Curiosidades
É uma pessoa emocionalmente dependente? Este artigo é para si.
Muitas vezes, a pessoa não se apercebe do seu grau de dependência, a menos que isso lhe seja dito ou que, por algum motivo precise de recorrer a um tipo de apoio psicológico e, aí se aperceba de que só vive em função de alguém, que tem medo de construir o seu projeto de vida sozinho, entre outros fatores.

 
A herança familiar conduz, em larga medida, a este sentimento de incapacidade e de dependência. Uma infância pouco consistente e que não permita a autonomia da criança, leva a que o sujeito se sinta incapaz de se confrontar com a realidade e com os vários desafios da vida.
 
Segundo a psicóloga Priscilla Tietbohl, «as pessoas com personalidade dependente realizam  os seus objetivos em função dos desejos de outra pessoa», enquanto que, «as pessoas saudáveis são capazes de sentirem as suas próprias necessidades e considerá-las com seriedade, organizando o seu mundo de acordo com os valores que acreditam e estabelecendo redes de relacionamentos viabilizadores, vivenciados na reciprocidade, gerando satisfação mútua».
 
A mesma especialista realça que, uma personalidade dependente vive mergulhada no medo,  sofrendo no âmago de relações autoritárias».
 
Priscilla Tietbohl recorda que, de acordo com o Manual de Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais «esses indivíduos apresentam necessidades excessivas de serem cuidados, e um intenso medo da separação da figura de apego, que se manifesta no início da vida adulta».
 
Neste sentido, o Transtorno de Personalidade Dependente caracteriza-se pela «dependência patológica do outro». O indivíduo sente-se incapaz de conduzir a sua vida e de decidir sobre o seu futuro e os seus relacionamentos, «mesmo tendo capacidades e recursos para fazê-lo».
 
Essas pessoas possuem, na perspetiva de Priscilla Tietbohl, «grande dificuldade em decidir sobre assuntos quotidianos e necessitam de muitos conselhos para definirem aspectos importantes e irrelevantes das suas vidas». Ao mesmo tempo,  possuem grandes dificuldades para iniciarem projetos independentes, «sentindo grande desconforto e desamparo quando estão sozinhos». Quando alguns dos seus relacionamentos íntimos são rompidos, «procuram de maneira imediata novos relacionamentos como fonte de carinho e amparo».
 
Para esta psicóloga, é fundamental que uma criança cresça e se desenvolva num ambiente de autoconfiança e autonomia. Neste sentido garante que, «a autoconfiança gerada na infância e consolidada ao longo do desenvolvimento psicossocial depende também de fatores intergeracionais». As famílias mais saudáveis «incentivam a autonomia e a autoconfiança dos filhos, não rompendo com tais familiares, mas transcendendo na direção da realização dos seus projetos e desejos da vida adulta».
 
Os pais devem preparar os filhos para o seu plano de vida e tal começa logo com o início da escola. Devem mostrar à criança, mediante a sua idade, quais são os benefícios de estudar, de ser bom aluno, de se relacionar com os colegas e adultos que trabalham nessa instituição de ensino. Ao mesmo tempo, devem ajudar a criança e não realizar as tarefas por ela para que, dessa forma, cada vez mais se sinta encorajada para realizar por si mesma as mais variadas atividades. O diálogo também constitui uma forte preparação para as crianças e jovens que, para além de aprenderem o mundo através dos seus pais, vão percebendo que os outros também lhes servem de influencia. O facto de poderem colocar as suas dúvidas e pedir uma orientação para um problema também os ajuda a crescer com mais segurança e liberdade.
 
Um adulto que se confronte com esta dependência emocional deverá pedir apoio psicoterapeutico para que possa aprender a viver de uma forma mais confiante, a acreditar mais nas suas capacidades, a desenvolver a capacidade de se conhecer melhor, de dar mais de si e de receber dos outros em pé de igualdade.
 
Na psicoterapia tais indivíduos serão fortalecidos nas suas capacidades relacionais, reconhecidos e incentivados nas suas capacidades, gerando condições de construírem as suas vidas de maneira independente e com força realizadora.
 
Fátima Fernandes