Não é novidade que as histórias são essenciais para o desenvolvimento das crianças e uma importante forma de aproximação entre pais e filhos, mas um novo estudo analisou a fundo a complexa - e em alguns pontos surpreendente - relação entre o crescer a ouvir ler livros e o desenvolvimento linguístico.
Tendo por base os resultados desse trabalho de investigação publicado na revista Pediatrics, a leitura em casa molda o cérebro das crianças desde a idade pré-escolar.
A partir dos resultados obtidos, os investigadores apresentaram diferenças significativas entre as crianças que ouvem e participam nas histórias que lhes são contadas pelos pais e as que ficam à margem dessa experiência.
Assim, as crianças cujos pais reportaram ler mais em casa, mostraram uma ativação bastante maior de áreas cerebrais numa região do hemisfério esquerdo ligada à integração multissensorial do que as restantes.
O principal autor do estudo, John S. Hutton, investigador clínico no Cincinnati Children's Hospital Medical Center clarificou que, esta zona do cérebro, que é conhecida por estar extremamente ativa quando as crianças mais velhas leem livros por si próprias, revelou o mesmo efeito quando as crianças mais novas ouvem histórias.
Neste sentido, este estudo vem acrescentar que, as crianças mais expostas a livros e à leitura em casa mostram uma diferença significativa de atividade em áreas do cérebro que processam associação visual, mesmo que, os mais novos estejam apenas a ouvir ou não haja imagens nos livros.
À Pediatrics o autor do estudo clarificou que, "Quando as crianças estão a ouvir histórias, estão a imaginar na sua mente", como exemplo Hutton mostrou como o cérebro infantil funciona no momento da ação: “o sapo saltou por cima do tronco”. Automaticamente a criança pensa: “Eu já vi um sapo, eu já vi um tronco, como é que isto será?"
De acordo com o autor do estudo, os diferentes níveis de ativação cerebral, sugerem que uma criança que tem mais prática a desenvolver estas imagens visuais terá uma maior probabilidade de desenvolver habilidades que, mais tarde a ajudarão a produzir as suas próprias imagens e textos.
Perante os resultados obtidos em várias etapas do estudo, o investigador afirma que a leitura ajuda as crianças “a perceber qual o aspeto das coisas e poderá ajudá-las na transição para livros sem imagens.”
Ao mesmo tempo, a história "Irá ajudar a construir melhores leitores no futuro, já que, as crianças desenvolveram essa parte do cérebro que as ajuda a perceber o que se passa no que acabaram de ouvir."
Na mesma revista de especialidade, o investigador demonstra que o livro poderá ajudar também a estimular a criatividade de uma forma que a televisão não consegue. "Quando lhes mostramos um vídeo de uma história, estamos a tirar-lhes o trabalho, já que as crianças não têm de imaginar a história; está apenas a ser-lhes dada."
O estudo concluiu ainda que a linguagem dos livros, quando comparada com a linguagem usada pelos pais ao falar com os filhos no quotidiano, é mais completa, expondo, por isso, as crianças a um vocabulário mais rico e alargado.
Partindo destes resultados, vale a pena dedicar alguns minutos diários a uma história que, também vai permitir que a criança adormeça mais confortada, mais acarinhada e, sobretudo, cansada!
Fátima Fernandes