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Os principais erros que os pais cometem com os filhos adolescentes

 
É comum o recurso a expressões pouco abonatórias para designar o período da adolescência, quando no fundo se trata de uma etapa de desenvolvimento fundamental para preparar a idade adulta.

Se por um lado, os pais não se devem esquecer de que já passaram pelo mesmo, por outro, devem ser cautelosos no momento em que tendem a desvalorizar as experiências e os problemas dos filhos. 
 
É imperioso que se estabeleça um espaço de diálogo onde as conversas fluam naturalmente, pois só assim a relação se mantém saudável e baseada no respeito. 
 
Os pais não podem fazer de conta que não veem os erros que cometem e o quanto isso se repercute no comportamento dos filhos, tal como não se podem demitir na fase da adolescência com a sensação de que “não sei o que fazer ou não consigo”.
 
É uma verdade inquestionável que, a partir do momento em que se assume a responsabilidade da parentalidade, não há volta a dar. Ser pai é um desafio para toda a vida. Tem altos e baixos, momentos difíceis e muitas compensações, é preciso é tornar esse desejo na prática com um envolvimento contínuo.
 
A psicóloga Marina Vasconcellos defende que, os problemas na adolescência serão tão mais acentuados quanto não forem superados nas etapas de desenvolvimento anteriores. “Cabe aos pais apoiar um percurso que se quer próximo e com um natural afastamento no momento próprio”.
 
Os problemas entre pais e filhos começam quando se cometem erros na compreensão das necessidades dos filhos e quando os mais novos não se sentem respeitados. Assistimos a muitas situações em que os pais perdem a autoridade sobre os filhos e em que estes não cumprem as recomendações dos pais ou mesmo, nem os ouvem. Porquê?
 
“O processo é contínuo. Se desde o berço os pais não habituam as crianças a um conjunto de regras e valores, o problema vai ganhando expressão nas etapas seguintes, com um agravamento considerável na idade adulta”, alerta a mesma psicóloga que listou um conjunto de erros que ocorrem na relação entre pais e filhos.
 
Antes de apresentar os erros, Marina Vasconcellos recorda que, os pais só são respeitados se se fizerem respeitar e se mostrarem esse respeito pelos filhos. Nenhuma criança terá respeito por alguém que constantemente a desvaloriza e desrespeita, sublinha a especialista.
 
1º erro: os pais não conseguem perceber que os filhos cresceram e que são o reflexo de um percurso familiar. Ao mesmo tempo, os filhos vão ter novas exigências e os pais vão ter de assumir um novo papel na sua categoria de responsáveis.
 
Para a psicóloga, “As crianças são muito ligadas aos pais. Mas, na adolescência, há um afastamento natural, para que os filhos possam testar a sua independência e autonomia. E isso não significa que os jovens deixem de gostar dos pais, mas sim que precisam de outras oportunidades e desafios”. 
 
Claro que “cabe aos pais estabelecer limites e perceber quando é o momento mais adequado para permitir mais liberdade. Os filhos precisam de saber que, acima de tudo, são os pais que determinam essa liberdade e a forma como a vão experimentar.” Para a mesma especialista, “não se pode permitir tudo, mas é um erro entrar num modelo de proibição de tudo e alguma coisa”.
 
Os jovens precisam de vivenciar experiências para formarem a sua identidade e tudo se torna mais fácil com a orientação saudável dos pais. Os pais devem alertar para os perigos e, o mais possível mostrar como se faz para que os jovens se sintam mais confiantes e preparados, mas para isso é preciso uma boa relação de confiança entre pais e filhos.
 
2º erro: minimizar as descobertas
 
“Os pais costumam dizer aos filhos que sabem perfeitamente pelo que eles estão a passar pois já passaram pelo mesmo. E, portanto, acham que podem dizer qual é o melhor caminho.” Marina defende essa postura como um erro. “É preciso respeitar o momento do filho, sem impor a sua forma de pensar e de agir numa determinada situação. Uma coisa é explicar e alertar, a outra é desvalorizar os medos dos mais novos.” Por mais que tenhamos ideia de como é, agora é a vez deles, diz a psicóloga. “É impossível impedir o sofrimento dos filhos. Todos têm tristezas e dificuldades. Os jovens também.” E os pais devem estar por perto para apoiar quando necessário.
 
3º erro: não saber como controlar os filhos
 
Os adolescentes consideram-se maduros e não gostam de dar satisfações. Mas precisam. E o ideal é fazer com que isso aconteça naturalmente, sem a necessidade de uma cobrança ativa de explicações. De acordo com Marina Vasconcellos, “se os adolescentes são tratados com respeito, geralmente, retribuem da mesma maneira”. Para esta psicóloga, “Pais que julgam, bloqueiam os filhos, que se fecham. Numa relação saudável, as conversas fluem normalmente. Isso inclui falar sobre o que estão a passar, apresentar amigos e compartilhar as experiências”. O essencial é dar espaço para que o filho fale abertamente dos seus problemas, medos e conquistas, sem que se sinta condenado pela opinião dos pais. Há formas de mostrar compreensão e reprovação sem ferir e sem limitar futuras conversas, é tudo uma questão de afeto. “É essencial evitar as tensões na relação, pois as mesmas vão facilitar um maior afastamento e dar lugar a problemas”.
 
4º erro: exagero nas cobranças
 
A adolescência é uma fase de muitas cobranças. Os pais querem que os filhos tenham um bom futuro, estudem, tenham boas companhias, sejam responsáveis, não se envolvam em cenários destrutivos como o consumo de drogas e outros, pelo que, é preciso escolher a forma certa para abordar esses assuntos, sem afastar o filho e sem deixar de alertar para esses perigos. “Os pais devem ser afetuosos, sob pena de nada se conseguir. A conversa deve sempre ser intercalada com momentos positivos, com alegria, com emoções e partilha entre pais e filhos. Podemos falar de coisas sérias de forma afetuosa e feliz”.
 
5º erro: não saber dar liberdade aos filhos
 
Segundo Mariana Vasconcellos, é fundamental deixar os filhos num ambiente de confiança para que se desenvolva uma relação baseada nesse molde. Se não deve ser um hábito diário, faz bem ao desenvolvimento que, de vez em quando os miúdos durmam em casa uns dos outros, tal como a sua porta também se deve abrir às amizades do seu filho, sugere a especialista. Faz bem aos jovens o contato com a diferença, com o modo de estar e de pensar de outras pessoas, pois só assim irá construir a sua identidade. “Claro que os filhos devem pedir aos pais essa autorização e, é evidente que os pais podem avaliar as amizades dos filhos e dar a sua opinião positiva ou negativa acerca da mesma, mas têm de saber fazê-lo!” 
 
Depois, “é essencial que o jovem comece a retirar as suas próprias elações sobre as experiências e, para isso, precisa de respeito pelos erros, pelas experiências menos positivas e de uma oportunidade para os corrigir.” 
 
Cabe aos pais a hábil tarefa de os compreender, de lhes dar liberdade e de lhes permitir desenvolver comportamentos cada vez mais positivos. É preciso encorajar o positivo para poder mostrar o negativo. 
 
Quanto mais o jovem for capaz de detetar falhas, melhor, pois está a selecionar o que mais se adequa a si e aos seus valores. Estar atento e saber gerir o desenvolvimento dos filhos é o grande desafio da adolescência, pelo que o segredo é envolver o jovem no seu processo e na avaliação dos seus comportamentos, pois afinal é das suas experiências que se trata e deve aprender a fazer as melhores escolhas para si.
 
É fundamental que o jovem saiba que, faça o que fizer, os pais vão estar por perto, seja para lhes dar um elogio merecido, seja para lhes dar uma bofetada certeira perante um comportamento negativo e “inadmissível”. Não nos esqueçamos de que o respeito se marca com autoridade e assertividade. Pais que não são capazes de diferenciar comportamentos e de punir no momento certo, vão mesmo dizer que “não sou capaz de educar o meu filho, não sei o que a sociedade lhe vai fazer.”
 
Anote que, um pai ou uma mãe que ama um filho, é capaz de o repreender para que melhore a sua conduta e corrija algo grave, pois mais vale uma bofetada que dói num momento, que um comportamento que provoca sofrimento pela vida fora.