Sabe o que é Alexitimia?

 
A dificuldade em sentir e em expressar emoções, vai muito para além da escolha pessoal.

 
É como que uma herança familiar “forçada”; um produto de problemas existentes no seio familiar e que acaba por condicionar o desenvolvimento dos seus membros.
 
É comum afirmar-se que “há pessoas sem sentimentos”, sempre na esperança que não passe de uma mera crítica ou tentativa de explicação de um determinado comportamento, mas na prática, a realidade é muito mais complexa. 
 
Existem mesmo pessoas que não se conseguem expressar, que não conseguem dar ou receber, porque simplesmente não sentem.
 
Para facilitar a tarefa e o respeito pela diferença, resumiremos o que está por detrás dessa “insensibilidade”.
 
Segundo o Instituto de Apoio e Desenvolvimento – ITAD, “a alexitimia designa a falta de palavras para descrever as emoções.”
 
Em termos afetivos, “conduz a uma grande dificuldade em reconhecer, descrever e discriminar sentimentos e emoções.”
 
Sob o ponto de vista cognitivo, “há um estilo de pensamento muito particular, virado para o concreto e para o exterior e”, enquanto que, na dimensão relacional, “existe uma incapacidade em perceber o outro com uma individualidade própria, os seus sentimentos, havendo portanto uma reduzida empatia e compreensão.”
 
As relações são entendidas como “úteis, pragmáticas e superficiais.”
 
Tendo ainda por base o ITAD, “nas teorias psicodinâmicas, a alexitimia é vista essencialmente sob duas perspectivas: como mecanismo de defesa ou como um défice na organização psíquica.”
 
O mesmo Instituto de Apoio ao Desenvolvimento clarifica que, no primeiro caso, “o funcionamento alexitimico faria regredir o sujeito até um estado muito primitivo.”
 
Na segunda perspectiva de défice psíquico, “as estruturas psíquicas mais precoces não teriam sido bem organizadas, devido a problemas de vinculação entre a mãe e o seu bebé.”
 
O ITAD explica que, as pessoas com incapacidade afetiva são o produto de “mães que tenderiam a usar os seus bebés para resolver os seus próprios problemas, não tolerando a separação e a independência dos seus filhos.”
 
As mesmas mães “seriam excessivamente protetoras, não deixariam a criança desenvolver estratégias pessoais de resolução das suas tensões, o que resultaria numa incapacidade em cuidar de si e em reconhecer as próprias sensações corporais.”
 
No mesmo artigo, o ITAD demonstra que, “os sujeitos que não conseguem fazer a ligação entre a imagem mental, a fantasia e o pensamento com as suas emoções, não conseguirão que os sentimentos se revelem pela linguagem.”
 
Neste sentido, a “alexitimia seria o resultado de uma perturbação no hemisfério direito do cérebro (por ser este o hemisfério responsável no reconhecimento dos afetos), com uma resposta emocional mais fraca e uma maior indiferenciação emocional.”
 
O Instituto de Apoio ao Desenvolvimento mostra que existem outras explicações para o problema.
 
Os muitos estudos levados a cabo, demonstram que, “pessoas provenientes de um baixo estatuto socioeconómico, com menos instrução”, podem ser mais propensas a este tipo de problema. 
 
“O crescimento num ambiente que não encoraje o desenvolvimento da simbolização nem da comunicação, bem como pais e familiares com traços alexitimicos e famílias emocionalmente disfuncionais, têm mais casos de alexitimia entre os seus membros.”
 
É amplamente defendido que a família assume um papel fulcral no desenvolvimento do indivíduo, pelo que, a melhor forma de prevenir este tipo de doença é passar pela mudança em termos globais.
 
Os pais e demais familiares devem assumir-se como parte integrante do processo de desenvolvimento, bem como permitir que os indivíduos façam as suas próprias conquistas e descobertas, o que começa logo no ato de engravidar, que deve ser forçosamente uma opção consciente e responsável.
 
O ITAD recorda que, “uma família que já tem os seus próprios problemas em lidar com as emoções, dificilmente poderá ensinar um novo membro que a integre, neste caso, um bebé, a lidar com as suas próprias emoções, a conhecê-las, a controlá-las e a autorregular-se.” 
 
A mesma publicação mostra que, “as relações precoces emocionalmente inadequadas são o veículo perfeito para o desenvolvimento de uma posterior alexitimia.”
 
Reforçando a necessidade de haver estimulação emocional, o ITAD explica que, a “ausência de conexões cerebrais, alterações químicas, que afetam o comportamento, torna-se um fator que poderá tornar um sujeito alexitímico.”
 
Com uma perturbação na regulação das emoções, desde as mais primárias até às mais secundárias, o sujeito “vai criar défices a vários níveis: em termos de vocabulário afetivo (que fica empobrecido, não se sabendo nomear o afeto que se sente numa determinada altura e num determinado contexto), de experiências afetivas precoces (que se tornam relações sem profundidade emocional e pouco gratificantes), de processo fantasmático (sem a correta elaboração psíquica dos conflitos, das fantasias e sua posterior resolução) e de processos cognitivos (que se tornam demasiado rígidos, demasiado presos ao real, de modo a não fazerem a integração afetiva do que é vivido).”
 
Estes indivíduos apresentam um isolamento afetivo e emocional, o que dificulta todas as suas relações.
 
Para quem convive com estas pessoas, é árdua a tarefa de compreender “o que lhes passa pela alma”, pois não conseguem ‘sintonizar’ as emoções com o contexto que estão a viver.”
 
Estes sujeitos acabam por viver em permanente sobressalto, com necessidade de fugir de cenários onde tenham de se manifestar emocionalmente, pois não sabem a melhor forma de lidar com os sentimentos, quais as expressões mais adequadas ou o que é desadequado mostrar num determinado contexto.
 
O ITAD reforça a importância de compreender as causas e, muitas vezes, as consequências desta perturbação, também muito associada a doenças psicossomáticas, sobretudo porque o corpo não consegue organizar-se com uma mente incapaz de fazer a leitura das suas próprias sensações.
 
A melhor forma de ajudar estes doentes é encaminhá-los para o apoio psicológico que, de alguma forma, pode aliviar as perturbações sentidas, bem como auxiliar na compreensão da sua doença.
 
É fundamental que, o apoio psicoterapeutico esteja presente e se assuma como uma orientação desde a mais tenra idade.
 
Algarve Primeiro