Família

Relação entre estilo dos pais e características dos filhos

 
Todos sabem o quanto os pais são uma referência na educação e no desenvolvimento dos filhos, a ponto de existirem autores que falam «numa relação de espelho».

São muitos os entendidos nesta matéria que explicam que, a forma como os pais se apresentam vai determinar as características que os filhos vão ter em adultos.
 
Ao tomarmos consciência desta relação, podemos sempre alterar a nossa postura, já que, na maioria dos casos, os pais de hoje estão a imitar também os seus pais. Este é o desafio deste apontamento: que visualize os seus filhos daqui a uns anos e que corrija (a tempo) aquilo de que não gosta na sua postura.
 
Uma especialista em técnicas de Terapia Cognitiva Comportamental (TCC), e psicóloga infantil diz que o estilo de parentalidade interfere diretamente no processo de formação das características de cada pessoa.
 
Segundo Patrícia Nolêto, “é na infância que se desenvolvem o otimismo e o pessimismo”.  Por volta dos 7 anos, é possível considerar que uma criança já tem o seu estilo característico de pensar, o que influencia a perceção que tem de si mesma, do outro e do futuro. “Um pai que olha para si mesmo e para o mundo com ‘lentes distorcidas’, disfuncionais, tende a transmitir as mesmas crenças aos filhos.”
 
De acordo com a mesma especialista, “pais e mães podem ser divididos em cinco categorias de estilo: os autoritários, as vítimas, os submissos, os dominadores e os compreensivos”. Confira as características de cada estilo e faça a sua própria análise:
 
Autoritários
Os pais autoritários provocam dois tipos de emoção nos filhos: medo e raiva. Crianças educadas por pais desse estilo costumam ser muito obedientes, mas fazem-no não por respeito: obedecem por medo. Essa experiência quase sempre contribui para que os filhos cresçam inseguros em relação às próprias habilidades e capacidades. Geralmente tornam-se adultos dependentes e pouco assertivos tanto na vida pessoal como no meio profissional.
 
Vítimas
Os pais que se apresentam como vítimas, podem ser encaixados no grupo “ o que eu sofro por tua causa”. Estes progenitores gostam de recordar permanentemente aos filhos o quanto sofrem por sua causa, o quanto se sacrificam para que nada lhes falte, o quanto dão de si e até quanto gastam na sua educação. As emoções que provocam nos filhos são tristeza e vergonha. As crianças sentem -se mal, sentem-se responsáveis pelo sofrimento do pai ou da mãe, pelo que, acabam por se tornar obedientes, mas por culpa, não por respeito aos pais. Acabam por carregar essa culpa  pela vida fora e por se tornarem adultos queixosos, que têm muito medo de não agradar e de dizer não.
 
Submissos
Os pais submissos são aqueles que têm muita dificuldade em impor limites. Acabam por ceder às vontades dos filhos, mesmo quando sabem que não deveriam. Geralmente não conseguem colocar regras na casa – e quando as colocam, não as cumprem. Contrariamente ao que estes pais possam pensar, as crianças gostam de regras e de disciplina com conta, peso e medida, pelo que não são felizes dentro deste modelo de excesso de permissividade. Os filhos precisam que os pais lhes digam o que está correto e que lhes mostrem as falhas para que possam melhorar-se e evoluir. Os filhos de pais submissos tendem a tornar-se adultos egoístas e com baixa tolerância à frustração.
 
Dominadores
Os pais dominadores só aceitam que as coisas sejam feitas à sua maneira. O que importa é o que eles querem fazer, o que gostam de fazer (mesmo que não digam isso em palavras). Os filhos são coagidos a acompanhar. Este estilo de parentalidade causa tristeza e ansiedade nos mais novos que, acabam por obedecer sem questionar (até porque é inútil desobedecer) e costumam tornar-se adultos imaturos, medrosos e dependentes.
 
Compreensivos
Os pais compreensivos conseguem provocar duas emoções predominantes nas crianças: amor e alegria. Os filhos tendem a ter comportamentos cooperativos. São obedientes porque compreendem as regras e querem colaborar para que as coisas funcionem bem. Os filhos de pais compreensivos; que os apoiam e dão regras e limites ao mesmo tempo, são os que têm mais probabilidades de se tornarem adultos autónomos e seguros na vida pessoal e profissional.
 
Tendo por base a mesma especialista, cada pai e cada mãe, «deve fazer uma análise da forma como foi educado na sua infância e procurar aferir se está a repetir o mesmo modelo por opção consciente, ou se o faz pelo hábito que lhe foi instituído».
 
Patrícia Nolêto acrescenta que, a forma como foram criados pelos próprios pais explica muito do temperamento que identificam em si mesmos e ajuda nesse processo de tentar ser melhor para os próprios filhos. “Os pais são os agentes da transformação”, completa. “As boas escolhas de hoje influenciam o desenvolvimento saudável dos filhos e preparam o amanhã”.
 
Fátima Fernandes