Comportamentos

Sabia que as pessoas inteligentes são mais ansiosas?

 
Certamente que já lhe aconteceu ou observou alguém que é muito bom aluno, mas que durante uma avaliação está com níveis de ansiedade muito elevados, muitas vezes com níveis superiores àquela criança ou jovem que sabe menos. Tal acontece porque, efetivamente a ansiedade e a inteligência” andam de mãos dadas”.

Um estudo da Universidade Lakehead, no Canadá, estabeleceu um forte apoio para essa ligação entre inteligência elevada – mentes brilhantes, criativas e analíticas – e tendências ansiosas – medo do social, antecipações, nervosismo e preocupação excessiva, entre outros.
 
Quer isto dizer que,   essas correlações entre desajustes psicológicos e habilidades pessoais notáveis têm uma longa história na ciência. Há alguns anos, foi descrita uma certa relação entre a criatividade e a predisposição para tendências bipolares, o que ganhou alguma popularidade entre as disciplinas que estudam o cérebro e a mente humana.
 
Na revista A Mente é Maravilhosa, é apresentado um apontamento que resume alguns estudos sobre este assunto. Nesse sentido, percebe-se que, «não é verdade que alguém com alto potencial criativo ou com alto QI tenha algum tipo de distúrbio ou problema psicológico». No entanto, «o que se pode afirmar é que existe com certa frequência o estereótipo da pessoa cujos comportamentos e estados internos parecem estar fora de sincronia com as capacidades de uma mente mais do que privilegiada».
 
Devido às suas implicações clínicas, sociais, pessoais e académicas, o assunto, já interessante por si só, merece um estudo detalhado e o esclarecimento do tipo de vínculo entre um traço e o outro.
 
É comum dizer-se que, as pessoas mais inteligentes são mais infelizes e que as mais ignorantes conseguem um melhor estádio de felicidade. Neste ponto, é de reter que, «a ansiedade tem poder suficiente para infligir essa infelicidade às pessoas».
 
Segundo a mesma revista de opinião, o facto de pessoas com QI alto tenderem a apresentar, com maior probabilidade, episódios de ansiedade e até ansiedade crónica e generalizada, tem suscitado relevantes linhas de pesquisa que visam elucidar a razão pela qual uma pessoa inteligente pode vivenciar frustração, infelicidade e chegar a tomar decisões inadequadas para o seu bem-estar.
 
Enquanto no campo académico se pode observar alunos de destaque que mostram uma tranquilidade e equilíbrio mais do que desejáveis, em mais de uma ocasião também se pode ver alunos que, apesar dos seus dons intelectuais, tendem a antecipar eventos negativamente. Ficam muito frustrados com mudanças inesperadas, apresentam traços de stress com uma frequência e intensidade anormalmente altas, ao mesmo tempo em que, apresentam uma queda considerável no desempenho académico.
 
Estes comportamentos podem prejudicar o percurso académico, o sucesso profissional e pessoal, mesmo em casos de mentes brilhantes, mas que acabam por não conseguir gerir as suas emoções, ficando com altos níveis de ansiedade paralisante.
 
Para se compreender melhor o que se passa neste processo, os especialistas da mesma revista lembram que, «a matéria branca do cérebro é responsável pela transmissão de informações bioelétricas entre os neurónios, não tanto pelo processamento de informações do cérebro, que é atribuído à massa cinzenta».
 
De acordo com os mesmos entendidos, a condução dos impulsos nervosos sustenta a sua eficiência na velocidade e na ausência de perda de potencial elétrico, ambos otimizados ao nível da substância branca. Pode-se dizer que a substância branca é responsável pela eficiência e agilidade dos processos cognitivos e, portanto, pela própria inteligência.
 
Com o objetivo de aprofundar o estudo desta relação entre inteligência e ansiedade, os cientistas responsáveis pelo referido estudo utilizaram técnicas de neuroimagem – e, especificamente, a ressonância magnética – para revelar as causas subjacentes.
 
As descobertas foram tão surpreendentes quanto, quase na mesma medida, lógicas e esperadas: pessoas nas quais convergiam alta inteligência e características marcadamente ansiosas tinham, em geral, uma maior densidade de matéria branca.
 
Segundo o mesmo estudo, essa densidade aumentada, em termos estatísticos, poderia explicar o poder intelectual dessas pessoas e, ao mesmo tempo, as  suas tendências à ansiedade crónica e generalizada, uma vez que a substância branca tem sido associada ao controle emocional.
 
Numa tentativa de dar uma explicação mais aprofundada sobre este assunto, os mesmos cientistas clarificam que, no curso evolutivo da nossa espécie, parte da comunidade científica acredita que o desenvolvimento da inteligência e a disposição para sentir ansiedade andaram de mãos dadas.
 
«A razão não poderia ser outra senão o facto de que, para melhorar a sobrevivência da nossa espécie, foi útil otimizar a análise e o processamento de informações para poder antecipar perigos».
 
Assim, ao desenvolver uma densidade maior de matéria branca, essa inteligência necessária para a sobrevivência seria promovida. Por outro lado, como o sistema nervoso possui formas mais rápidas e eficientes de se comunicar e transmitir informações, os estados de ansiedade apareceriam com maior frequência.
 
Essas conclusões também nos levam a uma possível explicação teórica do bloqueio emocional e comportamental que envolve uma quantidade desproporcional de ansiedade. Assim, no momento em que a ansiedade atinge níveis excessivamente elevados, ocorre a saturação das vias de comunicação nervosa e o potencial de inteligência diminui drasticamente, causando uma sensação de paralisia.
 
Em jeito de conclusão, A Mente é Maravilhosa lembra que, «ter uma mente altamente inteligente é, na maioria dos casos, um elemento desejável para muitas pessoas». Contudo, a mesma moeda tem duas faces, o que quer dizer que, «um alto grau de inteligência pode trazer consigo traços de ansiedade e dificuldade de controle emocional» pelo que, ao mesmo tempo em que se “cultiva” a inteligência, devemos aprender técnicas de autocontrole e de gestão das emoções para podermos obter melhores resultados.
 
Fátima Fernandes