Comportamentos

Sofre da Síndrome da Exteriorização Existencial?

 
Pode dizer-se que, este problema está “na moda”, na medida em que muitas pessoas acusam a Síndrome da Exteriorização Existencial sem que se apercebam.

 
De um modo geral e, como é resumido na obra: “O funcionamento da mente” de Augusto Cury, trata-se de uma dificuldade que o sujeito apresenta em se sentir ligado ao seu mundo interior; ligado aos seus pensamentos. Em consequência desse problema, a pessoa acaba por procurar permanentemente estar ligado às redes sociais, aos equipamentos eletrónicos, onde mesmo dando pouco de si, se sente ligado ao mundo “e sem espaço para o seu mundo interior”.
 
A Síndrome de Exteriorização Existencial, dentro da Teoria da Inteligência Multifocal, é caracterizada, em resumo, pela dificuldade de interiorização. Segundo Cury, esta síndrome projeta o ser humano para fora de si mesmo, atrofiando o processo de reflexão e de consciência crítica.
 
O mesmo investigador e autor de diversas obras, alerta que, “há uma ansiedade muito preocupante nos indivíduos da nossa sociedade em preferir passar horas consumindo compulsivamente todo o tipo de estímulos externos, materiais, digitais, entre outros, do que vivenciando momentos consigo mesmo”.
 
Recordando que, os momentos de interiorização são muito importantes para a nossa saúde física e mental, o mesmo autor que também já tinha abordado o tema na obra Inteligência Multifocal, sublinha que, o uso incorreto dos equipamentos tecnológicos pode levar à doença, uma vez que todos precisamos de um espaço e de tempo para estarmos connosco próprios diariamente, pelo que devemos aprender a controlar esses estímulos stressantes e  dosear o uso desses equipamentos. O autor fala mesmo numa dependência face aos meios digitais equiparada às drogas, na medida em que muitas pessoas já não conseguem viver sem que estejam sempre a procurar informação, a ler e a enviar mensagens, a contactar com pessoas, a colocar gosto e a tecer escassas opiniões sobre uma foto ou um comentário de alguém.
 
Cury clarifica que, um primeiro sinal desta síndrome é a dificuldade de o sujeito estar consigo próprio e o stress que sente só de pensar que não tem nada para fazer ou para se concentrar e que “terá de viajar para dentro de si”. Este é um primeiro sintoma de que existe uma fuga da realidade interior e de que o sujeito não está a lidar bem com os estímulos do exterior, a ponto de se sentir dependente deles e com dificuldade em entrar dentro de si.
 
São muitos os especialistas na área da psiquiatria que acrescentam,  que, estamos a colocar a nossa existência em terceiro plano e, isso é um perigo”. Temo-nos tornado “indivíduos totalmente desconectados, de comportamento ausente, desprovidos de autoconhecimento”. Como consequência disso, o que sabemos sobre nós próprios é cada vez menor. Temos dificuldades em identificar aquilo que nos faz bem, que nos faz felizes e aquilo de que gostamos em detrimento da concentração e do desgaste resultante do excesso de informação e de ligação. Estamos ligados aos outros, mas damos muito pouco de nós mesmos, falamos muito pouco naquilo que realmente pensamos e sentimos, pelo que, na posição dos especialistas, estamos a tornar-nos cada vez mais vazios.
 
Perdemos as raízes dentro de nós mesmos.  Perdemos a nossa autorresponsabilidade, sublinham os especialistas acrescentando que, “a nossa felicidade passa a depender de estímulos externos, que se tornam cada vez menos eficazes, devido à psicoadaptação”.
 
Um outro aspeto que muitos autores apontam é o facto de, cada vez mais agirmos à distância, na medida em que, isso nos coloca em “piloto automático”. Como consequência deste novo “estilo de vida”, estamos a acarretar cada vez mais ansiedade, angústia e vazio existencial. Muitas vezes, não nos apercebemos da razão pela qual nos sentimos assim, pois a explicação implica ter de ir ao fundo de nós, ouvir os nossos pensamentos e sentimentos, sublinham os entendidos.
 
Em muitos casos, uma psicoterapia pode ser a melhor ajuda para o problema quando este se apresenta já em estado avançado. O ideal é sempre que, cada um de nós tome consciência dos seus comportamentos, que se afirme e tome uma posição perante a situação. Cury não tem dúvidas de que, quando o “eu” é o autor da sua própria história, sabe muito melhor gerir os seus pensamentos e sentimentos, pelo que, dar força a esse “eu” e torná-lo responsável pela sua vida, é o primeiro passo para nos afastarmos desta e de qualquer outra dependência e para nos aproximarmos muito mais daquilo que somos e queremos.
 
Fátima Fernandes