Família

Sabe qual é a melhor técnica para educar os seus filhos? Surpreendê-los!

 
O cérebro é o órgão mais preguiçoso do corpo humano, razão pela qual se torna muito difícil alterar um comportamento.

 
Conseguimos alterar aquilo que não queremos dando “um choque de lucidez” ao nosso cérebro para que ele pense, para que corrija um comportamento, altere uma ideia, crença ou paradigma. Se agirmos sempre da mesma forma, não estamos a proporcionar uma mudança seja em que idade for e, no que se refere à educação das crianças, esta realidade ainda assume mais proporções fazendo-nos “perder a paciência” com tantos comportamentos repetitivos. Se não incentivarmos os nossos filhos a pensar, dificilmente eles vão conseguir modificar algo ou corrigir um erro. Nesse sentido, é fundamental apresentar-lhes diferentes desafios para as mesmas situações para que pensem, para que se preparem para fazer algo novo.
 
Todos crescemos a partir do “não”, já que é a negação que nos impele para procurarmos uma alternativa, pelo que, se dissermos só afirmações aos nossos filhos, corremos o risco de eles não saírem do mesmo ponto de partida e repetirem infinitamente os mesmos erros e de andarem sempre à procura do mesmo estilo para corresponder ao que esperamos deles. Para que ocorra uma mudança, torna-se necessário que a criança seja surpreendida.
 
Quando os especialistas falam em surpreender, não se estão a referir ao excesso de compras a que assistimos nos nossos dias, muito menos à satisfação de todas as necessidades da criança ou do jovem, mas sim ao ato de mudar um comportamento para que o nosso filho seja obrigado a pensar e a ver a mesma situação noutro ângulo.
 
Em termos práticos, um pai ou uma mãe que diz todos os dias ao filho que está na hora de se vestir, que deve lavar os dentes, que deve arrumar a roupa ou os brinquedos, está a alimentar essa preguiça do cérebro em fazer sempre a mesma coisa ou em não fazer, o que nada acrescenta ao outro. O mesmo se passa no seio de um casal em que é sempre a mulher a dizer uma, duas, três e quatro vezes a mesma coisa. O cérebro do outro habitua-se e já sabe que aquela pessoa vai dizer aquilo naquele momento. Para além de se tornar uma pessoa “chata” e às vezes vezes mesmo “insuportável”, essa atitude em nada está a ajudar a modificar um comportamento.
 
Perante esta constatação, faz sentido que se deixe de fazer as coisas sempre da mesma maneira, o que facilita que quem dá a orientação também seja mais criativo ou criativa e que quem recebe a ordem seja obrigado a pensar numa forma mais adequada para resolver o problema.
 
Um dia a mãe explica o que é para fazer. Dita a regra e depois convém que fique à espera do resultado. Se o filho não entendeu, que seja ele a dizer o que não percebeu e a razão pela qual não está a cumprir o que lhe foi pedido. Quando a criança já cumpre naturalmente essa tarefa, ser-lhe-à dada outra com moldes diferentes, de preferência perguntar-lhe em que pode ajudar nas tarefas da casa, uma vez que já é crescido e muito capaz de ajudar. A mãe ou o pai já estão a aplicar outra regra de outra forma e assim por diante. Fazer com que os nossos filhos pensem é fundamental para a construção dos seus pensamentos, para a sua autonomia, para a criatividade e para que aprendam a proteger-se, por isso, devemos suprimir termos como “digo-te todos os dias a mesma coisa” e assumir que não vamos fazer isso todos os dias, mas sim convidar a criança ou jovem a ser ele autor das suas iniciativas. Aos poucos, os mais novos já vão ter essa iniciativa, já vão arrumar o que faz falta e estão a crescer com saúde e alegria, pois as tarefas de casa deixaram de ser as ordens “chatas” de um pai e de uma mãe.
 
Ao mesmo tempo, esta abertura melhora e muito, a imagem que os filhos têm dos pais, já que estes deixam de ser “os carrascos” que todos os dias dizem a mesma coisa, para passarem a ser os pais que ensinam e que os ajudam a crescer. 
 
Facilmente a criança e o jovem compreendem o quão é importante manter a casa arrumada para o bem-estar de todos, a importância de fazer os trabalhos de casa num determinado horário, de colocar a roupa no cesto, cuidar da higiene pessoal e daí por diante. Nada custa aos pais explicar essa pertinência aos filhos e convidá-los para participar ativamente nessas tarefas para o bem de todos. É importante que, em vez de irmos aos gritos e impondo a nossa autoridade, façamos o inverso, passemos a expor as nossas ideias e a fazer-nos compreender explicando as vezes que forem necessárias. Isto também é estar disponível para os nossos filhos e mostrar que não somos donos deles, mas sim uma família que se quer unida e feliz e que todos trabalham para esse bem-estar.
 
A forma como se diz o que é para fazer é muito importante e deve variar de uma situação para a outra. A criança ou jovem deve conseguir encontrar novidade na ordem para ter mais motivação e liberdade para pensar ao mesmo tempo.
 
Se repararmos bem, não há casal que resista à rotina de ter de ir todos os fins de semana ao mesmo restaurante e comer o mesmo prato… o mesmo se passa com os nossos filhos que precisam de estímulos para desenvolver a sua criatividade e gosto pelo desempenho das tarefas. Esta “receita” aplica-se a tudo na nossa vida. Não devemos oferecer uma prenda só no natal ou no dia de aniversário, tal como não faz sentido ter de existir um momento específico para dizer “gosto de ti”. Temos de ser mais abertos para as emoções e mais livres em termos mentais para que possamos ser mais criativos, dar mais de nós e colher mais dos outros e, lembre-se de que, os outros nem sempre lhe devolvem exatamente o que queria e da forma que pretendia, por isso, esteja atento também às suas reações, pois é isso que nos torna pessoas e nos distingue dos robôs. É isso que mostra que não somos perfeitos, muito menos iguais. Cada pessoa é única e especial e merece ser tratada como tal.
 
Fátima Fernandes