolher entre permanecer na ignorância ou informar-nos sobre um tópico específico parte do facto de acharmos que essa informação será útil ou não. Por exemplo, em relação às vacinas: as pessoas que não acreditam na sua eficácia não vão ter um motivo para ler relatórios científicos sobre o assunto. “Se não me quero vacinar e se não vou vacinar os meus filhos, qual é a razão de ter de ler um relatório ou informar-me sobre o assunto?”
• O último ponto está relacionado com o facto de a informação encontrada estar em sintonia com a própria perspetiva. Aqui novamente aparece a necessidade de fornecer dados que estejam em conformidade com as crenças de cada um, afim de evitar as incómodas dissonâncias cognitivas.
 
Na mesma sequência de explicações para este fenómeno, temos o facto de cada pessoa querer viver a sua realidade, apesar de existir muita diversidade informativa ao dispor de todos quantos queiram saber mais.
 
Para os investigadores George Loewenstein, Russell Goldman e David Hagmann da  Universidade Carnegie Mellon, que publicaram um trabalho em 2017, existem outros pontos também a ter em conta:
• Muitas pessoas evitam aprender sobre coisas que lhes podem ameaçar a estabilidade da realidade autoconstruída que possuem. Temos como exemplo as pessoas que comem tudo o que lhes apetece sem a menor preocupação com os danos que isso lhes pode provocar. Passam completamente ao lado dos alertas das autoridades de saúde e seguem o seu caminho. Além disso, estas  pessoas só escolhem fontes de notícias alinhadas com as próprias ideologias políticas.
 
Para concluir, os psicólogos explicam que, permanecer na ignorância ou informar-nos sobre as coisas tem muito a ver com a nossa personalidade. Existem mentes inflexíveis que não toleram ser contrariadas ou alterar a realidade autoconstruída que possuem, em que tudo é como desejam.
 
Por outro lado e felizmente, existem muitas pessoas que não têm medo de descobrir informações inovadoras, que sabem que aprender sobre as coisas e ler o máximo possível de fontes credíveis lhes amplia as perspetivas e permite uma tomada de decisão muito melhor. A cada pessoa cabe a decisão. Este apontamento só tem o propósito de ilustrar a realidade para que, efetivamente, se torne um leitor melhor informado!
 
Fátima Fernandes