Comportamentos

O que sofre uma pessoa com doença mental

 
Vivemos numa sociedade aparentemente evoluída, em que ao sabor de “um click” se chega a um qualquer ponto do globo, mas ainda não somos capazes de conviver de forma aceitável com a doença mental, nem com a nossa, nem com a de alguém que nos seja próximo.

Temos uma natural tendência para apontar o dedo, para nos afastarmos, para não ouvir e, em muitos casos, até ousamos fazer diagnósticos como se de psiquiatras nos tratássemos. É um desafio ser portador de uma doença mental na nossa sociedade seja pela dificuldade dos serviços de saúde em dar uma resposta atempada ao problema, seja pela incompreensão que essas pessoas sentem no seu grupo familiar, de colegas ou amigos. Não são muitos os casos de um apoio amigo e efetivo quando, na realidade esse é o primeiro passo para uma recuperação. No mesmo sentido, também se investe muito mais na medicação do que no tempo, uma vez que os recursos são escassos e, como consequência, a psicoterapia é colocada para um segundo plano quando em casos menos graves, seria o suficente para um bem-estar psicológico.
 
Depois, também é comum tratar-se a doença mental como algo de segunda linha sendo que, as pessoas à volta tendem a oferecer frases como: “isso é passageiro, estás a fazer fita, tens de sair e distrair-te”, entre outras do mesmo género, como se fosse uma escolha da pessoa ter um transtorno de ansiedade, uma depressão, um transtorno alimentar ou uma qualquer outra patologia. A falta de conhecimento e de sensibilidade dá lugar a esse tipo de atitude que é encarada como incompreensão e insensibilidade por parte de quem sofre de doença mental.
 
Em resumo, muitas pessoas não encontram a orientação e o apoio profissional de que precisam. Se há casos de doença efetiva, também há diagnósticos que mais não são do que o reflexo da vida atual que naturalmente nos conduz para a ansiedade e para a depressão. O facto de vivermos cada vez mais isolados, com menos convivência de qualidade, também dá lugar a muitas dessas patologias, pelo que devemos estar atentos, já que muitos desses problemas podem ser aliviados com uma boa dose de compreensão e carinho.
 
Na posição dos especialistas na área da psicologia, há fatores que aumentam o sofrimento de quem sofre de doença mental são eles: o facto de os outros minimizarem o problema e invalidarem o que se está a sentir. Ainda continua a ser comum, como já referimos acima, banalizar o sofrimento de quem padece de uma patologia mental sendo habitual dizer-se que a pessoa está a exagerar, que devia fazer um esforço-extra para sair daquela situação e daí por diante. Esta atitude ainda agrava mais o estado de saúde de quem sofre de doença mental.
 
Uma atitude recorrente é também culpabilizar a pessoa doente sendo que, essa reação é tudo menos positiva como se deve calcular. Frases como “tens de te ajudar a ti mesmo para saíres dessa situação, não comes porque não queres, estás nessa situação porque não fizeste o que deverias ter feito no momento certo” e daí por diante são “bombas” para quem está a passar por um problema de saúde mental. Na posição dos especialistas, estas e outras afirmações que infelizmente ainda são comuns por parte de amigos e familiares, «apenas refletem a incompreensão face ao sofrimento mental que ainda está presente».
 
Outra atitude ainda muito frequente é estigmatizar a pessoa com doença mental.  Continua a tratar-se a pessoa como doente e não como ser humano; como a pessoa que ela realmente é, o que dificulta a procura de ajuda e de um tratamento adequado. Neste ponto, os especialistas evidenciam que, em vez de sentir empatia por essa pessoa, diz-se somente para ir ao psiquiatra e com um tom pouco convidativo.
 
Desta forma, transfere-se toda e total responsabilidade para a pessoa doente, não se mostra o mínimo de compreensão e de conforto, o que faz com que a pessoa se sinta ainda mais sozinha e entregue à doença. Não se percebe que, se a pessoa está doente não tem esse tipo de autonomia e capacidade de pedir ajuda, tal como não se é sensível ao ponto de conversar amigavelmente com a pessoa sem a rotular ou condenar.
 
Para evitar esta incompreensão, os psicólogos deixam a seguinte reflexão e conselhos:
 
Para não se sentirem assim vulneráveis e incompreendidas, muitas pessoas acabam por ocultar o que estão a sentir, o que retarda a procura de ajuda e o início do tratamento. Neste ponto, é importante ter em conta que, o apoio de alguém é a chave para que uma pessoa melhore, peça ajuda, inicie um tratamento e, naturalmente recupere, por isso, quem está à sua volta deve adotar as seguintes medidas:
 
Ouça. Tenha um interesse genuíno no que a pessoa pensa, sente e experimenta para entendê-la.
 
Tenha empatia. Em vez de julgá-la ou culpá-la, tente colocar-se no lugar dela e tratá-la como gostaria de ser tratado.
 
Seja paciente. Os distúrbios psicológicos podem levar as pessoas a ficarem irritadas ou a agirem de maneira dolorosa ou incompreensível. Lembre-se de que o maior sofrimento está a ser passado por elas.
 
É verdade que a ajuda profissional é essencial em muitas ocasiões. Portanto, é positivo incentivar a pessoa a utilizar os recursos de que dispõe. No entanto, o suporte de quem está próximo é essencial. Neste sentido, envolva-se e coloque-se à disposição para acompanhá-la no processo. Receber compreensão e apoio aumenta significativamente as possibilidades de recuperação, pelo que deve ser uma prática a adotar, pelo menos com quem nos é próximo. Em termos sociais, não se esqueça de olhar a pessoa com doença mental com compreensão e paciência, pois já que não podemos ajudar toda a gente, pelo menos que lhe possamos dar o nosso respeito e compreensão.
 
Fátima Fernandes