Comportamentos

Sabe como confortar alguém num momento difícil?

 
Na posição dos psicólogos, esta é uma tarefa que requer muitas mais habilidades do que se poderia imaginar, sendo que, não é fácil consolar alguém, muito menos ter a palavra certa e a postura mais adequada para o efeito.

De acordo com os mesmos entendidos, quando estamos perante uma pessoa que está a sofrer, devemos acima de tudo, “despir-nos” de nós mesmos para que a possamos ouvir. Não precisamos de nos suportar de frases feitas, de pensamentos filosóficos, muito menos da nossa experiência numa situação semelhante. Precisamos de escutar e de mostrar a nossa disponibilidade para ajudar, caso a pessoa necessite.
 
O segredo é mostrar compreensão, apoio e carinho, reforçam os mesmos entendidos, pois é isso que efetivamente conforta alguém: sentir que o outro não nos julga, que não tem preconceitos e que não está ali para apresentar a sua experiência, mas sim está pronto para entender que estamos a sofrer e que precisamos de ajuda.
 
Nesta sequência, os mesmos psicólogos deixam algumas dicas que podem facilitar a tarefa, pois nunca sabemos quando vamos precisar de dar esse apoio a alguém:
 
1. Seja um espelho da dor do outro
 
Na posição dos especialistas, dizer algo do género: “Eu sei que estás a passar por um momento difícil e, por isso, sinto muito”, é a abertura necessária para manifestar essa ajuda.
Basicamente, quem está a sofrer precisa que o outro seja como que uma testemunha dessa dor; que esteja ali por inteiro e que seja capaz de dar afeto, de mostrar que entende, que sabe que se trata de uma dor imensa, de uma tristeza profunda e que está ali para o que for preciso.
 
O segredo é validar os sentimentos do outro, fazê-lo ver que tudo o que sente faz sentido. Por isso é importante para facilitar o desabafo, criar um refúgio para que a pessoa tenha liberdade para expressar o que sentir necessidade.
 
2. Não é necessária nenhuma frase de sabedoria, julgamentos ou referências às próprias experiências
 
Quando queremos oferecer consolo e apoio a uma pessoa não são necessárias pérolas de sabedoria ou um raciocínio filosófico. Ao mesmo tempo, em nada vai ajudar o outro se lhe dissermos que “tudo passa”, “tudo se resolve” ou “eu já passei por isso”. O que efetivamente ajuda é estarmos ali a ouvir, sabendo que, a realidade que cada um vive é única e excecional, pelo que não podemos nem devemos fazer comparações.
Depois, é preciso ter em conta que, para consolar com palavras é necessário considerar os seguintes aspetos: Os comportamentos conversacionais são essenciais no processo de consolo e apoio, mas devemos evitar julgamentos. Expressões como “isso aconteceu-lhe porque (…)” ou “o que deveria ter feito é (…)” ao contrário de ajudar, invalidam.
 
3. A pessoa que sofre não quer um conselho
 
Quem está a passar por um momento doloroso não precisa de conselhos ou recomendações.  Quando se encontra numa situação difícil, a pessoa ouve essas orientações, mas acaba ou por não lhes atribuir um qualquer sentido ou, simplesmente por fazer o oposto porque se sente muito mal e incapaz de receber um conselho nessa ocasião. Para evitar essa reação, devemos poupá-la a esse tipo de comentário e sim concentrarmo-nos naquilo que possa estar a sentir.
Expressões como “tire isso da cabeça” ou “não pense mais nisso” devem ser substituídas por “o que está a sentir é normal, eu entendo e sinto muito“.
 
4. Estou aqui para quando precisar e disser que precisa da minha ajuda
 
Muito mais do que dizer ao leitor como poderá consolar outra pessoa, o mais importante é transmitir-lhe o que não deve fazer, pelo que, um erro que cometemos com frequência é ficarmos obcecados em “estar presentes“. É inquestionável que a presença de alguém é importante, mas devemos permitir que seja a pessoa a dizer-nos quando precisa de nós e quando prefere estar sozinha. Estar disponível é a chave para ajudar e não correr o risco de sufocar o outro.
 
Apoiar sem invadir é uma arte. Estar próximo sem se impor é um recurso inteligente e necessário. Para isso, é recomendável que a pessoa que sofre saiba que pensamos nela, que a levamos no coração e que, se ela precisar de qualquer coisa estamos sempre à disposição. Ser um ombro para chorar, com um olhar capaz de refletir o outro e uma presença que sabe ouvir é o segredo nesta arte de apoiar.
 
Para concluir, tenha em mente que, qualquer um de nós já esteve na posição de ombro amigo e de alguém que precisa de consolo, por isso, também é importante que se recorde daquilo que o ajudou mais e daquilo de que menos gostou. Registe também que, consolar exige prudência, sabedoria e uma conexão emocional para confortar sem invadir. No fundo, coloque-se no lugar do outro e faça exatamente aquilo que gostaria que lhe fizessem ou já lhe tivessem feito quando passou por algum momento difícil.
 
Fátima Fernandes