Comportamentos

Preocupa-se demasiado com a opinião dos outros? Estas dicas podem ajudá-lo/a

 
O medo da opinião dos outros é algo que parece natural, mas em casos extremos, pode condicionar a vida de quem padece deste problema. Há pessoas que se isolam no seu mundo, que declinam convites para momentos sociais porque simplesmente não conseguem viver com a opinião dos outros e com o medo da crítica.

Se a maior percentagem de pessoas que assumem este medo se situa entre os jovens (entre os 16 e os 24 anos), a realidade mostra-nos que este problema afeta pessoas de todas as idades e dos mais variados grupos sociais.
 
Segundo Patrícia Renaldo da Silva Amaral, psicóloga clínica e psicopedagoga, trata-se de alodoxafobia, uma palavra com origem no grego “állis” que significa “outro” ou “diferente”, “dóxis” que significa “crença” e “fobia” que significa “medo patológico”, «o que explica o conceito da patologia: medo dos pensamentos dos outros sobre si, sempre com a sensação de julgamento».
 
Para a mesma psicóloga, trata-se do medo de se expressar acompanhado pela sensação de exposição e, ao mesmo tempo, de ser julgado pelos outros de forma crítica e negativa, evidenciando que se resume ao medo da opinião ou respostas das outras pessoas sobre si.
 
Perante esta descrição surge a questão: porque razão o ser humano se preocupa tanto com a opinião dos outros? Segundo a mesma psicóloga, tal acontece desde a infância, altura em que estamos sujeitos à opinião dos nossos pais, professores, colegas e amigos, pelo que crescemos com a sensação de que as outras pessoas têm um forte impacto naquilo que somos e fazemos.
 
«Muitas vezes somos rotulados e acreditamos no que ouvimos, pois habituamo-nos a precisar da aprovação dos outros para tudo», sublinha a mesma especialista.
 
Desde a tenra idade que acreditamos naquilo que dizem a nosso respeito, seja positivo ou negativo, pelo que, aquilo que as pessoas mais importantes e próximas de nós dizem, acaba por constituir crenças a nosso respeito, pelo que, quando chegamos à idade adulta, já reunimos a noção de que o que os outros dizem é importante para o nosso desempenho e, ao mesmo tempo, já acreditamos numa série de opiniões que os outros têm a nosso respeito.
 
É esse conjunto de crenças que transportamos para as mais variadas situações e relações que vivemos, sublinhou.
 
Patrícia Amaral chama a atenção para o facto de projetarmos pensamentos distorcidos sobre o que se imagina que o outro pensa sobre nós, ou ainda críticas ao outro que na verdade são sobre si mesmo (de forma subconsciente). Neste sentido, «as pessoas que funcionam dessa forma tendem a potencializar medos fantasiosos de possíveis julgamentos sobre si mesmas por meio de pensamentos distorcidos», comenta a psicóloga.
 
Segundo a mesma especialista, estes indivíduos consideram-se o centro das atenções, mas de forma negativa, pois acreditam que os outros estão sempre a olhar para si e a criticá-los.
 
Neste ponto, Patrícia Amaral acrescenta que,  «muitas vezes, para os outros, essa pessoa pode simplesmente parecer ser tímida e, por isso, não gosta de se expressar ou de dar a sua opinião numa  conversa. Mas nem imaginam que dezenas de pensamentos distorcidos estão a passar pela sua cabeça naquele momento, impedindo-a de se comunicar de forma livre e espontânea».
 
Refere a mesma especialista que, este transtorno psicológico impede a pessoa de realizar as suas atividades diárias, de se comunicar ou de conviver em sociedade. Pode estar associado a crises de ansiedade e de pânico e a sintomas somáticos como sudorese, taquicardia, tonturas, dores de cabeça, enjoos, tremores e sensação de fraqueza, completou.
 
Alguém diagnosticado com alodoxafobia sofre com o medo de se expor, até para apresentar um trabalho profissional, mesmo que seja muito importante. Para Patrícia Amaral, «aqui podemos exemplificar a distorção de pensamentos que potencializam a sensação de julgamento alheio». Ao apresentar uma palestra ou um trabalho relevante, considera-se que o candidato se tenha preparado para explanar sobre o assunto escolhido. Sendo assim, as pessoas  estão à espera para ouvi-lo e estão interessadas em agregar conhecimentos. Portanto, essa pessoa que vai falar estará a mostrar-se ou a expor-se? A resposta correta é  a mostrar-se (centro das atenções de forma positiva), pois preparou-se para isso. E, neste ponto, a mesma psicóloga alerta o leitor: se pensou que a resposta seria expor-se (centro das atenções de forma negativa), provavelmente teve uma distorção de pensamentos devido a uma projeção crítica sobre si mesmo, pois imagina o risco de ser julgado pelos outros, quando na verdade se está a julgar a si mesmo.
 
A psicóloga Patrícia Renaldo da Silva Amaral adianta ainda que, o tratamento indispensável é uma boa psicoterapia, seja individual ou em grupo, com acompanhamento semanal. «A opção pela psicoterapia grupal é ótima para trabalhar os medos, as fantasias e as distorções de pensamentos sociais sobre si mesmo. Também pode haver a necessidade de acompanhamento psiquiátrico, caso os sintomas fisiológicos estejam muito latentes». Há casos que requerem tratamentos paliativos, e outros, medicações adequadas, como nos casos de transtornos associados a crises de ansiedade ou pânico, finaliza a psicóloga.
 
Dicas que podem ajudar a conviver melhor com esta realidade:
 
Lembre-se de que não conseguirá agradar toda a gente nem ao mesmo tempo.
 
Observe quais os pensamentos que são reais e quais as fantasias.
 
Tenha em mente que ninguém tem controle sobre o que os outros pensam.
 
Não deixe que o outro o desestabilize.
 
Não acomode os seus pensamentos,
 
Não considere a opinião alheia como uma verdade inquestionável.
 
Crie as suas referencias e construa a sua personalidade baseada tanto nas opiniões dos outros como nas suas conclusões.
 
Saiba que há momentos onde fazer algo que não foi pensado por ninguém pode ser a sua grande oportunidade de sucesso.
 
Não confunda elegância com tentativa de agradar a todos.
 
A pessoa elegante faz o que considera correto independentemente do que o outro pensa. Caso receba uma crítica entenda que isto faz parte de conviver em sociedade, entenda que alguém pode não gostar de algo que vestiu, disse ou fez mas poderá continuar a gostar de si como pessoa.
 
Aprenda a ouvir criticas de forma a usar o que vale a pena e desprezar o que não vale.
 
Como já foi referido acima, um bom psicólogo pode facilitar o processo e ajudá-lo a viver com mais segurança, liberdade e autoestima.
 
Fátima Fernandes