Política

Bloco de Esquerda questiona Governo sobre "avanço urbanístico" nas Alagoas Brancas

Foto|Arquivo
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O Bloco de Esquerda alerta que a zona húmida sazonal de água doce das Alagoas Brancas, no concelho de Lagoa, está em risco de ser destruída pela construção de mais um hipermercado a somar a outros cinco existentes dentro e nas imediações da cidade.

Em comunicado, o Bloco explica que no inverno as Alagoas Brancas são inundadas, "transformando-se numa importante zona de alimento, repouso e criação para um conjunto de espécies de aves, algumas das quais ameaçadas de extinção".
 
O partido diz que esta zona húmida, tem atraído cada vez mais ornitólogos cujo estudo e observação já levou à identificação de mais de 70 espécies de aves, algumas das quais incluídas no Anexo A-1 do Decreto-Lei n.º 140/99, de 24 de abril, alterado pelo Decreto-Lei n.º 49/2005, de 24 de fevereiro (Diretivas Aves e Habitats).
 
Além da avifauna, os bloquistas sublinham que habitam nas Alagoas Brancas, importantes populações de cágado-mediterrânico e de rela-meridional, espécies incluídas no Anexo B-II da Diretiva Aves e Habitats, bem como uma planta pouco comum em Portugal – a Crypsis aculeata – e várias espécies de crustáceos, borboletas diurnas, libélulas e libelinhas com valor de conservação.
 
Dada a "singularidade e importância ecológica" desta zona húmida, o Bloco de Esquerda lembra que desenvolveu uma iniciativa aprovada pelo Parlamento (Projeto de Resolução 1213/XIII/3), que deu origem à Resolução da Assembleia da República n.º 106/2018, de 12 de abril, na qual os deputados recomendam ao Governo que “tome as medidas necessárias para salvaguardar a zona húmida sazonal de água doce das Alagoas Brancas, em Lagoa, impedindo a sua destruição iminente” e que “proceda a um estudo pormenorizado sobre as Alagoas Brancas com vista à sua classificação ambiental”.
 
No mesmo comunicado, o BE recorre ainda ao estudo «Valorização das Zonas Húmidas do Algarve», promovido pela Almargem – Associação de Defesa do Património Cultural e Ambiental do Algarve, publicado em abril de 2019, e financiado pelo Fundo Ambiental, que concluiu que “face à singularidade das espécies presentes na área [Alagoas Brancas], a criação de um estatuto de proteção é essencial e  imprescindível para a conservação e gestão da área”. O estudo, realizado em parceria com a SPEA – Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, e centros de investigação das universidades do Algarve e de Lisboa, revelou ainda que esta zona húmida “gera um efeito de esponja  para o excesso de águas pluviais, pelo que, o seu desaparecimento resultará numa elevada probabilidade de inundação em toda a área urbana”. Entre as propostas de gestão, o estudo recomenda “a classificação como Área Protegida de Âmbito Local, e uma  correspondente revisão do PDM em vigor de forma a assegurar os valores  naturais da área”.
 
Apesar dos valores naturais e dos benefícios diretos que as Alagoas Brancas providenciam à população da região, como a prevenção de inundações, o Bloco critica a Câmara Municipal de Lagoa por ter permitido o avanço urbanístico na zona, "o que já levou ao aterro de parte desta importante área natural".
 
Segundo o partido, recentemente, a Câmara Municipal de Lagoa concedeu à entidade promotora Edifícios Atlântico SA um alvará de loteamento industrial para o sítio das Alagoas Brancas. Com a impermeabilização da zona húmida pela urbanização industrial, as águas pluviais escoariam para áreas de cota mais baixa e seriam encaminhadas para o único aqueduto que existe na zona. A conduta receberia todas as águas provenientes das Alagoas Brancas e das zonas altas envolventes, ficando previsivelmente impossibilitada de escoar todo o volume de água nos dias de precipitação mais intensa, resultando em inundações naquela área, regista o Bloco.
 
Para tentar travar esse tipo de investimentos, o Bloco de Esquerda exige ao Governo que cumpra o disposto na Resolução da Assembleia da República n.º 106/2018, adotando as medidas e ações necessárias para salvaguardar aquela zona húmida, dirigindo ao Ministério do Ambiente e Ação Climática, as seguintes perguntas:
 
1. Vai o Governo cumprir, na totalidade, a Resolução da  Assembleia da República n.º 106/2018, de 12 de abril?
1.1. Em caso afirmativo, que medidas pretende o Governo tomar para salvaguardar a zona húmida das Alagoas Brancas e impedir a sua destruição iminente?
1.2. Em que data prevê o Governo apresentar o estudo pormenorizado sobre as Alagoas Brancas com vista à sua classificação ambiental?
2. Vai o Governo desenvolver as diligências necessárias junto da Câmara Municipal de Lagoa no sentido de conter o avanço urbanístico no local e impedir a destruição da importante zona húmida das Alagoas Brancas?
3. Pretende o Governo promover a classificação da zona húmida das Alagoas Brancas de modo a preservar os importantes valores naturais daquela área, bem como os benefícios diretos para a população da região (prevenção de inundações)?