Comportamentos

Saiba como lidar com a “superioridade ilusória”

 
Muitas pessoas vivem num estado de superioridade ilusória considerando que são melhores que as outras, seja em termos pessoais, profissionais ou sociais.

 
Na sua ilusão, acreditam que os outros estão sempre numa posição inferior e que são elas quem têm todo o conhecimento e as melhores qualidades para darem resposta aos mais variados desafios.
 
Estas pessoas são consideradas pela ciência como “os incompetentes que se acham mais que os outros” e isso começa logo na escola e, por norma, prolonga-se pela vida fora. Atenção que isto não é autoestima, mas sim algo mais próximo do egocentrismo.
 
Trata-se do efeito Dunning-Kruger, o psicólogo que descreveu pela primeira vez as pessoas que falam acerca de tudo, mas sem terem os conhecimentos suficientes para isso.
 
Estas pessoas acreditam que são os melhores condutores, os mais engraçados num grupo, os que mais cativam a atenção dos outros, as que sabem falar mais e melhor e daí por diante.
 
O efeito Dunning-Kruger refere-se precisamente a pessoas que tendem “a super estimar as suas aptidões sociais e intelectuais”.
 
David Dunning, foi um dos psicólogos que deu o nome a essa “superioridade ilusória” num estudo publicado em 1999.
 
Para este especialista, “essa crença é tão difícil de evitar que chega a transgredir as leis da matemática”. Por exemplo, “quando os pesquisadores pediram que engenheiros de software qualificassem o seu próprio trabalho, mais de 30% disseram fazer parte dos 5% melhores da empresa”.
 
Segundo outro estudo, 88% dos motoristas norte-americanos afirmam conduzir melhor que a média.
 
De acordo com o mesmo autor, “os que mais tendem a ter melhor ideia sobre si mesmos são, exatamente, os menos capacitados: quanto menos sabemos sobre um tema, mais tendemos a achar que sabemos o suficiente”.
 
Por outro lado, “os especialistas tendem a subvalorizar ligeiramente as suas aptidões”.
 
Os mais ignorantes julgam saber quase tanto quanto os entendidos, daí viverem essa superioridade ilusória.
 
Certamente, não podemos dizer que os que mais falam são sempre os que menos sabem. Mas é muito difícil não cometer esse erro às vezes. “Não se trata de resultados isolados. Tendemos a super estimar em todas as áreas, incluindo a saúde, a capacidade de liderança e a ética”.
 
Dunning explica num artigo publicado na revista Pacific Standard, que as pessoas menos qualificadas num setor nem sequer têm a experiência necessária para saber o que estão fazer de forma incorreta, isto porque, uma mente ignorante não é vazia, e sim repleta de ideias preconcebidas, experiências, factos, intuições, visões e pressentimentos, além de conceitos que importamos de outras áreas do conhecimento”.
 
Neste sentido, “construímos histórias e teorias que nos dão a impressão de serem um conhecimento confiável, mas que se afastam da realidade”.
 
O autor acrescenta que, “de facto, confiamos nelas: um estudo da Universidade Yale mostrou que a maioria das pessoas não sabe quase nada sobre nanotecnologia. Isso é normal. O que não é tão normal é que quase ninguém hesitava em opinar sobre os benefícios dessa tecnologia e se os mesmos compensavam os riscos”.
 
Dunning disse que,  “desconhecemos os limites de nossa incompetência, não a dos outros. A graça então não é identificar as vítimas desse erro, e sim levar em conta que é muito provável que nós o estejamos a cometer em algum aspeto de nossas vidas, sem nem ao menos saber!” afirma o autor, acrescentando que, “não se trata apenas de jogar xadrez pior do que pensamos. Ou de expressar, por algum motivo, opiniões muito veementes sobre a nanotecnologia. Na verdade, esse efeito pode ser muito perigoso”.
 
Dunning recorda que “a bolha financeira de 2008 foi causada pelas maquinações feitas pelos operadores financeiros e a ignorância dos consumidores”. Segundo um estudo de 2012, 23% dos norte-americanos entrevistados que tinham declarado falência, deram a si mesmos a nota máxima em conhecimentos de finanças.
 
Estes resultados ilustram muito bem a superioridade ilusória de muitas mentes, já que, mesmo em situação de decadência, as pessoas acham que são o máximo e que o erro não foi eu. É nesta dimensão que o autor se refere ao perigo deste efeito que é basicamente a pessoa não ter consciência dos seus limites e das suas imperfeições e querer “sair sempre por cima”, sem se preocupar em corrigir e melhorar o que falhou para não repetir o mesmo erro.
 
Fátima Fernandes