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Adultos que se comportam como crianças. O que se passa?

 
Os adultos de ambos os sexos que se comportam como crianças mesmo depois de adultos, sofrem da Síndrome de Peter Pan.

Segundo os especialistas em comportamento humano, estas pessoas recusam-se a crescer, demonstram uma forte imaturidade emocional e têm muito medo de não serem amadas e por acabarem por ser rejeitadas.
 
Em linha gerais, um portador da Síndrome de Peter Pan é alguém que ficou preso à sua infância; que se afastou das exigências do mundo real e que se escondeu num mundo de fantasia. Ficou presa na Terra do Nunca tal como Peter Pan.
 
Dessa forma não consegue desempenhar os seus papéis com sucesso no trabalho e na vida pessoal, que é o que se espera de um adulto.
 
Na prática, as pessoas que sofrem desta síndrome, são relutantes em cortar a relação de dependência com os pais e, geralmente, vivem apenas relações superficiais com os outros. Assim como o personagem “Peter Pan”, perdem-se em aventuras, sonhos e fantasias porque têm medo de crescer e de ter de enfrentar o mundo real; a vida com todas as situações negativas e positivas que acarreta. Os portadores desta síndrome não querem ver a realidade porque isso as obrigaria a ter de tomar uma posição responsável e madura, pelo que se perdem em infantilidades, mas fora de tempo.
 
De acordo com os especialistas, essa resistência em crescer é mais frequente em homens do quem mulheres, no entanto, encontram-se casos em ambos os géneros, sendo cada vez mais comum nas nossas sociedades, sobretudo devido ao modelo de educação praticado pelos pais. No modelo capitalista e imediatista em que vivemos, em que tudo é alcançado com menos esforço, torna-se cada vez mais recorrente que cheguem aos consultórios pessoas incapazes de resolver os seus problemas e de dar um sentido maduro à sua vida, assumindo compromissos.
 
Segundo os investigadores nesta área, aparentemente os portadores da Síndrome de Peter Pan mostram uma felicidade e um grau de despreocupação, mas na prática isso não corresponde à realidade, na medida em que a sua vida pessoal é marcada por uma profunda solidão, insatisfação e muita dependência em relação aos outros, facto que igualmente não acarreta felicidade.  Acrescentam os mesmos entendidos que, estas pessoas precisam de ter ao seu lado alguém que atenda às suas necessidades e que os façam sentir super protegidos. Geralmente tentam procurar a satisfação através dos pais, irmãos mais velhos ou parceiro, o que não é uma tarefa fácil, na medida em que ninguém tem a capacidade de preencher o outro dessa forma. Os outros acrescentam-nos; não são a outra metade para nos compensarem, sublinham os mesmos entendidos.
 
As consequências da Síndrome de Peter Pan podem levar a alterações emocionais graves, como altos níveis de ansiedade e tristeza que podem levar à depressão. Por norma estas pessoas sentem-se insatisfeitas com a própria vida, uma vez que não assumem a responsabilidade pelas suas ações, o que faz com que não tenham realizações próprias, o que lhes afeta diretamente a autoestima.
 
São adultos incapazes de assumir responsabilidades, pelo que não conseguem manter relações com outras pessoas por considerarem esse facto muito trabalhoso. São muito exigentes com os outros, pois querem tudo à sua medida e da forma que melhor lhes satisfaça as necessidades pessoais.
 
É ainda de referir que, a pessoa com Síndrome de Peter Pan, apesar de parecer arrogante, esconde uma grande fragilidade. Possui muitas qualidades, como a criatividade e a engenhosidade, e em geral são bons profissionais. Geralmente esforçam-se por despertar a admiração e o reconhecimento dos outros no seu círculo social. Mas ainda que socialmente sejam líderes prestigiados pelas suas capacidades em divertir e animar o ambiente, por dentro são muito exigentes, intolerantes e desconfiados.
 
No que se refere a relacionamentos, muitos são solteiros conhecidos como ”playboys” pela sua capacidade de sedução e de saltar de um relacionamento para outro constantemente.
 
Para identificar uma pessoa com esta síndrome, é preciso que estejam presentes estes sinais:
 
• Embora sejam adultos com mais de 30 anos, ainda se comportam como crianças;
• Sentem uma grande necessidade de chamar a atenção;
• Só sabem receber, ordenar e criticar: não se preocupam em dar ou fazer algo pelos outros. Só dão o que lhes é pedido e, geralmente, fazem-no a contra gosto.
• São egoístas, só se preocupam consigo mesmos.
• Estão sempre insatisfeitos com o que têm: querem ter tudo, mas sem se esforçarem para conseguir.
• Consideram o compromisso como um obstáculo à liberdade.
• Não se responsabilizam pelos próprios atos.
• Passam a vida a esconder-se atrás de desculpas,
• Tentam viver em contacto com o público mais jovem.
• Sentem-se inseguros e apresentam uma baixa autoestima.
 
Relativamente às causas, os especialistas descrevem que, a Síndrome de Peter Pan assim como outros fenómenos psicológicos, é causada por múltiplos fatores, tais como traços de personalidade dependente, a forma de lidar com problemas e padrões educacionais. Ao mesmo tempo, os especialistas reforçam o peso da infância no desenvolvimento desta síndrome. Uma infância muito feliz e despreocupada pode ocasionar a síndrome, assim como uma infância muito infeliz também pode causá-la.
 
No primeiro caso, a síndrome é uma forma de perpetuar os momentos felizes vividos na infância, enquanto que, no segundo caso, a função da síndrome é tentar recuperar a infância que foi roubada através da liberdade oferecida pela vida adulta.
 
Em notas finais, os especialistas do Psiconlinews deixam a seguinte reflexão relativa ao amadurecimento: «crescer como pessoa é parte do desenvolvimento natural dos seres humanos, mas nem sempre é uma tarefa fácil. Para ser adulto é necessário que se tome a decisão de crescer e se adotem valores e objetivos de vida. É também necessário que se desista de algumas coisas para que possa atingir os seus objetivos, responsabilizar-se pelos próprios erros e para que seja capaz de tolerar os dias de frustração.
 
Amadurecer não significa ter de perder a criança que há dentro de nós, pois precisamos que essa criança venha à tona, às vezes, para que a vida não seja tão rígida, só não permita que essa criança o domine e dificulte a sua vida adulta, como no caso de Peter Pan. É indispensável ter uma relação harmoniosa entre o adulto e a criança interior». Amadurecer com sucesso é alcançar um equilíbrio entre esses dois aspetos da nossa personalidade, concluem os mesmos entendidos.
 
Fátima Fernandes