Comportamentos

Será você o seu pior inimigo?

 
Por muito estranho que possa parecer, na realidade, os nossos maiores inimigos não estão no exterior, muito menos nas pessoas ao nosso redor porque simplesmente estão dentro de nós. Seja por uma situação que não nos correu bem, seja por uma memória que persiste em incomodar-nos e transformar a alegria de um dia num “inferno”, são cada vez mais os investigadores que afirmam que nós somos os nossos maiores inimigos.

Partindo da base de que o nosso cérebro regista tudo o que nos acontece, sempre que vivemos alguma situação negativa, a mesma fica arquivada de forma privilegiada na nossa memória, pelo que, sempre que essa memória é ativada, tendemos a recordar um mau desempenho que tivemos, uma humilhação que vivenciamos, uma ofensa que alguém nos fez e daí por diante. É esse recordar constante de um erro que dá lugar a pensamentos destrutivos e negativos. Ao não conseguirmos ultrapassar esse incidente, acabamos por cultivar e alimentar esses registos nas mais variadas situações. Há quem aponte o dedo e a sua fúria a quem o magoou, mas igualmente fique arrependido e a ruminar o incidente e há quem se culpe infinitamente pelo que aconteceu. Em ambas as situações, seremos “carrascos” de nós próprios, pois nada fizemos para corrigir o erro e simplesmente carregamos a culpa. Depois de pensar, descobrimos sempre que há novos caminhos a seguir.
 
Para ultrapassar esse episódio destrutivo e que nos faz ruminar, precisamos de ir ao fundo dessa memória ou janela traumática, perceber realmente o que aconteceu e dar-lhe um novo sentido, dizendo ao nosso cérebro que, efetivamente foi assim, que tivemos um mau desempenho, que sofremos com a situação, mas que, estamos prontos para corrigir o erro e obter um melhor resultado numa situação futura. Podemos ainda acrescentar que, sabemos onde falhamos e que não vamos fugir dessa correção num próximo momento, já que isso nos vai libertar no presente e preparar novos confrontos com cenários semelhantes. Podemos igualmente ser humildes e assumir que não sabíamos fazer melhor, mas que numa próxima situação já teremos mais conhecimento.
 
Na posição dos entendidos na matéria, como não é possível apagar os registos da nossa memória, a única alternativa que nos resta é mesmo fazermos esse trabalho interior de “limpeza” e transformação desses pensamentos para que possam ganhar um novo sentido, significado e importância.
 
Nas suas obras, Augusto Cury, psiquiatra e investigador sugere a técnica do “DCD” que traduz Duvidar, Criticar e Determinar esses pensamentos negativos para que se possam construir janelas ou registos positivos em torno desse núcleo traumático. O mesmo autor de diversas obras também sugere a técnica da mesa redonda que implica um diálogo interno connosco próprios para que possamos ir ao fundo desse registo, compreender o que se passou, pensar em alternativas e produzir novos pensamentos em torno dessa memória menos positiva. Para Augusto Cury, estas duas técnicas ajudam a superar o trauma e possibilitam a correção do erro enquanto que nos libertam dessa culpa e mau-estar resultante do episódio que vivemos. De outra forma, carregaremos as más memórias como que numa condenação e ficamos-lhes prisioneiros, o que nos torna inimigos de nós próprios, pois tratamo-nos mal, ruminamos pensamentos que nos desgastam e fazem adoecer mentalmente.
 
Nesta sequência, é fundamental aprendermos a perdoar-nos pelo que fazemos de menos correto para que possamos aliviar essa dor da culpa e produzir pensamentos saudáveis que nos permitam encontrar soluções para os nossos problemas e cuidarmo-nos carinhosamente.
 
Trata-se de um treino diário que todos devemos exercer. Fazer um resumo do nosso dia e permitir que o “eu” assuma o comando dos nossos pensamentos, sendo autor da nossa própria história. Ao irmos ao fundo de nós, percebemos mais facilmente a razão pela qual agimos de determinada forma e temos a possibilidade de nos compreender, aceitar e perdoar. Se ficarmos pela superfície dos nossos pensamentos, acabamos por ruminar o mesmo problema diversas vezes dando-lhe uma proporção cada vez maior. É isso que é ser nosso inimigo, segundo Augusto Cury.
 
“O seu pior inimigo não são as críticas que recebe, mas as que você aceita.”-Bernardo Stamateas
 
Fátima Fernandes