Família

Qual é a verdadeira função dos pais?

 
Os pais são o primeiro contacto da criança com o mundo e, é através deles que nos desenvolvemos e delineamos as relações ao longo da vida.

Consoante a melhor ou a pior relação que conseguimos estabelecer com as nossas principais figuras de autoridade, assim será vincado o nosso comportamento e expressão no mundo, no entanto, os entendidos alertam que, com apoio, é sempre possível alterar aquilo que correu menos bem.
 
É aos pais que cabe a responsabilidade de ensinar, de acarinhar e de permitir que o filho se desenvolva da forma mais adequada, mas quando tal não acontece, naturalmente a criança vai procurar esse apoio noutras pessoas, seja da mesma família, seja nos amigos, outros familiares ou um professor, por exemplo.
 
Em resumo, cabe aos pais cumprirem estas exigências para que consigam desenvolver uma relação segura e de confiança com os filhos:
 
• Empatia: consiste em entender a criança e colocar-se no lugar dela. É muito importante que um filho se sinta visto e analisado pelos pais.
 
• Sensibilidade: refere-se a interpretar adequadamente o que a criança precisa. Os pais devem conseguir perceber o que se passa com a criança: se tem fome, sede, sono ou frio, se tem um comportamento diferente porque algo se está a passar consigo, se está doente ou se algo lhe aconteceu quando os progenitores não estavam presentes. Este ponto é fundamental para que pais e filhos confiem uns nos outros e para que se desenvolva uma base de apego segura.
 
• Responsividade: é a capacidade de responder adequadamente às suas necessidades, sem exagerar ou negligenciar.
 
• Disponibilidade: trata-se de dar a segurança de que os pais vão estar presentes física e emocionalmente quando a criança precisar.
 
• Validação emocional: é a capacidade de apoiar emocionalmente a criança e, quando necessário, gerir certas sanções. Claro, os extremos são patológicos.
 
Na posição dos especialistas nesta matéria, a forma como nos relacionamos com os nossos pais ou figuras de autoridade, vai determinar a qualidade das relações futuras, logo «torna-se fundamental que os adultos se envolvam e dediquem à construção de um vínculo saudável, pois até a forma como os mais novos vão expandir-se e descobrir o mundo, está ligada ao modelo da infância», sublinham.
 
Uma criança que vive apavorada, que não se sente segura e que sente que não pode contar com os pais, acaba por desmotivar-se, por não explorar o mundo, as relações e as pessoas à sua volta. Vive assustada e não consegue reunir forças para se movimentar corretamente.
 
Ao mesmo tempo, os pais devem transmitir aos filhos que são um lugar seguro para que os mesmos possam explorar o mundo com confiança,, sabendo que podem sempre voltar atrás e que têm a quem recorrer quando se sentem em perigo.
 
Os pais têm de mostrar esse apoio, sob pena de os filhos recorrerem a outras pessoas na procura desse equilíbrio, alertam os entendidos. Quando os pais são figuras ameaçadoras e não ajudam os filhos a regularem-se, naturalmente que os mais novos vão procurar estratégias que os confortem.
 
Quando uma criança descobre que a mãe ou o pai não são figuras protetoras seguras, vai sentir uma profunda necessidade de criar mecanismos alternativos de regulação emocional. Por exemplo: outras pessoas, bens materiais ou atividades que a ajudam a regular-se, acabando por desviar-se daquele que deveria ser o centro e a sua base numa determinada fase de vida.
 
Mediante a interação que teve com os seus cuidadores, a criança desenvolve uma série de modelos internos de funcionamento (Bowlby, 1995) que contêm as memórias, crenças, objetivos e estratégias criadas com base em experiências passadas (Botella, 2005).
 
De acordo com os mesmos especialistas, esses modelos serão a base sobre a qual a criança construirá a casa na qual viverá o resto da sua vida, tanto na adolescência como na idade adulta. Se a estrutura for frágil, é natural que essa pessoa viva muita instabilidade, medos, inseguranças e que possa “cair” a qualquer momento porque lhe faltam habilidades importantes para que arrisque e procure alternativas ao que está a viver e a sentir.
 
Por outro lado, quando a criança percebe que o pai segue uma linha de orientação e a mãe opta por outra completamente distinta, desenvolve também modelos distintos de relação com estes dois adultos podendo, por exemplo dar-se bem com o pai e sentir medo da mãe e vice-versa.
 
Por fim, é importante reter que, mesmo que uma pessoa tenha passado por uma infância difícil, que tenha sentido a falta de apego de um dos pais ou de ambos, que tenha sido obrigada a seguir um determinado percurso em função do que recebeu, pode sempre alterar o rumo da sua vida porque «os modelos internos não são rígidos e inflexíveis, pelo que podem ser modificados com base nas figuras de apego que encontramos ao longo da vida», sublinham os especialistas na área da psicologia.
 
Uma pessoa que encontre um parceiro afetivo, que não se limite  a seguir  os modelos familiares e a herança da infância, pode sempre inverter  a sua realidade e desenvolver uma relação positiva com alguém, mas para isso, terá de querer, de seguir uma terapia adequada, conhecer-se e desenvolver habilidades à altura dessa mudança, explicam os entendidos.
 
É um facto que, a mudança pode causar conflitos internos e também na forma como nos relacionamos com algumas pessoas, pois se está a ocorrer uma transformação profunda, é natural que não aceitemos o que já vivemos no passado, mas é preciso persistir e lutar por algo em que se acredita e quer muito, sob pena de não conseguirmos alterar e minimizar a dor. Muitas crenças vão ser modificadas e dar lugar a outras formas de pensar, vão ser desenvolvidas novas estratégias e, aos poucos, vamos desenvolver novos modelos de funcionamento mais adequados ao novo estilo de vida que ambicionamos, resumem os especialistas.
 
O essencial é que a pessoa perceba que não terá de passar por esse processo sozinha, que pode contar com a ajuda de um profissional habilitado e a importância de mudar algo que lhe pode determinar completamente o rumo de vida.
 
Por outro lado, sabendo da relevância da função dos pais, é fundamental que os adultos programem a sua vida familiar e que avaliem se, efetivamente estão preparados para assumir a parentalidade, pois trata-se de uma decisão exigente e para a vida, logo não pode ser encarada de forma leviana e sem um planeamento.
 
Fátima Fernandes