Comportamentos

Vive em demasia os problemas dos outros? Este artigo é para si!

 
A psicologia chama-lhes pessoas absorventes ou esponjas porque são tão empáticas que deixam de viver a própria vida para se projetarem nos problemas e vivências dos demais.

É verdade que ser empático é positivo, mas quando esta habilidade é vivida em demasia, acaba por se tornar prejudicial na medida em que leva a que a pessoa se interesse mais pela vida alheia do que pela sua, que assuma responsabilidades pelos problemas dos outros e descure os seus, sem falar no facto de sofrer com as decisões e aborrecimentos dos outros e passar ao lado das suas próprias preocupações.
 
Na prática, as pessoas esponja pensam ser muito solidárias quando, na realidade, são quase como que herdeiras dos problemas dos outros, a ponto de quase se tornarem o centro das atenções, pois agarram tanto o problema que é como se lhes pertencesse, o que as faz carregar muita toxicidade e negatividade para as suas vidas. Muitas destas pessoas têm tempo livre e muita disponibilidade para ajudar, mas ao não saberem colocar limites, acabam por entrar em situações de tal forma complicadas que têm dificuldade em sair delas. Quer isto dizer que, é positivo ouvir o outro, mas envolver-se com algum pragmatismo, pois caso contrário, acaba-se por se mergulhar de tal forma no mundo do outro que se torna muito difícil sair. Depois, esta postura tem como impedimento o facto de não se conseguir nem resolver o problema do outro, nem seguir em frente com a nossa vida.
 
Como tudo o que é negativo não é desejável, devemos saber como lidar com essa particularidade que nos é prejudicial sabendo que, o limite é não viver o sentimento do outro. É saber que ser empático é muito diferente de ser absorvente ou uma esponja emocional.
 
Na realidade os termos parecem confundir-se, pois quando se começou a falar em empatia, passou-se a defender exaustivamente a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro, o que vivido em excesso, se torna num problema enorme, pois a pessoa desliga-se de si mesma e perde a capacidade de se proteger e de colocar limites naquilo que recebe do amigo, do colega ou do familiar.
 
Na posição dos especialistas na área da psicologia, temos de estar atentos e ser suficientemente pragmáticos para compreender que, cada pessoa se deve responsabilizar pelos seus problemas e que fala com o outro para colher uma perspetiva diferente da sua, uma opinião que o posso ajudar num momento de dúvida ou de dor. Ninguém consegue ajudar mais do que isso, mesmo o terapeuta em consulta o que faz é ouvir, apresentar pistas possíveis para a resolução de um problema e oferecer ferramentas que dotem a pessoa de capacidades para poder superar os seus problemas. No caso do amigo ou do familiar, a relação é tão próxima que, muitas vezes se perde a noção de limites, o que arrasta ambas as partes para o problema. Neste ponto é importante ter em conta que, todos nós devemos aprender a ser empáticos e pragmáticos ao mesmo tempo para que possamos criar a devida distância entre o que o outro nos diz e aquilo que sentimos em relação a isso. Saber ouvir sem cairmos no problema do outro é a defesa necessária para sermos bons amigos, colegas ou familiares, sob pena de entrarmos todos no mesmo “beco sem saída”.
 
Ao mesmo tempo, é preciso ter em conta que, a maioria das pessoas não quer que o outro lhe resolva os problemas, mas sim falar acerca daquilo que as inquieta, no entanto, envolvem tanto quem as ouve que, se esses ouvintes não se souberem proteger acabam por se sentir obrigados a dar uma solução ao outro. É neste momento que temos de ser capazes de assumir a nossa posição e dizer “não” ao outro e “sim” a nós mesmos. Não devemos ter vergonha de aconselhar uma consulta com um profissional de psicologia a um colega, familiar ou amigo que não está em condições de resolver os seus problemas, pois esse é o melhor conselho que se pode dar a alguém que está com um problema grave e que não o consegue resolver. Com esta base de distanciamento percebemos que não podemos dar resposta a tudo. Todos temos as nossas vidas, as nossas exigências, obrigações e compromissos. Temos os nossos amigos e sabemos lidar com os seus desabafos e problemas na medida certa, pois caso contrário, a amizade ou relação familiar complica-se e, em muitos casos, perde-se.
 
Assim e, para terminar, é importante reter esta ideia: “Não podemos abraçar os problemas dos outros, porque isso nos vai fazer acarretar muita negatividade e problemas para a nossa vida. O que podemos fazer é apresentar uma escuta sincera e ajudar somente naquilo que está ao nosso alcance”.
 
Fátima Fernandes