Comportamentos

“Crianças que não brincam, ficam doentes” – Mário Cordeiro

 
Numa altura em que o tema dos “chumbos” domina os debates e as inquietações de todos quantos pensam sobre a criança, sobre o processo de ensino e aprendizagem e o bem-estar dos mais novos, há uma questão que parece transversal: “brincar não é uma coisa de ontem. Brincar é uma atividade de hoje e para amanhã”.

 
O pediatra Mário Cordeiro disse à TVI que, “existe uma pressão enorme em muitos pais para que as crianças definam o seu percurso académico aos três, quatro anos de idade. Essa pressão faz com que o tempo e o espaço de brincadeira da criança, fique altamente comprometido, pois é substituído pelas letras, números e conteúdos académicos”.
 
Na posição deste especialista, “não podemos programar o futuro das crianças desta forma, muito menos tão alargado, pois os pais estão a esquecer-se do presente e daquilo que a criança tem de viver e experimentar para ser um bom aluno no futuro”.
 
Mário Cordeiro não tem dúvidas de que, “o brincar tem dado lugar a um sistema de educação em que ‘se abre a cabeça da criança’, se enfiam os conteúdos e se pensa que vão dar lugar a alunos brilhantes”! Nas mesmas declarações a este canal televisivo, o pediatra sublinha que, “os pais de hoje; não são todos, mas são muitos, os que consideram que brincar é uma perda de tempo, pelo que oferecem atividades ditas intelectuais aos filhos para que cresçam mais depressa e se situem no caminho do curso superior e, o mais grave, as brincadeiras são vistas como uma idiotice”.
 
Sem tempo para brincarem, muitas crianças acabam por se sentir frustradas e tristes, razão pela qual Mário Cordeiro anota que, “ficam doentes”. Uma criança que não sente vontade de brincar, “que não tem tempo para extravasar essas energias e partilhar algo com os seus pares, acaba por ficar com as defesas em baixo e, naturalmente que todo o seu desempenho fica comprometido; até o académico”!
 
Dando conta de que, “uma criança tem de ser vista como um todo e não somente o aluno que vai ser o trabalhador quando for adulto. Até se chegar lá, há um percurso  para descobrir, para experimentar, para corrigir e melhorar. Esta é a fase do desenvolvimento humano que, não é do passado; é de ontem, de hoje e do amanhã”.
 
No que se refere ao estudo divulgado recentemente que coloca Portugal numa posição desfavorável no que se refere ao insucesso escolar, são muitos os entendidos que defendem uma maior aposta no apoio às crianças, bem como no respeito pelos tempos diferentes de aprendizagem, já que com uma boa articulação entre atividades, o “chumbo” deixa de ser uma razão de existir porque se passa a investir em atividades diferentes para dizer as mesmas coisas e proporcionar a aprendizagem das matérias.
 
Neste ponto de vista, o pediatra Mário Cordeiro renova a sua crença de que, “também a brincar se aprendem as matérias escolares. As crianças precisam desse tempo, desses estímulos e de desenvolverem também os seus interesses e potencialidades”.
 
Com a mensagem de que precisamos de mudar estas “novas mentalidades” e recuperar o direito de brincar que foi dado às gerações anteriores, muito menos preocupadas com este ritmo acelerado, muito mais livres para brincarem na rua, para “esfolarem os joelhos”, Mário Cordeiro sublinha que “brincar não está fora de moda e jamais o estará. Brincar faz parte da criança onde quer que ela se encontre no mundo”.
 
O mesmo pediatra sustentou que, “o percurso académico define-se naturalmente quando a criança começa a frequentar a escola, sendo que em paralelo, a brincadeira permite que a criança se conheça, descubra o que a rodeia e se saiba relacionar com os outros. Todas estas áreas têm de ser entendidas em conjunto, sob pena de só produzirmos cérebros que só pensam numa área de vida. O que se pretende é que tenhamos seres humanos capazes de pensar e de saber lidar com as mais variadas situações de vida e, acima de tudo, que sejam felizes e realizados e, isso depende de uma construção contínua”.
 
As crianças que brincam têm muito melhores resultados escolares porque descomprimem, porque colocam em causa o que aprenderam, porque desafiam os limites e ganham autonomia. Brincar faz bem e é essencial ao equilíbrio humano, em todas as idades!
 
Fátima Fernandes