Sabe o que é a Anosognosia?

 
Recorrendo a uma linguagem simples, a anosognosia é um sintoma que reflete a incapacidade de uma pessoa reconhecer que tem uma doença ou um problema de saúde.

 
A maior dificuldade em lidar com a anosognosia é que o paciente, por não assumir; por não conseguir ver que está doente, não facilita o tratamento.
 
Muitos estudos têm sido realizados nesse sentido, no entanto, sem o apoio de familiares e amigos, torna-se muito complicada a tarefa de “fazer chegar ao outro” a necessidade de intervir quando não se sabe que é preciso e para que é preciso.
 
Os investigadores dão o exemplo de um cardíaco que não assume que tem essa doença e que acaba por não se tratar. O mesmo se passa com as paralesias. 
 
A pessoa não assume que tem limitações motoras e arrisca-se a andar, sofrendo acidentes constantes. A anosognesia é precisamente essa dificuldade em tomar consciência de uma doença. Não se trata e não previne o seu agravamento.
 
O termo anosognosia foi proposto por Babinski em 1914 para se referir ao fato de que muitos pacientes neurológicos, principalmente aqueles com lesões hemisféricas à direita, apresentam dificuldades em perceber conscientemente os seus déficits. 
 
Uma das manifestações mais frequentes de anosognosia é a impercepção da hemiplegia (geralmente esquerda), a qual foi descrita por Pick (1898) e posteriormente discutida por Anton (1899).
 
Manifestações de anosognosia:
 
A incapacidade de perceber a sua própria condição e estado de saúde é a primeira manifestação deste sintoma. O uso de compensações ou exercícios funcionais requer a colaboração e motivação do paciente e, portanto, um certo grau de percepção do deficit, o que nem sempre se consegue conjugar devido precisamente a essa incapacidade de reconhecimento aceitação de uma limitação.
 
Tendo por base os trabalhos realizados pela Universidade da Saúde em Toyoake, Japão, Miashita e cols. (1997), os investigadores perceberam os correlatos clínicos, neuropsicológicos e neurorradiológicos da impercepção da hemiplegia esquerda em pacientes com lesões hemisféricas hemorrágicas de localização subcortical.
 
Num estudo que envolveu cinquenta pacientes (15 do sexo feminino), todos com lesões hemisféricas hemorrágicas à direita e atendidos até 30 dias após a instalação do íctus. A média de idade foi igual a 58,2 anos. Todos os pacientes eram destros. A hemorragia foi localizada no putâmen em 28 casos e no tálamo em 22 casos.
 
Além de realizarem tomografia computadorizada do encéfalo e exame neurológico, os pacientes foram submetidos a uma mini-bateria de exame neuropsicológico e a um questionário sobre impercepção da heminegligência. 
 
Os testes neuropsicológicos utilizados foram: Mini-exame do Estado Mental; fluência verbal; digit span (ordem direta e inversa); teste Kana-hiroi (um teste de busca visual em que os 61 alvos são as cinco vogais japonesas apresentadas em meio a um texto narrativo com 406 letras). O diagnóstico de heminegligência visoespacial foi feito com base nos testes de bissecção de linhas, cancelamento de linhas e cópia de figuras, usando um critério que privilegiava a sensibilidade.
 
O questionário neuropsicológico utilizado para diagnosticar a impercepção da hemiplegia utilizou questões simples como: Tem algum problema de saúde? Qual o motivo desta consulta? Sente algum tipo de paralesia? Tem dificuldades em andar? entre outras.
 
Nesta sequência, os investigadores detetaram a anosognosia, sobretudo perante a negação dos pacientes face à sua doença ou sintomas que a mesma lhes conferia.
 
O estudo demonstrou que não foi encontrada qualquer associação entre a presença de anosognosia e idade, sexo, modalidade de tratamento (cirúrgico ou conservador). Tampouco foram observadas associações entre a presença de anosognosia e o desempenho nos testes neuropsicológicos, considerando inclusive a presença de heminegligência ou apraxia construtiva.
 
Como resultados, verificou-se que, a presença de anosognosia interferiu significativamente no processo de recuperação funcional dos pacientes. As atividades da vida diária foram avaliadas por meio do índice de Barthel. 
 
Os pacientes com anosognosia demoraram mais tempo a receber atenção neuropsicológica, necessitaram de tempos mais longos de hospitalização e apresentaram menos autonomia no que se refere ao funcionamento quotidiano. 
 
O desaparecimento dos sintomas de impercepção após três meses em cerca de 2/3 dos casos sugere que, ao menos quando causada por hemorragia, a presença de anosognosia tem maior potencial para interferir na fase aguda do processo de reabilitação.