Família

Quatro pilares para ter uma relação saudável

 
Para que um relacionamento saudável se desenvolva e se estabeleça, Soraya Rodrigues Aragão, psicóloga clínica e autora de diversas publicações, elaborou 4 pontos fundamentais para que este funcione, promovendo crescimento e bem estar a ambos os parceiros.

Na posição desta especialista, a maioria das pessoas fantasiam encontrar a pessoa "ideal", a dos seus sonhos, para que juntos possam construir um relacionamento "perfeito". De facto, «relacionamentos perfeitos só nos sonhos, nos contos de fadas ou nas propagandas da família permanentemente feliz», onde não há problemas, nem desafios. «No mundo real, a dinâmica é diferente», sublinha a mesma psicóloga adiantando que, esta crença disfuncional do "par perfeito" pode custar um alto preço, o da frustração e da deceção, «o que leva à insatisfação relacional por conta de expetativas não atendidas». Segundo Soraya Rodrigues Aragão, um dos fatores que sabotam as pessoas nos seus relacionamentos, é a impulsividade em acreditar, num primeiro momento, ter encontrado a pessoa ideal «e pensar que a fase da paixão cega será eterna». No entanto, caso o relacionamento chegue à fase de estabilização, pode existir a crença de que o parceiro já não é o mesmo. Sim, muitas coisas mudam, e uma delas é a perceção realística que agora se pode ter do objeto de desejo, sem a ilusão da paixão, completa a mesma especialista.
 
Para a psicóloga, não existem receitas prontas quando o assunto é relacionamento, «pois não existem pessoas perfeitas», o que dirá relacionamento perfeito, «já que este é constituído a partir de pessoas em constante construção», em permanentes aprendizagens, em devir.
 
O que pode ser construído dentro da possibilidade de uma realidade possível é um relacionamento saudável, que é uma proposta muito mais sensata, assinalou.
 
Para que um relacionamento saudável se desenvolva e se estabeleça, a mesma psicóloga elaborou 4 pontos fundamentais para que este funcione, promovendo crescimento e bem estar a ambos os parceiros:
 
1- Perceber o parceiro como uma pessoa real, com defeitos e virtudes:
 
A idealização do parceiro é uma armadilha. Não é um exercício fácil, mas é imprescindível não cobrar do outro a partir da própria perspetiva imaginária do que deveria ser uma pessoa ideal ou um relacionamento perfeito. Seria muito egoísmo do parceiro pretender que a outra pessoa correspondesse a todas as suas expetativas e desejos. Esta postura não respeita a individualidade nem a subjetividade do outro. Cada pessoa traz os seus modelos de vida, as suas bagagens, a sua maneira particular de ser e estar no mundo. Relacionamentos reais têm diferenças, dificuldades e desafios, mas também experiências de superação, de aprendizagem e de sedimentação. Lembrando que pessoas reais têm defeitos e virtudes; pessoas ideais são somente um produto da imaginação de quem as criam.
 
2- Vão sempre existir incongruências relacionais:
 
Incongruências relacionais sempre existirão, por mais que os parceiros tenham afinidade, metas e objetivos em comum. A "perfeição" de um relacionamento reside na sua sincronicidade, companheirismo, cumplicidade e respeito para com a subjetividade do outro. Um relacionamento "perfeito" é aquele que funciona em harmonia na dinâmica relacional em constante transformação.
 
3- Ter pontos em comum:
 
Pontos em comum e afinidades são importantes para o enraizamento e manutenção do relacionamento. Contudo, reitero «que não existe a alma gêmea, a metade da laranja, alguém que esteja pronto para completar o outro», sendo exatamente nestas diferenças que são promovidas grandes aprendizagens, a partir de um olhar distinto, de uma vivência percetiva subjetivada a partir do olhar do outro.
 
Quando as pessoas estão realmente dispostas a se relacionarem com um outro real, não na perspetiva de uma projeção criada, onde há o reconhecimento de uma individualidade, as pessoas envolvidas enriquecem-se, oportunizando-se a olharem para a vida a partir de um outro parâmetro.
 
4- Aprender a arte do diálogo para a estruturação do companheirismo e da cumplicidade:
 
Um diálogo bem estruturado «é imprescindível para desenvolver o companheirismo, a empatia e a cumplicidade», além de aparar as arestas de uma comunicação que porventura não ficou bem esclarecida ou não foi muito eficaz e consequentemente permitindo que pudessem abrir brechas para que padrões comportamentais destrutivos danifiquem o relacionamento. Podemos hipotetizar o que o outro pensa ou porque age de determinada maneira, mas «somente através de um diálogo sincero e honesto, poderemos perscrutar, discernir e avaliar como cada um se sente diante de determinadas situações para estabelecer acordos que beneficiem a ambos», concluiu.
 
Fátima Fernandes