Sociedade

A tecnologia ‘come’ à sua mesa?

 
“Temo o dia em que a tecnologia ultrapasse a interactividade humana. O mundo terá uma geração de idiotas". - Albert Einstein

É cada vez mais comum entrarmos num restaurante e depararmo-nos com um cenário assustador de silêncio e de concentração nas tecnologias. 
 
Em poucos anos, passamos dos risos e das conversas para a total absorção pelos conteúdos das novas tecnologias. 
 
Entre jovens e menos jovens o ritual parece estar a ganhar terreno um pouco por todo o país. Há anos dizia-se que, nos EUA, na China e no Japão, as pessoas caminhavam totalmente abstraídas da realidade nas imensas avenidas concentradas nos seus equipamentos tecnológicos. 
 
Chegavam ao emprego, ligavam o computador, à hora do almoço, mesmo que estivessem acompanhadas, estavam alheadas da realidade e envolvidas em suportes informáticos. Em poucos anos, “a moda” ultrapassou fronteiras e a Europa acabou por se render. Portugal logicamente não é exceção!
 
São cada vez mais os adeptos dos suportes informáticos e, se não bastasse a televisão para impedir o diálogo, a falta de tempo para a família se reunir à mesa pelo menos à hora do jantar e aos fins-de-semana, também os computadores no quarto “roubaram” esse tempo, já que os mais novos passaram rapidamente da sala de estar para o isolamento onde jantam com um prato ao colo ou uma sandes improvisada e rápida, “pois temos que responder às mensagens”.
 
Entre jogos e redes a realidade é que se passou do “oito para o oitenta”. Estávamos completamente alheados do mundo e agora estamos sem mundo por estarmos ligados aos equipamentos! 
 
No fundo, continuamos desligados do mundo, mas conectados com alguma coisa, nem que sejam palavras ocas!
 
Se no passado não se sabia estar no restaurante pelo ruído e comportamentos produzidos em grupo, neste tempo, só se come com os olhos fixos no ecrã e num silêncio assustador. 
 
No fundo, não evoluímos muito, pois antes não sabíamos estar e respeitar as regras de boa convivência social, hoje não se sabe desfrutar do prazer de estar em grupo num espaço agradável e em boa companhia!
 
O primeiro requisito para entrar num espaço é logo, “qual é a palavra passe da ligação à net?! 
 
Depois, sentamo-nos no lugar onde a cobertura de rede é melhor!
 
Há mesmo quem brinque com a ideia e coloque um espaço para os equipamentos ao lado do garfo ou da faca, para que se possa pousar uns instantes e comer!
 
Dizem os utilizadores compulsivos que “estamos em rede e a falar com amigos, logo não estamos sós nem isolados”, mas e os que estão à sua volta na mesa não chegam para conversar, ou há medo de enfrentar as pessoas presencialmente quando se desenvolvem hábitos de convívio à distância?
 
Se isto se passa nos momentos sociais, não tenhamos a menor dúvida de que estamos a produzir jovens em rede. 
 
Rapazes e raparigas que entram e saem do carro dos pais calados e concentrados no ecrã, que entram em casa e se fecham no quarto em frente ao monitor e que jantam algo que se coma só com uma mão porque a outra faz falta para “teclar”!
 
Na posição de muitos especialistas este é que é o perigo de quem usa e abusa das tecnologias. “É fascinante estar ligado ao mundo, poder aceder a informações ao pulsar de um clique e ultrapassar fronteiras quando se tem alguém noutro lugar do mundo, mas há limites para essa entrega ás tecnologias.”
 
Passou-se para segundo, terceiro e quarto planos o contacto presencial, a conversa animada ou mesmo emocionada e entrou-se num mundo de plástico que apenas nos exige respostas e perguntas com mais ou menos sentido.
 
Estará mesmo a desenvolver-se a geração de idiotas temida por Einstein?!
 
Não indiferente à realidade, também o Papa Francisco se juntou à discussão mundial afirmando que, “as famílias estão a perder o sentido de unidade e que as crianças se estão a tornar em seres absortos, apenas ligadas às tecnologias.”
 
Em total harmonia com os especialistas em comportamento humano, o Papa Francisco não tem dúvidas de que as famílias precisam de passar mais tempo juntas e advertiu para a necessidade de os pais construírem um ambiente familiar resistente. 
 
Na sua intervenção semanal na Praça de S. Pedro, o pontífice considera que se devem desligar os smartphones, os computadores e as televisões à hora das refeições, acrescentando que era também importante que conseguissem sentar-se à mesa com os filhos todos os dias.
 
Na mesma intervenção, o Papa argumentou que a tradição familiar de estar à mesa com a família, incentivada há várias gerações, se está a perder face à emergência das novas tecnologias, já que muitas crianças se isolam por causa desse vício.
 
Citado pelo Daily Mail, o Papa Francisco alertou para os perigos das novas tecnologias estarem a substituir a interação humana, que é tão importante.
 
“Uma família que quase nunca come junta, que não fala à mesa, mas que em vez disso se concentra em televisões e smartphones, não é uma família unida”, sublinhou o Papa.
 
A hora da refeição deve ser o espaço onde se partilham os bons e os maus momentos do dia, onde se partilham vivências e se discutem opiniões, reforça o Santo Padre.
 
“Na família, quando algo está errado ou se há uma ferida oculta, à mesa isso será visto imediatamente”, explicou, acrescentando que “sentar à mesa para um jantar em família, compartilhar a refeição e as experiências diárias é uma imagem fundamental de união e solidariedade”.
 
Na mesma intervenção, o Papa Francisco manifesta a sua preocupação com a vida fragmentada a que as sociedades se estão a entregar.” Infelizmente a refeição em família, esse grande símbolo de unidade, está a desaparecer”.
 
Segundo o Daily Mail, o pontífice defendeu que as redes sociais nos fazem sentir conectados, mas que na realidade nos fazem afastar daqueles que nos são mais próximos e nos fazem viver como seres autónomos e não como membros de uma família.
 
Naturalmente que os pais têm de ter a última palavra neste que talvez seja o maior problema do nosso século: a falta de interatividade humana, o contacto entre pessoas, o desenvolvimento de sentimentos, a construção de uma personalidade madura e capaz de enfrentar a vida fora dos ecrãs.
 
Comece já hoje a colocar novas regras em casa!
 
Fátima Fernandes