Família

Quer ajudar o seu filho a escolher uma profissão? Psicóloga dá-lhe uma ajuda

 
O processo de escolha profissional não é uma tarefa simples, quer para o jovem, quer para os pais. É fundamental que os pais consigam ser isentos, manter uma capacidade de diálogo franca e aberta e, acima de tudo que assumam os seus desejos, pois só assim vão conseguir libertar os mais novos para que falem também dos seus. Neste ponto é imperioso que os mais velhos falem dos seus sonhos, mas dando margem de manobra para que os filhos também cultivem os seus.

Muitos estudos levados a cabo nesta área mostram que, os pais continuam a ser o principal suporte dos filhos no momento de escolherem a sua profissão. Seja pela imitação, seja pela influência positiva, seja pelo gosto que se foi cultivando desde cedo, a realidade desses trabalhos mostra-nos que existe uma relação muito forte entre a profissão dos pais e o futuro profissional dos filhos, o que pode constituir um ponto negativo quando não é dada a necessária liberdade de escolha aos mais novos.
 
Muitas vezes , os pais estão tão preocupados em que os filhos lhes sigam as “pegadas” que se esquecem de os ouvir. O plano financeiro também assume particular relevância, uma vez que todos os pais desejam que os filhos estejam bem de vida, mas na realidade, o mais importante de tudo é que os filhos escolham uma profissão com a qual se sintam realizados, que tenham prazer em trabalhar e, a partir daí, seguramente que vão ganhar dinheiro.
 
Segundo a psicóloga Giselle Welter, os pais podem ajudar de forma muito positiva nesse processo de escolha profissional, para tal, deixa dez dicas que procuram melhorar essa tomada de decisão:
 
1) Ajudar e incentivar os filhos a se informarem sobre as profissões atuais e do futuro, pesquisando diferentes ocupações e perspetivas do mercado de trabalho, seja por meio da análise da grelha curricular, ou por meio de atividades em contexto real que permitam explorar o mais possível as aptidões e preferências.
 
Segundo a mesma psicóloga, também é importante incentivar os filhos a visitarem as faculdades de interesse, antes do momento da matrícula. É ainda fundamental registar que, um mesmo curso pode ter várias saídas profissionais, pelo que o jovem deverá contactar também com essa diversidade e escolher da melhor forma.
 
2) Ajudar o jovem a distinguir entre curso e carreira profissional.
 
Na sequência do ponto anterior, é importante sublinhar que um mesmo curso pode dar lugar a profissões diferentes e a uma carreira distinta.
 
Neste sentido, a opção do curso deve ser vista como a base sobre a qual  o jovem irá construir a sua carreira profissional, tanto por meio da experiência profissional (estágios), como por meio de cursos de especialização e pós-graduação, e até outra graduação que julgue pertinente.
 
3) Mostrar ao adolescente que na vida,  nada é definitivo, muito menos a escolha profissional. Conversar com os filhos sobre a possibilidade de correção de rumo é algo que tem um grande efeito tranquilizador. A escolha de um determinado curso não implica necessariamente que terá de exercer essa profissão. O desenvolvimento profissional não se processa de forma linear. A trajetória profissional ocorre  de maneira tortuosa, muitas vezes como num ziguezague. A primeira escolha  será a de um curso, que poderá ser técnico, tecnológico ou universitário, mas muitas outras escolhas virão para permitir o aprofundamento e a especialização num determinado campo de atuação, por exemplo. Na era do conhecimento, a aprendizagem contínua - life long learning, é uma regra, não uma exceção. As novas tecnologias, a internet das coisas, farão com que muitas carreiras desapareçam, para dar lugar a muitas profissões novas e, é nessa dinâmica que temos de preparar os nossos filhos para o futuro profissional, pois certamente que vão sempre surgir novas profissões e desafios, sendo importante que os mais jovens desenvolvam essa curiosidade, flexibilidade e vontade de aprender ao longo da vida.
 
4) Respeitar e apoiar os interesses dos filhos, desde pequenos. A dedicação intensa a um determinado desporto, o desejo e a habilidade para tocar um instrumento, tirar um curso de arte, participar nos eventos da escola  ou fazer escotismo, ao invés de se dedicar à aprendizagem de um idioma, visto pelos pais como ‘mais útil’, pode resultar no desenvolvimento de um currículo oculto,  traduzido pelo desenvolvimento de competências. Ainda neste ponto é importante referir que, quando os pais supervalorizam a aprendizagem do idioma em detrimento dos interesses dos filhos, podem estar a ignorar o facto de essas atividades promoverem o desenvolvimento de habilidades importantes e valorizadas no mundo do trabalho, como disciplina, espírito de equipa, sensibilidade estética, destreza manual, sentido de responsabilidade, liderança, etc. Neste sentido, é fundamental que os pais reúnam a necessária abertura para que possam aceitar as preferências dos filhos, pois desde pequenos, estes vão crescer com essa flexibilidade e mais facilmente recorrer ao apoio e aconselhamento dos pais, reforça a mesma psicóloga.
 
5) Estimular a identificação de interesses e inclinações dos filhos desde a infância. Embora não haja uma relação direta entre as brincadeiras preferidas das crianças e a futura profissão, os interesses da criança podem ajudar os pais a identificar traços de personalidade que podem servir como uma primeira orientação e discussão sobre opções profissionais. Comportamentos dos adolescentes tidos como manias, podem dar pistas valiosas sobre possíveis profissões de interesse e ajudar os pais na discussão de diferentes opções que possam ir ao encontro das inclinações e aptidões identificadas. Observar o comportamento da criança ao brincar, pode apontar para  a sua preferência  por atividades em grupo ou individuais, por jogos com regras ou de imaginação, pelo desenho ou pela montagem e construção, por correr ou ler, por animais ou por aparelhos eletrónicos, permitindo estabelecer a relação das características de personalidade dos filhos com a demanda ocupacional de algumas ocupações.
 
6) Incentivar e apoiar atividades extracurriculares ajuda a promover o autoconhecimento, pois representam oportunidades para que o adolescente explore e desenvolva  as suas aptidões e interesses. O facto de o adolescente mudar frequentemente de atividade não deve ser visto apenas como um problema, mas sim como ensaios que ajudam a identificar mais claramente os seus gostos, as suas aptidões, as suas dificuldades e a sua disponibilidade para se envolver, ou não, numa atividade que requer determinadas atitudes, como comprometimento ou disposição para abdicar de festas para participar em competições, por exemplo.
 
7) Promover a responsabilidade,  a autonomia e a independência dos filhos. Uma maneira interessante de estimular a responsabilidade pode ser feita por meio da gestão da mesada. Embora o assunto dinheiro ainda seja um tabu em muitas famílias, a educação financeira deveria fazer parte da educação básica de qualquer criança.
 
O valor da mesada pode ser estabelecido em conjunto, a partir de uma primeira estimativa de gastos feita pelo próprio adolescente. Essa estimativa de gastos assemelha-se a um orçamento, e pode incluir idas ao cinema, festas, lanches, presentes para amigos, cabeleireiro, por exemplo. O estabelecimento de um valor mensal, e de uma data de recebimento,  ajuda o jovem a aprender a lidar com o dinheiro, estabelecer prioridades, e aprender a economizar tendo em vista algo especial no futuro.
 
Estimular  a autonomia e a independência do adolescente também pode ser feita ao permitir que use transporte público, viaje sozinho, faça uma compra no supermercado para a família, compre uma peça de roupa (dentro de uma faixa de preço pré-estabelecida), por exemplo. Conseguir movimentar-se e orientar-se na cidade, fazer boas compras e um bom negócio, contribui para o desenvolvimento da autoconfiança e segurança do jovem.
 
8) Conversar com os filhos sobre os seus objetivos de vida, o que pretendem alcançar, os seus sonhos, assim como falar abertamente sobre os seus medos e inseguranças. Os jovens têm dificuldade em reconhecer os seus medos, e muitas vezes apegam-se a figuras de reconhecido sucesso, adotando-os como modelo,  e não conseguem ver o esforço e sacrifícios que essas personalidades fizeram para chegar lá, ou as dificuldades e fracassos que enfrentaram nesse caminho. De acordo com a mesma psicóloga, é fundamental que os jovens percebam que o sucesso não se alcança com um toque de magia, mas sim com trabalho, dificuldades e até frustrações, uma vez que, será dessa forma que, aos poucos se vão preparando para a vida e para os novos desafios.
 
9) Conversar sobre a escolha profissional dos filhos costuma fazer com que os pais revivam o seu próprio processo de escolha. Assim, torna-se fundamental ter essa conversa franca com os mais novos, explicar-lhes os medos, a ansiedade, as dúvidas, as dificuldades para que não se sintam os únicos a passar por essa situação de maior dificuldade.
 
Conversar sobre a transição da faculdade para o trabalho e sobre o significado do primeiro salário, pode ser uma oportunidade para o jovem entrar em contacto com as próprias expectativas e fantasias, além de aproximá-lo da realidade vivida pelos pais. Tenha em mente que, todas estas conversas vão fortalecer o vínculo entre pais e filhos e suportar todo o processo que se quer bem sucedido.
 
10) Falar sobre as profissões da família (pais, avós, tios), permite que o jovem amplie o seu conhecimento sobre o mundo das profissões, e também tenha contacto com diferentes trajetórias profissionais, favorecendo o reconhecimento de semelhanças e padrões familiares (família de médicos, de advogados, comerciantes, empresários, funcionários públicos, ou com muitas pessoas que não tiveram oportunidade de frequentar a faculdade). Na posição da mesma psicóloga, é espantoso como um número considerável de jovens não sabe o que os pais e familiares fazem profissionalmente. Essa conversa permite que o jovem  se envolva nas expectativas familiares, e que tenha a perceção sobre a própria liberdade de escolha diante delas, e do investimento financeiro que os pais fizeram para que pudesse ter acesso à universidade. Conhecer os percalços enfrentados pelos membros da própria família, os seus  sonhos não realizados, assim como os seus sucessos e sentimentos de autorrealização, estimula a reflexão sobre si e sobre a própria disposição para se empenhar e enfrentar os obstáculos que venha a enfrentar.
 
A psicóloga Giselle Welter, não tem dúvidas da importância do diálogo entre pais e filhos  e o quanto esse é um passo determinante para que o processo de escolha profissional se concretize com mais fluidez e resultados positivos.
 
Fátima Fernandes