Comportamentos

Como acabar uma relação sem discussões?

 
Em primeiro lugar, importa registar que, o ghosting é uma forma atual de terminar um relacionamento sem enfrentar conflitos. A pessoa “desaparece” sem dar explicações, não atende as chamadas, bloqueia os contactos e faz de conta que nada se passou.

Esta é uma forma atual de terminar os relacionamentos que, aparentemente parece mais fácil, na medida em que não há discussões, não se dá espaço e tempo para o outro poder reagir, sem esquecer que não há justificações de qualquer espécie.
 
Está a ser cada vez mais utilizado pelos internautas, dada a facilidade com que se inicia e termina um relacionamento nas redes sociais e, são cada vez mais as pessoas a praticá-lo, razão pela qual qualquer um de nós já praticou ou foi vítima de ghosting.
 
Este fenómeno surge da consciência de que é muito doloroso terminar uma relação seja ela mais íntima ou de amizade, no entanto, os especialistas alertam que a mesma pode acarretar ainda mais sofrimento do que o “modelo” tradicional.
 
Enquanto que, no passado recente se marcava um encontro para conversar com a pessoa, se explicavam as razões para terminar uma relação e se ouvia o que o outro tinha para dizer correndo o risco de sair muito magoado da situação e ouvindo aquilo que não se quer, atualmente opta-se cada vez mais pelo silêncio e pela ausência como se de um “fantasma” se tratasse, pois a pessoa desaparece sem deixar rasto.
 
Para os entendidos nesta matéria, esta segunda opção é mais dolorosa porque faz com que o outro demore mais tempo a fazer o luto.
 
Ao mesmo tempo, quem pratica o ghosting também não se liberta tão facilmente do sentimento de culpa e, em muitos casos, do remorso, uma vez que sabe que não enfrentou o outro e que não lhe deu uma oportunidade para dizer o que pensa sobre o assunto.
 
Segundo os psicólogos, estes sentimentos negativos que assolam tanto a vítima como o praticante acarretam uma diminuição na autoestima, aumentam o tempo do luto e dão espaço para muitas mais ruminações.
 
Ao certo não se sabe o verdadeiro impacto desta técnica, mas acredita-se que, o contacto presencial e o assumir a situação permite mais facilmente colocar uma pedra sobre o assunto e seguir em frente com mais facilidade, sobretudo porque ocorre uma responsabilização pessoal e o assumir de uma posição.
 
No mesmo contexto, é preciso anotar que, a “vítima” pode sofrer grandes danos na sua autoestima, sentir-se envergonhada, humilhada e rejeitada. Além disso, a pessoa pode envolver-se num luto mais longo e complicado do que o normal porque foi privada de dar um fim ao relacionamento. Isso pode levar a problemas de confiança em relacionamentos futuros.
 
Por outro lado, quem pratica o ghosting também pode sofrer consequências. Principalmente, o sentimento de culpa e o remorso por terem feito mal a outra pessoa com quem partilhavam um vínculo, além da vergonha e do desconforto de não saber enfrentar e resolver situações sociais complicadas.
 
Os especialistas aliviam a pressão apontando algumas pistas para superar o ghosting, são elas:
 
Aceite o que aconteceu
 
Uma reação inicial muito comum quando a outra pessoa desaparece é pensar que algo lhe aconteceu e, por isso, ela não responde. Isso pode levá-lo a procurá-la persistentemente ou a tentar contactá-la sem obter uma resposta, prejudicando ainda mais a sua autoestima.
 
É importante aceitar o que aconteceu e supor que o outro optou por não ter contacto novamente. Além disso, é preciso aceitar que esta é uma situação dolorosa, reconhecer a tristeza, a deceção e a raiva que o ghosting gera.
 
Cuidado com as atribuições causais
 
Quando uma pessoa é vítima do ghosting, muitas vezes tende a culpar-se pelo que aconteceu. Assim, pode interpretar que o outro cortou o contacto porque cometeu um erro ou porque não é interessante ou atraente o suficiente.
 
Se por acaso está a viver uma situação semelhante, lembre-se de que, as ações das outras pessoas falam muito mais sobre elas próprias do que sobre os outros, por isso, é natural que a pessoa que impede agora o contacto consigo não esteja bem ou que queira dar um novo sentido à sua vida. Provavelmente o seu afastamento nada tem a ver consigo, mas com ela mesma.
 
Essa pessoa certamente que está a passar por uma fase de falta de assertividade e medo de enfrentar os conflitos, por isso, procure desligar-se dela.
 
Por outro lado, é possível cair no erro de acreditar que, se isso aconteceu uma vez, acontecerá novamente no futuro em novos relacionamentos. Lembrar-se de que este é um evento pontual poderá ajudá-lo a enfrentar as interações futuras com menos desconfiança.
 
Siga em frente
 
Anote que, mesmo sendo uma relação de curta duração, com pouco para contar, a sua perda repentina e sem uma justificação pode ser dolorosa, logo, depois de sofrer o ghosting, é natural que passe por um processo de luto.
 
Concentre-se em si mesmo, nos seus interesses e objetivos e não parta de imediato para uma nova relação. Esse tempo será precioso para que se encontre e reencontre e, sobretudo para que se fortaleça e arrisque os seus valores e sentimentos com alguém que lhe mereça mais confiança.
 
Cuide do seu diálogo interno. Quando uma pessoa de quem gosta desaparece, a mente enche-se de perguntas e dúvidas que precisam de respostas. É comum ‘ruminar’ e ser invadido por  pensamentos repetitivos como que numa tentativa de procurar saber a razão dessa partida assim inesperada e sobretudo, a razão pela qual isso aconteceu connosco.
 
Pode muito bem acontecer que nunca chegue a saber a razão pela qual o outro partiu, pelo que é muito mais interessante cuidar de si e da sua saúde mental. Portanto, tente concentrar-se no presente e no futuro, e deixe o passado para trás.
 
Para terminar, os especialistas recomendam que se evite o ghosting, que, sempre que possível, se opte por enfrentar as situações já que, como já foi referido acima, é mais fácil de ultrapassar. Em caso de sofrimento exagerado, procure o apoio de um psicólogo que certamente lhe fornecerá as ferramentas necessárias para prosseguir o seu caminho. Ao mesmo tempo, é importante reconhecer que o fenómeno existe, que pode acontecer a qualquer pessoa e que, por isso, devemos proteger-nos o melhor que conseguirmos.
 
Fátima Fernandes