Curiosidades

Procura o par perfeito? Este artigo é para si!

 
Muito mais comum do que aquilo que se possa pensar, a perfeição num relacionamento continua a ser uma realidade quer nos mais jovens, quer nos mais maduros.

É uma posição idealista, que implica um grau significativo de intolerância e falta de recursos emocionais para lidar com a diferença, a contradição e o conflito, pelo que se torna mais fácil procurar alguém com o máximo de características em comum. A prova disso é a constante procura por pessoas compatíveis em sítios de especialidade na Internet, sem esquecer os “métodos tradicionais” de encontros que visam a procura do par ideal por referências de familiares e amigos.
 
Se por um lado o encontro do par ideal é o desejo de muitas pessoas, por outro essa é também uma grande fonte de frustração e de conflitos no seio de um casal, pois, como todos sabemos, a perfeição não existe e, sendo algo idealizado, será sempre alvo de muita mágoa e desilusão quando se percebe que, afinal o outro não corresponde ao que se pretendia inicialmente.
 
Na posição dos especialistas, o que parece ser o caminho mais fácil acaba por se tornar no mais difícil e sinuoso, já que se perde a noção da realidade e a consciência de que o ser humano é por si só, imperfeito. «Não somos máquinas, nem nos conseguimos aproximar da perfeição», sustentam muitos entendidos alertando para o perigo dessa forma de nos posicionarmos num relacionamento.
 
Segundo os entendidos, deu-se tanta importância ao perfecionismo numa relação que, muitas pessoas nem sequer aceitam a ideia de não estarem ao lado de alguém que as complete dessa forma. No fundo, perdeu-se, ou ainda não se encontrou a realidade: o ser humano é todo ele imperfeito, contraditório e incoerente. Nenhum de nós é capaz de ser sempre coerente, muito menos agir sempre como gostaria. Todos falhamos, todos erramos, todos corrigimos e evoluímos, pelo que, o que se pode e deve procurar no outro é o conjunto de características comuns e aquelas que melhor se encaixam connosco.
 
Se pensarmos bem, uma relação não faria qualquer sentido com alguém que pensasse e agisse da mesma forma que nós. É através da diferença que nos descobrimos, que crescemos, que pensamos também de outra forma e encontramos novas abordagens e aprendizagens.
 
Na posição dos entendidos nesta matéria, as pessoas que procuram o par perfeito são egocêntricas e muito frágeis no que se refere à gestão emocional. São muito imaturas, como que crianças em corpo de adultos e desejam que a realidade se curve aos seus desejos.  É por isso que chamam “perfeito” àquilo que corresponde às suas expectativas e de “imperfeito” ao que não corresponde aos seus anseios. Saem da realidade com relativa facilidade e acabam por viver numa profunda ilusão.
 
Para se compreender mais a fundo este ponto, devemos reter que, devido à sua imaturidade, a criança não consegue entender totalmente que existe um mundo inteiro além dela mesma. Que existe a alteridade, ou seja, “o outro”, “o diferente” e que este é tão respeitável como o próprio. Jean Piaget, nos seus estudos sobre o desenvolvimento moral, argumentou que o amadurecimento intelectual e emocional se completava exatamente quando isso era compreendido.
 
Essa descoberta de que não somos perfeitos e de que nem os outros devem ser implica a renúncia ao ideal de plenitude ou felicidade eterna, comum no final dos contos de fadas. Nunca se vive feliz para sempre, e isso é saudável. É através das contrariedades e desafios que evoluímos e crescemos.
 
No caso dos adultos, há quem afirme que, as pessoas que procuram o amor perfeito não amadureceram e continuam a ser eternas crianças, pois continuam a acreditar que o mundo gira em torno de si.
 
Mas, o que procuram estas pessoas na realidade? Na posição dos especialistas, procuram encontrar alguém que tenha todos os atributos necessários para que não existam geradas contradições ou frustrações e, basicamente, não faça nada para além de lhes oferecer felicidade. É por essa razão que, as pessoas que procuram o par perfeito andam sempre frustradas e amarguradas com a vida, já que, por muito que se esforcem, nunca conseguem encontrar a tal sintonia perfeita que idealizam. É por essa razão que falam mal do parceiro a terceiros, que andam ansiosas e com mal-estar, mas o problema não reside no exterior, mas sim dentro delas próprias. Estas pessoas é que precisam de aprender a lidar com a diferença, não ser o outro a ter de lhes fazer todas as vontades.
 
Em suma, vivermos no mundo dos ideais só nos conduz à frustração. O amor num relacionamento, como qualquer outra forma de amor, torna-se uma realidade maravilhosa exatamente quando amamos e somos amados apesar das imperfeições. É nisso que reside a magia, o desejo e a vontade de continuar a contruir algo em conjunto.
 
Quem acredita no par perfeito pode muito bem acabar sozinho por não conseguir encontrar alguém com as características que procura, ou simplesmente terá de aceitar que a vida é exatamente assim e aprender a retirar prazer da diferença, pois afinal, «duas mentes iguais não partilham a mesma almofada», e aqui pode-se acrescentar ao ditado popular que, duas mentes iguais não existem, pelo que temos de aprender a descodificar o outro e a mostrar-nos diariamente também.
 
Como já temos defendido amplamente noutros artigos, o diálogo é sempre o melhor suporte para conhecer o outro e para se dar a conhecer também. Acredite que a compatibilidade existe, o que não existe é a perfeição entre duas pessoas!
 
Fátima Fernandes