Família

O que muda no homem quando é pai?

 
Os trabalhos de investigação realizados em homens após a paternidade mostram mudanças significativas a vários níveis, inclusive hormonais.

Na generalidade, os homens de hoje definem a parentalidade como uma fase «complexa e maravilhosa» ao mesmo tempo e vivem essa fase com muito empenho e disponibilidade, reforçam os investigadores.
 
Os estudos levados a cabo demonstram que, há homens que vivem a paternidade de forma tão intensa como a maior parte das mulheres, chegando mesmo a sofrer de depressão quando têm de se afastar dos filhos.
 
Os estudos mostram que, biologicamente, os homens nascem dotados de ferramentas para serem pais e desfrutarem dessa experiência, ainda que, nem sempre tenha sido assim e que, muitos homens passem mais ao lado dessa experiência. Para os investigadores são as questões culturais que, muitas vezes, afastam os homens dos cuidados e dos afetos com os mais novos.
 
Os estudos revelam que, a natureza preparou o pai e a mãe para que vivam a experiência da parentalidade como uma área de vida intensa e cheia de significado, pelo que, quem não desfruta desta condição é porque assim não foi preparado pela sociedade, já que fisiologicamente homens e mulheres estão equipados para a relação com os filhos.
 
Tendo por base um trabalho levado a cabo pela  Emory University e publicada na revista Hormones and Behavior, a relação entre a experiência de ser pai e as mudanças hormonais é evidente. Para se chegar a esta conclusão, os investigadores recrutaram um grupo de voluntários com algo em comum: todos tinham filhos saudáveis com idades entre 1 e 2 anos.
 
Todos os participantes foram monitorizados por meio de ressonância magnética funcional do cérebro. A cada um dos voluntários era mostrada uma fotografia do seu filho, juntamente com outra de uma criança e um adulto desconhecidos.
 
A experiência verificou que havia uma maior atividade neuronal nos sistemas cerebrais associados à recompensa e empatia quando esses pais viam as fotos dos seus filhos. Na posição dos investigadores, isso deve-se a um aumento na produção de oxitocina, o famoso “hormônio do amor”. Refira-se que, estudos semelhantes realizados com mulheres já tinham chegado às mesmas conclusões.
 
Outros trabalhos de investigação já haviam demonstrado que, os pais que cuidam dos seus filhos desde bebés, apresentam laços semelhantes aos das mães em relação aos filhos.
 
No que se refere à depressão pós-parto, há uma relação curiosa entre a mesma e o homem. Se no caso das mulheres esse estado de apatia e tristeza que muitas mulheres experimentam após o nascimento dos  seus filhos é real e acontece a cerca de 30% das mães, no caso masculino estima-se que 10% dos homens passem por esse sofrimento quando têm de se afastar do filho, em especial devido a uma separação do casal, ou uma saída para trabalhar longe de casa.
 
Os especialistas afirmam que, esta depressão assume proporções tão acentuadas que, em certos casos mais parece uma psicose, o que demonstra bem a amplitude dos laços afetivos que o pai consegue estabelecer com os seus filhos.
 
De acordo com as pesquisa  esses sintomas estão presentes em homens que têm filhos pela primeira vez. Além disso, foi estabelecido que, ao contrário das mães, nos pais, o equivalente à depressão pós-parto surge entre o terceiro e o sexto mês de vida do bebé.
 
Para a psicóloga canadiana Francine de Montigny, que também estudou o assunto, um em cada dez pais sofre de depressão pós-parto. Na sua opinião, o que desencadeia esse quadro é o medo do fracasso como pai e a competição pela atenção e carinho da mãe.
 
Importa ainda sublinhar que, tal como já se percebeu acima, a paternidade é uma área de vida cada vez mais importante para os homens e que é capaz de os mudar, de os tornar mais próximos da família e do lar devido aos laços que estabelecem com os filhos e, na maior parte dos casos, com a sua esposa. Nos dias de hoje são cada vez mais os indivíduos que querem fazer parte ativa dessa experiência e, ao contrário do passado recente em que os homens eram «uma ajudinha» no processo, atualmente o pai participa ao lado da mãe, divide as tarefas e envolve-se em todo o processo desde o nascimento. Participa no parto, dá o banho, muda as fraldas e acompanha todo o desenvolvimento dos filhos. Como se viu nos estudos, a natureza «joga a favor» do sexo masculino em todas estas exigências, uma vez que homens e mulheres estão preparados para desfrutar e para se envolver nessa experiência fabulosa, exigente e cheia de responsabilidades.
 
Longe vão os tempos em que o pai não sabia muito bem como se posicionar entre a relação quase fechada entre mãe e filho. O pai de hoje participa na gravidez, escolhe as roupas, ajuda a decorar o quarto, interessa-se e envolve-se em cada etapa até ao nascimento do filho. Depois, segue essa linha de conduta pelo desenvolvimento dos mais novos, sofre, emociona-se, sente, ri, brinca e participa em tudo tal como a mãe. As mulheres devem acarinhar essa entrada do parceiro no seu mundo íntimo e dar espaço a que essa masculinidade afetiva se liberte. Afinal, os filhos precisam tanto do pai como da mãe!
 
Fátima Fernandes