Família

Quando um filho nos diz: “odeio-te!”

 
Até que ponto um filho pode odiar o pai ou a mãe?

Na posição de muitos entendidos, é muito difícil um filho odiar o pai ou a mãe, mesmo em cenários em que os pais não são brilhantes. No entanto, o conveniente é tentar averiguar as razões pelas quais a criança ou jovem nos diz isso.
 
Na posição dos mesmos especialistas, é preciso anotar que, é muito fácil que uma criança diga algo de depreciativo em relação aos pais ou quaisquer outras situações que lhe provocam frustração. A dificuldade em saber lidar com algo que a desagrada leva a criança a dizer tudo o que lhe passa pela cabeça e que, muitas vezes, é uma reprodução daquilo que ouve seja em casa, seja na TV ou demais equipamentos que utiliza.
 
Até aos 8 anos de idade, é pouco provável que uma criança diga aos pais que os odeia e que isso tenha alguma base de verdade. Nessa faixa etária, é muito difícil para os mais novos lidarem com pensamentos e sentimentos negativos, pelo que “desbaratam” de qualquer maneira. No entanto, é fundamental que os pais tenham uma atitude.
 
Em vez de os adultos começarem a discutir com a criança sobre o que lhes disse, é recomendado que se sentem com ela, que conversem e que procurem saber qual o motivo que a levou a dizer isso aos pais.
 
É fundamental que os pais a ouçam atenciosamente e que evitem “explodir”, pois como dizem os especialistas, é pouco provável que a criança saiba distinguir o ódio de outras emoções, pelo que, não o diz em conformidade com o que sente em relação aos pais, mas sim em função do que sente face a algo que estes lhe impediram de fazer ou de dizer. É essa frustração de se ver limitada daquilo que queria que a leva a dizer algo de tão assustador e terrível para os pais.
 
Além do “odeio-te”, também existem outras formas muito negativas de expressão de uma raiva enorme que uma criança sente quando tem de lidar com a frustração de ficar de castigo, de ser impedida de jogar videojogos ou qualquer outra situação que lhe desagrade muito.
 
Os pais devem procurar entender que essas expressões negativas são uma reação a essa frustração, ainda assim, como já referimos, devem conversar com a criança, ouvi-la e, no final, mostrar-lhe que essa atitude os deixou tristes para que a criança aprenda a medir as consequências daquilo que diz e que faz.
 
Quando nos referimos a crianças com mais de 8 anos de idade, e adolescentes, a expressão “odeio-te” assume um significado muito mais alargado e representativo. Na posição dos mesmos entendidos, quando este grupo de crianças e jovens diz que odeia os pais, tem como intenção mostrar-lhes que está muito desagradado  com algo que tem vindo a acontecer de muito negativo na relação. Em muitos casos, surgem os cenários de maus-tratos, de todo e qualquer tipo de violência, comportamentos de pais muito autoritários e que não lhes dão margem de manobra para dizerem o que sentem, pelo que, aproveitam essa fase de maior rebeldia para dizerem exatamente o que sentem pelos pais e pelas suas atitudes.
 
Segundo os especialistas, é importante que se tenha em conta a idade e a relação que se estabelece com os filhos quando se ouve um “odeio-te”, até porque é pouco provável que pais carinhosos, disciplinados, compreensivos, bons ouvintes e dialogantes, ouçam esse tipo de expressão tão negativa dos filhos, mas se tal acontecer, sabem muito bem como abordar o assunto e esclarecê-lo.
 
Os entendidos nesta matéria apresentam algumas orientações para os pais que não sabem como reagir a esse tipo de expressões destrutivas dos filhos:
 
● Não responda de forma agressiva para evitar entrar numa discussão desnecessária com o  seu filho. O confronto, nestes casos, não o levará a lugar algum.
 
● Analise o que aconteceu para conseguir identificar os sentimentos do seu filho e para ajudá-lo a reconhecê-los e expressá-los apropriadamente. Para isso, o pai/mãe deve observar o comportamento do filho quando proferiu essas palavras. Avalie se ele estava a chorar, que tipo de emoções expressava, se estava a atirar objetos e se apresentava sinais de revolta e de raiva.
 
● Quando já tiver definido a sua estratégia, fale com o seu filho manifestando empatia e tranquilidade, pelo que deve fazê-lo algum tempo depois do sucedido.
 
● Mostre-lhe o peso das suas palavras e expresse a sua dor para que ele possa entender que não está a fazer o correto e que se sentiu ferido/a com o que ouviu. Isto não significa que tenha que fomentar a culpa no seu filho,  no entanto, deverá mostrar-lhe que está triste com a sua atitude e que o diálogo é uma boa oportunidade para esclarecerem tudo.
 
● Explique ao seu filho a diferença entre raiva e ódio, mostrando-lhe que o ódio é um sentimento muito negativo, ainda que se possa entender que ele esteja aborrecido com o que aconteceu. Clarifique que a palavra ódio não deve ser utilizada para quem se ama e que, mesmo que estejamos chateados, devemos medir muito bem o que dizemos a quem nos é especial. Aproveite para lhe dizer que, devemos tentar esclarecer os conflitos com as pessoas para evitar que tenhamos sentimentos tão negativos e destrutivos por elas.
 
O ideal seria que os pais conseguissem explicar ao filho a importância da inteligência emocional que nos ajuda a transformar esses sentimentos negativos em situações concretas, pelo que, podemos detestar uma situação, mas não a pessoa em si.
 
É também fundamental que os pais nunca digam ao filho que não gostam dele ou que o odeiam, já que o exemplo é muito importante para que se mantenha a relação de respeito e de carinho. Quando  alguém comete um erro, devemos analisá-lo sem culpabilizar ninguém, mas sim tentar perceber o que aconteceu e resolver da melhor forma possível. Com esta base, pais e filhos vão entender-se muito melhor.
 
Por fim, os especialistas reforçam que, é tempo de compreender, ouvir, aceitar e considerar os sentimentos do seu filho, tentando respeitar o que está a sentir e as razões que o levam a estar assim. Não ria do que ele lhe diz, muito menos desvalorize o que está a sentir. Aproveite a oportunidade para esclarecer a razão do castigo e quais os motivos que levam a que o pai ou a mãe lhe retirem algo de que gosta, já que assim será muito mais fácil que a criança ou jovem se envolva no seu próprio processo educativo.
 
É ainda importante que os pais avaliem até que ponto estão a ser demasiado autoritários, pouco dialogantes e capazes de negociar o que é permitido. Os pais devem exigir, impor limites e estabelecer regras, mas procurar explicar aos filhos a sua importância e sentido para que mais facilmente cumpram o que lhes é pedido. Quando o jovem entende as causas mais  facilmente aceita o que lhe é exigido, pelo que é essencial que os pais sejam flexíveis, carinhosos e que demonstrem que estão disponíveis para alterar algo que possa não estar bem.
 
Com estas dicas, estamos certos de que a relação com o seu filho terá muitos mais “adoro-vos!” do que “odeio-vos!”. 
 
Fátima Fernandes