Curiosidades

Relações: quando é que é preciso “dar um tempo”?

 
Recorrendo aos ensinamentos das terapias de casal verifica-se que, uma relação está de “boa saúde” quando existe uma boa comunicação entre os seus parceiros.

O diálogo assume pois, um papel crucial na vida a dois pelo que deve ser sempre privilegiado, no entanto, nem sempre as duas partes conseguem essa sintonia devido aos problemas do dia a dia, devido á pressão social, problemas financeiros ou outros, por isso, acabam por entrar em desarmonia. Em muitos casos, os casais pedem ajuda a um psicólogo antes de partirem para a separação, noutras situações “dão um tempo” a si mesmos e à relação, mas será esta última uma boa solução para um relacionamento?
 
É comum dizer-se que “vou dar um tempo”, quando no fundo não se sabe muito bem o que se pretende com essa decisão. Quando um casal chega a um ponto de quase rutura, não consegue libertar-se do stress, da pressão e da irritação, pelo que se torna muito difícil conseguir conversar e resolver os problemas. Nestes casos, faz sentido “dar um tempo”, desligar-se da situação e encontrar-se a si mesmo, mas se não houver um bom conselho pelo caminho, é muito natural que o problema permaneça depois desse tempo que se deu à relação. Quer isto dizer que, o simples facto de interromper uma situação não a resolve quando não há uma intervenção de fundo; algo que ajude os parceiros a reformularem a sua posição e o seu modo de agir com o outro.
 
Na posição dos especialistas nesta área, em muitos casos, quando se pede esse tempo é por falta de coragem para dizer ao outro que já não se suporta mais aquele modelo de relação. Pede-se o tempo para não assumir frontalmente o fim de um relacionamento, o que aumenta a dificuldade quando se trata de uma relação de vários anos.
 
Também há quem precise de um tempo quando está interessado/a noutra pessoa e não sabe muito bem como explicar isso ao seu atual parceiro. Há quem peça um tempo também para decidir se quer o divórcio ou manter uma vida de pouca qualidade e, naturalmente há quem precise de um tempo quando está numa situação de esgotamento emocional ou com um problema grave sentindo-se sem capacidade para resolver problemas, mas neste caso em particular, a pessoa deve pedir ajuda a um psicólogo.
 
É ainda de ter em conta que, para que esse “tempo” realmente seja produtivo e traga resultados, é fundamental que o casal estabeleça algumas regras, uma vez que só assim é possível evitar mal entendidos ou conflitos.
 
Assim, quando se pede um tempo ao outro, é preciso definir: qual é o período desse tempo, se vão manter algum tipo de contacto, se podem sair com outras pessoas e como é que se vão reencontrar, sem esquecer o que esperam desse momento.
 
No período de ausência, é fundamental que cada um dos parceiros se liberte, que converse com um técnico ou com uma pessoa de confiança, que procure os motivos pelos quais entrou nessa rutura e que vislumbre aquilo que gostaria de melhorar em si mesmo e na relação.
 
Os especialistas em terapia de casal elaboraram uma lista com os principais motivos que levam as pessoas a pedir “um tempo” ao outro, confira-os:
 
Quando um dos parceiros sente saudades da sua rotina antiga, da vida de solteiro;
 
Medo de se estar a envolver demasiado na relação;
 
Interesse por outra pessoa;
 
Dificuldades em lidar com as diferenças;
 
Expetativas distintas para o futuro e para a vida a dois;
 
Conflitos não resolvidos que tornam o relacionamento conturbado e desagradável.
 
Conhecidos os principais motivos importa reter que, a distância e a saudade podem fazer com que a pessoa repense sua própria atitude e também valorize a companhia do parceiro. Mas, nem sempre é isso que acontece.
 
Com o afastamento, os membros ou um membro do casal, também pode perceber que é mais feliz sozinho ou que prefere encetar um novo relacionamento com outra pessoa.
 
Independentemente de qual será o desfecho para cada casal, o tempo de reflexão é válido para que cada um perceba as suas necessidades, ambições e comportamento.
 
Como já foi referido acima, é comum que, algumas pessoas não tenham a coragem suficiente para terminar o relacionamento, principalmente os mais longos, e optem por dar esse tempo. No fundo, é como se fosse uma forma de preparar o parceiro e também a si mesmo para uma nova etapa e para lhe dizer que algo está mal no seio da relação.
 
Em situações assim, é importante que os parceiros sejam honestos e não se enganem, recomendam os entendidos nesta matéria acrescentando que é essencial o respeito pelo outro e a memória do que aquela pessoa já significou para nós, pois assim seremos mais honestos, colocamo-nos no lugar do outro e dizemos a verdade, por muito que possa ser dolorosa, é preferível à omissão e à ilusão de que está tudo bem quando, no fundo, a relação já terminou.
 
Se, depois do tempo, ambos perceberem que querem reconciliar-se, é preciso ter em mente que, a partir desse momento, terão que ter novos comportamentos, pois o modelo anterior obterá os mesmos resultados do passado, alertam os mesmos especialistas.
 
Refira-se que, quando se recorre a uma terapia de casal, os parceiros são atendidos individualmente e em conjunto e são colocados em evidência precisamente esses problemas que os afetam para que possam conhecer novos contornos. Um dos trabalhos importantes que é desenvolvido é precisamente a capacidade de diálogo que, como já referimos, é a base de um qualquer relacionamento.
 
A terapia também irá incidir na identidade de cada um dos parceiros, nas suas frustrações, nos seus medos e apoiar cada um dos elementos na definição de planos de futuro para uma vida realista que se quer ao lado do outro. Importa referir que, há casais em que o amor não é suficiente mesmo após a terapia e acabam por se separar, enquanto que outros encontram uma nova vida após esse tempo e com a ajuda do técnico especializado.
 
Também há quem reencontre o amor e o projeto de vida só a dois, mas em qualquer dos casos, tem de haver motivação, determinação, honestidade e muita capacidade de diálogo.
 
Idealmente em vez de se “dar um tempo” físico, deve dar-se diariamente um tempo emocional para que cada um dos membros da parceria amorosa se encontre a si mesmo, se sinta livre e de bem consigo, com a vida e na relação. Quando estamos bem connosco próprios, estamos bem com os demais, reforçam os mesmos especialistas, por isso, respeite-se, ame-se e cuide-se carinhosamente para conseguir o necessário distanciamento dos problemas, conseguir analisá-los com algum desapego e bem-estar.
 
Depois, em conjunto, tudo será mais fácil. Ao se situar diariamente na sua vida, nas suas opções, sonhos, metas e desejos, ser-lhe-à muito fácil comunicar com a pessoa que ama, não precisando de interromper a relação porque já reserva um espaço de manobra para si, concluem os mesmos entendidos afirmando que, em qualquer altura se pode pedir ajuda a um terapeuta de casal ou psicólogo, basta que se sinta essa necessidade de apoio e, quanto mais cedo melhor, pois evita-se o agravamento do problema antes de entrar numa situação de rutura.
 
Por último, cada parceiro é livre de pedir um tempo quando assim o entender, mas é importante que aposte mais na sua proteção e na prevenção dos problemas. Quando estes surgem, deverá aprender a resolvê-los em conjunto, mesmo que seja o termino da relação. Uma boa conversa franca e aberta é a solução para a maior parte das situações.
 
Fátima Fernandes