Família

Tem um filho adolescente? Saiba como lhe colocar limites

 
É amplamente defendido que, a adolescência é uma fase desafiante para pais e filhos, sobretudo devido às muitas transformações pelas quais os jovens passam e que nem sempre são bem interpretadas pelos progenitores.

É um facto que, nessa idade, os jovens precisam de mais autonomia e de ter algum controle sobre as suas escolhas e decisões, no entanto, é fundamental que os pais lhes coloquem alguns limites.
 
Esses limites são essenciais para um desenvolvimento saudável, para os proteger dos perigos e, acima de tudo, para que os jovens se sintam mais seguros, por isso, não hesite em colocá-los sempre que necessário.
 
É ainda de realçar que, apesar de ser uma fase em que os jovens já se afastam mais dos pais, isso não traduz que igualmente os progenitores se distanciem dos filhos e que os deixem à sua mercê. Os jovens precisam muito da orientação dos mais velhos, de uma autoridade e de ter um ombro amigo a quem recorrer quando se sentem perdidos. Essa também é uma função dos pais para além do afeto, compreensão e carinho.
 
Na posição dos especialistas, para colocar limites a um adolescente é preciso ter em conta que já não se trata de uma criança, mas que também não é um adulto, por isso, as regras devem ser claras  e diretas.
 
Generalidades e ambiguidades são inúteis quando se procura uma mudança no comportamento dos nossos filhos. É importante fornecer orientações simples e claras que não deixem dúvidas sobre o que espera deles. Evite frases como: “Comporta-te”. Em vez disso, faça pedidos diretos como: “A tua hora de chegar a casa é às 22h”. Igualmente deverá tratar o jovem com respeito, não chamar nomes e ainda menos gritar, pois isso ajudará a manter uma relação saudável e de respeito mútuo. Eduque pela positiva e não dê especial ênfase ao erro. Por exemplo, em vez de lhe dizer que “deixas sempre tudo desarrumado”, opte por lhe pedir que arrume o quarto antes de sair.
 
Num segundo ponto, tenha em mente a importância de uma disciplina consistente e, nesse caso, não arraste os desafios de autoridade do seu filho. Por norma, os jovens costumam desafiar a autoridade dos pais e evitar seguir as regras sempre que possível. Isso não é patológico; faz parte do processo de desenvolvimento e maturação.
 
No entanto, diferentes estudos mostram que é importante que a disciplina em casa seja firme e consistente para que os jovens internalizem as orientações educativas. Neste contexto, torna-se fundamental que, os pais estejam de acordo no modelo educativo a aplicar aos filhos e que sigam o mesmo rumo, já que, é na desunião que, eventualmente os jovens poderiam encontrar “uma fuga à regra”.
 
Além disso, é imperioso que os limites sejam sempre os mesmos e não variem dependendo da insistência do adolescente ou do cansaço dos adultos. De nada serve aos pais definir regras que depois não são cumpridas ou que variam em função do contexto. Isso ainda baralha mais a situação e não leva a um porto-seguro.
 
Registe ainda mais um ponto que se designa por consequências naturais e consistentes. Pretende-se reforçar que, o facto de se estabelecer limites a um adolescente não traduz que pais e filhos entrem num clima de conflito e que se afastem por isso, mas sim que o jovem receba uma linha de orientação e que os pais também saibam aquilo com que podem contar dele. Não se trata de uma luta pelo poder e ainda menos de uma forma de obediência do rapaz ou rapariga. O objetivo principal é protegê-lo, orientá-lo e fornecer-lhe ferramentas que o ajudem a enfrentar a vida. Assim, o mais natural e positivo é educar pelas consequências, e não pelo castigo.
 
Isso implica que as repercussões da má conduta do jovem devem ser proporcionais às suas ações e relacionadas ao fato ocorrido. Por exemplo, se ele excedeu as horas de uso do smartphone, não faria muito sentido proibi-lo de sair de casa; seria mais apropriado limitar o uso desse dispositivo nos próximos dias.
 
Um outro ponto a ter em conta é a importância do diálogo e da flexibilidade. Para tal, os pais devem entender que, a adolescência é uma fase que traz consigo muitas mudanças. Portanto, o apoio dos pais é essencial e requer uma boa capacidade de diálogo e de negociação. Em primeiro lugar, o jovem deve conhecer as regras que os pais estabeleceram para evitar que esteja sempre a atropelá-las. Se souber o tempo que tem para jogar videojogos, para ver TV, a hora de chegar a casa e daí por diante, não há razão para não cumprir essas orientações, mas também é fundamental que os pais lhe mostrem recetividade e capacidade de negociação. É o dia do aniversário de um amigo e ele pede para chegar a casa um pouco mais tarde. Claro que se pode abrir uma exceção.
 
Além disso, é muito positivo envolvê-los na definição das regras e consequências. Dessa forma, é mais provável que  os jovens se envolvam e se comprometam a segui-las.
 
Por outro lado, os limites não precisam de ser excessivamente rígidos e imóveis. À medida que o adolescente cresce, mostra maturidade e ganha a confiança dos pais, é possível expandir os privilégios. Neste ponto, é fundamental reter que, negociar com os filhos reduz o surgimento de conflitos e contribui para criar relações familiares mais próximas e harmoniosas. O seu filho faz-lhe um pedido, ouça-o e, na medida do possível, ajuste-o à situação. Conversem abertamente sobre o assunto e claro que os pais podem ceder se assim o desejarem.
 
Um último ponto a ter em conta e, não menos importante, é a gestão emocional. É essencial que, a relação flua com o mínimo de conflitos possível e, para isso, é fundamental a compreensão, o diálogo, a cedência e o estabelecimento de limites. Quando se fala na importância da gestão emocional, pretende-se que, o jovem não tenha de fazer apelos emocionais para ter o que quer e que os pais igualmente não necessitem de fazer chantagem com o adolescente. A conversa é o equilíbrio para tomarem decisões. As regras são cumpridas e as exceções também, não há necessidade de envolver as emoções na situação, sob pena de se desencadearem sentimentos negativos de parte a parte.
 
Todos na família conhecem as regras e as consequências, e estas orientam a dinâmica diária.
 
Neste sentido, quando o seu filho se comportar de maneira inadequada, evite gritar, recriminar, culpar ou tratá-lo de forma grosseira, pelo que deverá apenas cumprir as consequências da falta de cumprimento das regras, como já referimos acima.
 
Para finalizar, anote que, os jovens que crescem com limites claros e consistentes tornam-se pessoas maduras, emocionalmente saudáveis e responsáveis. São capazes de tolerar a frustração e são menos propensos ao fracasso escolar. Além disso, são mais autónomos e decididos, e mais preparados para enfrentar a vida adulta.
 
Por tudo isso, não hesite em estabelecer regras em casa e por fazê-las cumprir. Os especialistas são unânimes ao reconhecer que, esta posição facilita a relação entre pais e filhos, mesmo que os mais novos reclamem no início ou que, em algumas situações, se mostrem menos colaborantes. É tudo uma questão de hábito, de persistência e de muita compreensão de parte a parte.
 
Fátima Fernandes