Família

“Os pais não são ‘os amigos’ dos filhos”

 
No seu habitual apontamento na TVI, Quintino Aires reforça a sua posição: “Os pais não são amigos dos filhos”.

 
Na posição deste conceituado psicólogo, “é importante usar bem as palavras e distinguir o significado do que se diz. 
 
Uma relação amorosa é aquela que envolve dois adultos que se acrescentam e completam num relacionamento que envolve contacto físico. 
 
Os amigos são aquelas pessoas que passam pela nossa vida e que, com as naturais mudanças ao longo dos tempos, podem ir e voltar ou mesmo perder-se no percurso, o que não pode acontecer numa relação entre pais e filhos, pelo que se pode afirmar que pais e filhos partilham uma relação de afeto para a vida.”
 
O mesmo especialista realça que, “não podemos encarar os nossos filhos como aqueles que vão ocupar o lugar dos amigos que não temos pelas mais variadas razões, já que estamos a condicionar-lhes o desenvolvimento e a impedir que façam as suas escolhas, conquistas e que aprendam com outras pessoas fora da relação familiar. 
 
Existe uma tendência para condicionar as crianças em prol dessa amizade que não se consegue encontrar entre adultos, o que não é correto.”
 
Quintino Aires adianta que, “ser pai ou mãe é ser capaz de gerar um ser, de lhe dar afeto, compreensão, educação e de o preparar para a vida, sabendo que, quanto melhor correr esse processo, melhor será a relação no futuro entre pais e filhos. 
 
É comum que me cheguem à consulta pais que se dizem amigos dos filhos e que na hora de os ajudar não sabem qual a melhor posição a assumir, já que tudo se confundiu ao longo dos tempos. 
 
Os pais têm uma relação afetiva que sabe respeitar as escolhas dos filhos e os apoia quando eles mais precisam, não podemos descartar os nossos filhos quando eles não fazem aquilo que não queríamos para eles, ou nos desiludem com as suas amizades e namoricos, por isso é fundamental assumir os limites dos pais na relação com os filhos.”
 
Apontando ainda a dificuldade que é dizer “não” a um amigo, Quintino Aires acredita que, “é fundamental não encarar os filhos como amigos, mas sim como uma relação afetiva que requer respeito, autoridade e liberdade para que os mais jovens possam fazer o seu natural processo de desenvolvimento de forma saudável e equilibrada.”
 
A completar a opinião deste investigador, são muitos os estudos que sugerem: “as crianças desenvolvem-se de forma emocionalmente mais segura quando os pais mostram de forma muito clara o seu afeto e quando são capazes de reforçar positivamente os sucessos dos filhos.” 
 
As investigações também dão conta da importância da colocação de limites aos comportamentos das crianças, pelo que, “um estilo parental permissivo tende a gerar crianças vulgarmente apelidadas de mimadas e com fraca resistência à frustração.”
 
Não é papel dos filhos serem amigos dos filhos, lê-se no site: “A Psicóloga” de Cláudia Morais.
 
Para que não haja margem para dúvidas, “as crianças precisam de afeto e também precisam de se divertir com os pais. Mas isso não deve implicar uma postura de laissez-faire. Pura e simplesmente não é ajustado permitir que cada criança viva de acordo com as suas próprias regras, ignorando a necessidade de impor barreiras, dizer não e até de implementar castigos.”
 
Cláudia Morais sublinha: “vejamos um exemplo prático: se uma criança de 5 anos decidir cortar o pelo ao cão da família, como está habituada a fazer em relação ao cabelo dos seus bonecos, é expectável que os adultos à sua volta intervenham – e não apenas em defesa do animal de estimação. 
 
A verdade é que a inexistência de retorno negativo, de imposição de regras, geraria problemas sérios para o desenvolvimento emocional da criança que, estou segura, teria muito maior probabilidade de enveredar por comportamentos problemáticos mais cedo ou mais tarde.”
 
A mesma investigadora citada no site: “A Psicóloga” adianta: “os pais têm de ter coragem para intervir e contrariar a vontade dos filhos, impondo-se enquanto figuras de autoridade (que os amigos não são) que os poderão ajudar a transformar-se em adolescentes e adultos emocionalmente seguros e inteligentes. Para isso, é preciso firmeza e capacidade para reagir sempre que os filhos façam algo que não seja aceitável.”
 
E clarifica: “Mais: estes limites devem fazer parte de regras bem definidas, em que as consequências para cada escolha futura estejam claras. Claro que as regras também devem traduzir o exemplo prático do comportamento dos pais – a ideia do ‘Faz o que eu digo, não faças o que eu faço’ é absolutamente antipedagógica.”
 
Os pais devem ser capazes de mostrar o amor que sentem pelos filhos de forma clara, inequívoca. E isso também passa por serem capazes de se divertir com as crianças/ os adolescentes, desde que nunca deixe de ficar claro quem é o progenitor e quem é o filho, isto é, quem é que tem o dever de fomentar a segurança de quem, quem é que educa quem, adverte Cláudia Morais.
 
Fátima Fernandes