Família

“A receita” para preparar o seu filho para o futuro

 
Pais que se preocupam com o futuro dos seus descendentes sabem que, apesar de serem seres especiais e muito amados, os filhos não podem ser educados como se as restantes crianças ou jovens não existissem, como se o mundo inteiro tivesse de os acolher como únicos e especiais também e ainda como se os descendentes fossem os únicos a merecer os melhores lugares, os melhores presentes, o melhor percurso e profissão.

É um facto que, todas as gerações possuem génios e pessoas que se evidenciam numa qualquer área, mas não podemos transmitir aos nossos filhos a ideia de que eles serão notáveis sem esforço, empenho, dedicação e inteligência.
 
Nunca é demais recordar que, as pessoas especiais pouco fazem para o serem além de trabalharem muito e de terem a sorte de serem reconhecidas pelos outros. Podemos educar para a excelência, mas isso não é uma garantia de que serão “os melhores” no futuro.
 
É ainda fundamental que os pais reservem um tempo diário para conversar com os filhos, que sejam capazes de os ajudar a compreender a realidade em seu redor, que saibam as dificuldades pelas quais as pessoas passam para ultrapassarem os obstáculos, que entendam que as frustrações existem e que são mais recorrentes do que os sucessos e que alertem os mais novos para a resiliência e persistência , já que, esses requisitos são cruciais para nos aproximarmos daquilo que pretendemos.
 
Muitos pais querem tanto evitar a frustração dos filhos que se esquecem de os deixar passar pelas situações negativas. Tornam-se tão protetores que não os deixam viver; caírem e levantarem-se como é normal.
 
É um facto que podemos e devemos proteger os mais novos, mas não ao ponto de os impedir de passarem pelas experiências para que se tornem pessoas mais confiantes e seguras. Para isso, devemos explicar-lhes os prós e os contras das situações e encorajá-los a seguir um caminho alternativo, mas jamais impedir que passem pelos dissabores que são inerentes à vida e ao próprio desenvolvimento.
 
Na posição dos especialistas nesta matéria, há 10 atitudes dos pais que podem ajudar a melhorar o processo educativo e tornar os filhos mais preparados para o mundo, são elas:
 
1- Estar mais tempo com os filhos, evitar trazer trabalho para casa e, depois de um longo dia de ausência, colocar os ecrãs e as ligações ás redes sociais em segundo plano e dar atenção e tempo de qualidade aos filhos. É importante estar disponível para ouvir, para explicar, para descontrair e até para não fazer nada, já que o tédio também faz bem a todos.
 
2- Transmitir valores de boa convivência social através de exemplos produtivos nas mais variadas situações do quotidiano. Para isso, é preciso estar em pleno na relação e sentir prazer em ouvir, conversar, brincar, jogar e passar por vivências realistas e concretas. Aproveitar cada momento em família para fazer um alerta, para dar uma boa gargalhada, para fazer uma descoberta, partilhar um gesto de carinho ou clarificar uma regra.
 
3- Fazer refeições em família é também um importante recurso para que pais e filhos estejam juntos e nesse tempo de qualidade que se pretende. Podem aproveitar este momento para conversar sobre o dia e sobre tudo o que vos apetecer. É essencial reforçar o bom comportamento à mesa e tudo o que envolve a refeição, como sendo arrumar a cozinha, lavar a louça e demais tarefas inerentes à ocasião. Tudo isso faz parte de uma boa relação familiar e é fundamental para o desenvolvimento dos mais novos.
 
4- Apresente-lhes o mundo real e não somente a realidade através dos jogos e das brincadeiras. Mediante a idade da criança, torna-se essencial aproveitar as mais variadas situações para lhe explicar a vida, seja através da conversa, da brincadeira, da leitura ou de um programa de televisão. O mundo real é cheio de problemas, conflitos e demais pontos negativos que importa dar a conhecer aos nossos filhos para que aprendam a proteger-se e a conviver com essa realidade. Explique-lhes o melhor que conseguir, mas jamais evite fazê-lo por medo de o magoar. Use a criatividade e o conhecimento que tem ao seu dispor para o fazer da melhor forma.
 
5- Não ofereça bens materiais como forma de compensar a sua ausência. Muitos pais sabem que estão pouco tempo com os filhos e, para os compensarem deixam-nos fazer tudo quando chegam a casa e, dão-lhes presentes para que fiquem mais tranquilos. Isso é um erro por vários motivos, sendo de registar que, o mais importante para os mais novos é estarem com os pais e isso deve ser evidenciado. Depois, com esse gesto, estamos a transmitir a ideia de que os bens materiais são mais importantes do que a nossa presença e, ainda pior que, quando precisarmos de estar ausentes, damos-lhes algo em troca, o que os torna muito materialistas e a acreditar que o mundo é assim quando, na realidade, não é. Temos menos tempo, assumimo-lo e compensamos com mais tempo no fim de semana. Tudo se resolve com uma boa conversa.
 
6- Equilibre a atenção entre o pai e a mãe, pois os seus filhos precisam de ambos. É comum que a mãe assuma a quase totalidade da atenção dos filhos e que não se esforce muito por incluir o marido na relação com eles. Esse aspeto fará com que as crianças ou jovens quase que demitam o pai da convivência familiar, o que acarreta muitos prejuízos para o seu desenvolvimento. Os nossos filhos precisam de ambos de formas distintas, mas complementares, por isso, pai e mãe devem envolver-se ativamente no processo. Neste ponto, anote ainda que, tanto o pai como a mãe não devem falar mal um do outro aos filhos, já que isso se irá traduzir em manipulação no futuro e numa desvalorização de ambos.
 
7- Os filhos precisam de ser repreendidos sempre que necessário. Muitos pais evitam repreender a criança ou jovem para não terem problemas com os filhos, mas é importante que o façam sempre que necessário e que os convidem a corrigir o erro e a melhorar a situação. É evidente que dá trabalho, que  exige atenção e que os pais estejam disponíveis para tudo isso, mas é fundamental para um desenvolvimento sadio.
 
8- Responsabilize-os pelos seus atos, uma vez que, será dessa forma que serão melhores adultos no futuro. As crianças e jovens precisam de ter tarefas por cumprir, horários, regras e limites. Contrariamente ao que se possa pensar, são esses requisitos que expressam amor e atenção por parte dos pais, por isso, mediante a idade, responsabilize-os por pequenas tarefas e vá aumentando o grau de dificuldade com a etapa de desenvolvimento.
 
9- Pais que discutem em frente aos filhos perdem uma parte da sua autoridade porque acabam por se colocar numa posição de inferioridade. Isto não quer dizer que, os pais não podem ter posições diferentes, mas sim que devem discutir a educação dos mais novos quando estão a sós, sob pena de baralharem a interpretação que os filhos dão a uma regra, por exemplo. Sobretudo os assuntos que se referem à educação dos filhos, devem ser acordados entre o casal, pois estes são os adultos e os responsáveis pelo processo. Os restantes temas podem e devem ser abordados em frente aos mais novos e até convidá-los a participar e a dar a sua opinião.
 
10- Aposte no contacto físico como forma de expressão de amor, afeto e cumplicidade. Este aspeto é muito importante para o desenvolvimento humano, na medida em que, os mais novos precisam de se sentir acarinhados e protegidos por ambos os pais. Diga o quanto os ama e abrace-os as vezes que sentir esse desejo ao longo do dia. O pai também deve cultivar este hábito sem medo de perder a sua autoridade ou de ser mal interpretado.
 
Nunca é demais sublinhar que,  em cada idade os filhos apresentam necessidades diferentes e que os devemos encorajar a participar nas experiências com os outros. O mundo tem pessoas boas e más, pessoas em quem se pode confiar e outras que não, mas os nossos filhos precisam de tirar as suas próprias conclusões vivendo as situações, por isso, não os coloque em casa, fechados em ecrãs para que estejam sempre sob o seu controle. Eles precisam de descobrir o mundo e de aprenderem a proteger-se.
 
Registe ainda que, um bom ambiente é a base do bem-estar de toda a família, por isso, viva os seus filhos, viva a sua relação com quem ama, trabalhe, tenha o seu tempo pessoal e não se culpabilize pelo que não conseguiu fazer num determinado momento, pois há sempre tempo de reformular e de dar um novo sentido a algo que correu menos bem.
 
Não há pais nem mães perfeitas, muito menos os filhos o são, por isso, descontraia, dê o seu melhor, procure estar atento e disponível para saber mais e enfrente os desafios com determinação.
 
Fátima Fernandes