Comportamentos

Transforme a culpa em responsabilidade

 
A culpa é um sentimento muito doloroso e difícil de suportar, para além de nos paralisar os movimentos e os pensamentos.

Para tentar minimizar esse impacto negativo, a psicóloga clínica Joana Fojo Ferreira, apresenta uma reflexão que vale a pena considerar.
 
«Já experimentou o sentimento de culpa? Recorda-se do peso que sentiu? De ficar como que paralisado, como se nada o pudesse tirar dali, desse sítio escuro e pesado? É de facto o efeito que a culpa tem em nós, ela paralisa, bloqueia, impede o avanço, dificulta a reparação.
 
Sim, porque muitas vezes fizemos de facto coisas erradas, magoámos pessoas, fomos rudes ou negligentes, procrastinámos, não cumprimos os nossos objetivos por desleixo ou falta de organização, ou falta de motivação; e sim, de facto fomos nós os agentes, éramos nós que estávamos lá, a bola estava nas nossas mãos».
 
Com um texto publicado na Oficina da Psicologia, a mesma especialista prossegue: Mas a questão é: somos culpados ou somos responsáveis?
 
E poderá até parecer-vos redundante, poderão dizer-me “dá tudo no mesmo”. Mas sugiro que experimentem. De cada vez que derem por vocês a dizer “eu sou culpado” ou “a culpa é minha”, experimentem logo de seguida mudar para “eu sou responsável”, “a responsabilidade é minha”, e fiquem um bocadinho a olhar para vocês mesmos, não com os olhos de fora mas com os olhos de dentro, e apercebam-se se alguma coisa muda na forma como o vosso corpo reage, como o vosso corpo sente estas frases. O peso é o mesmo, ou há algo de diferente, talvez mais leve? Continuam a sentir aquela paralisia ou parece que a informação flui melhor, que é mais fácil sair daquele sítio escuro e doloroso onde caímos quando nos desiludimos connosco mesmos?
 
A diferença entre a culpa e a responsabilidade é que a culpa paralisa enquanto a responsabilidade mobiliza. O culpado fica estagnado no erro, a remoê-lo, a martirizar-se, sem conseguir sair dali. O responsável olha para o erro, tenta compreendê-lo, e percebe ainda que se foi responsável por ele, também é responsável pelo reparo, ou pela mudança.
 
O culpado desespera quando vê como a sua casa está desarrumada e fica a maltratar-se por ter deixado chegar a este ponto, o responsável entristece-se com a desarrumação a que se permitiu chegar, mas agarra em si próprio e começa peça a peça a arrumar.
 
Na mesma publicação, Joana Fojo Ferreira alerta: «Quando der por si a fazer coisas recorrentes de que não gosta, de que se ressente, obrigue-se a fazer esta mudança, transforme a culpa em responsabilidade, dê-se espaço e estímulo para reparar o erro, para mudar. E não se apresse demais, as mudanças e as reparações levam o seu tempo».
 
Fátima Fernandes