Síndrome de Otelo

 
O nome desta síndrome está associado a Otelo, o Mouro de Veneza que é uma famosa obra de William Shakespeare na qual são abordados temas de grande relevância até os dias de hoje, dentre eles, o ciúme.

 
Em linhas gerais, a Síndrome de Otelo resume um tipo de ciúme patológico e delirante.
 
O indivíduo que manifesta esta síndrome, apresenta ideias predominantes sobre outros pensamentos e de grande importância afetiva para si. Não manifesta ideias obsessivas, no entanto, carateriza-se por defender os seus próprios pensamentos e não dar espaço a outras opiniões ou interpretações da mesma realidade. Acredita e suporta-se naquilo que lhe faz sentido e descura outras formas de pensamento.
 
As ideias delirantes, ou delírios, por sua vez, são juízos patologicamente falsos. De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, “o Transtorno Delirante Paranóico do tipo ciumento é o delírio centrado na convicção, sem motivo justo ou evidente, de que está sendo traído pelo cônjuge ou parceiro romântico.” Esta crença é injustificada e apenas baseada em inferências incorretas sustentadas por pequenas “evidências” (por exemplo, manchas nos lençóis) as quais são acumuladas e utilizadas para a justificativa do delírio. O sujeito pode tomar medidas extremas para evitar a suposta infidelidade.
 
Segundo Dalgalarrondo (2008), “nos delírios de ciúme e de infidelidade, o indivíduo descobre-se traído pelo parceiro de forma cruel, acusando-o de manter relações íntimas com outras pessoas.” Geralmente, o sujeito que apresenta esse delírio é extremamente dependente de forma emocional da pessoa amada.
 
O ciúme, quando desproporcional e profundo em indivíduos com alto grau de possessividade e insegurança, pode ser difícil de distinguir do delírio de ciúme. Nessa perspectiva, o ciúme patológico pode ser tanto um verdadeiro delírio, como também uma ideia prevalente. Pessoas acometidas pelas intensas atividades de delírio do tipo ciumento, muitas vezes, agridem fisicamente ou mesmo cometem o homicídio contra o suposto “traidor”.
 
O ciúme é conhecido como o medo da perda de um objeto amado. Um ciúme que gera perturbações, sofrimentos e torturas não é normal. O ciumento acumula sinais como se acumulasse provas materiais de defesa contra o outro; o que mais o incomoda é a negação do outro face à “evidente” traição. Na maior parte dos casos, os argumentos são puramente irreais, mas a relação não sobrevive à pressão e, em casos concretos, à patologia doentia de um dos parceiros.
 
Freud situa três “camadas de ciúme” anormalmente reforçado:
 
- ciúme concorrencial ou normal: onde a tristeza ganha espaço, o sujeito sofre por pensar ou acreditar que o objeto amado está perdido. Sente dor pela ofensa narcísica e sentimentos hostis em relação ao rival. Este tipo de ciúme é considerado como racional, “dominado pelo eu consciente demonstrando ter raízes profundas no inconsciente” (Lachaud, 2001).
 
- ciúme projetado: há uma colocação em jogo de um processo inconsciente, a projeção de um desejo de trair recalcado.
 
- ciúme delirante: os objetos de fantasia são homossexuais, ocupando um lugar como uma das formas clássicas da paranóia. Nessa camada, o desejo de infidelidade está voltado para um parceiro do mesmo sexo que o sujeito. Como tentativa de defesa desse impulso homossexual, no homem, equivale a afirmação “Eu não o amo, é ela que o ama!”.
 
De ter em conta que, “no ciúme há uma verificação de que nenhuma prova jamais poderá satisfazer. No ciúme delirante, não há prova de defesa; tudo conspira para acusar o outro. O ciumento quer saber, nem que seja contra a verdade.” 
 
Como Shakespeare cita na sua obra, “As almas ciumentas não são ciumentas porque há uma causa, mas sim porque são ciumentas. Este é um monstro gerado em si mesmo e de si mesmo nascido.”