Nesse sentido, a ciência é unânime em afirmar que, “muito mais que qualquer outro segredo, a qualidade do envelhecimento se deve à prática de uma alimentação saudável e à capacidade de amar e de ser amado.”
Em poucas linhas, os especialistas acreditam que, “o estilo de vida contribui diretamente para o maior ou menor sucesso de cada etapa, pelo que, uma pessoa ativa, com o peso equilibrado e que se relacione bem com os outros, tendencialmente viverá mais; com saúde e bem-estar.”
Neste sentido, passou-se da ideia fatalista de envelhecimento, para a importância de ‘configurar’ a velhice, ou seja, a cada um está atribuída a responsabilidade de escolher como quer encarar o processo e desenvolvê-lo.”
Em entrevista à DW, Bernd Kleine-Gung sublinhou a importância da alimentação, boas companhias e vida ao ar livre como requisitos para um envelhecimento saudável.
O mesmo especialista na matéria acredita que, “apesar de não existir uma fórmula secreta de rejuvenescimento, há muito bons conselhos para aumentar a longevidade com qualidade.”
Bernd Kleine-Gunk adianta que, “os cuidados médicos estão em constante progresso e, com esse conhecimento se está a contribuir para o aumento da esperança média de vida.” No entanto, “sabemos que isso não é o mais importante. O factor decisivo é que hoje temos melhores condições de vida, mais acesso à alimentação e melhor higiene.”
O especialista alemão recorda que, “em cada região, a população tem um estilo de vida diferente. Na Sardenha, acredita-se que o vinho tinto é o segredo da longevidade, enquanto que, na ilha japonesa de Okinawa, o segredo seria a alimentação à base de algas.”
Gunk sublinha que, “ninguém chegou aos 100 em qualquer parte do mundo com peso acima da média. Não terá sido intencional a descoberta, mas a restrição calórica que está na base dessas culturas por falta de alternativas, acaba por ser hoje uma importante lição para o mundo.” Os cuidados com a alimentação, a introdução de frutas e verduras ás refeições em detrimento do excesso de proteínas, fez dessa ‘dieta espontânea” a receita para envelhecer com mais qualidade e saúde, reforça Gunk.
Ao mesmo tempo, “a maior parte dos centenários são ativos. São agricultores que cultivam os seus alimentos pela vida fora. Contactam com o ar livre e praticam exercício nessa atividade diária.” E, o mais importante, “estes homens e mulheres que trabalham até ao limite das suas forças, mantêm relações familiares estáveis, bem como amizades e uma boa convivência social.”
Estas pessoas nascem com a sensação de que, Eu sou útil e tenho um papel a desempenhar na vida" , o que é crucial e lhes dá forças para que continuem a lutar e a fazer parte deste mundo.
Gunk acredita que, “gente otimista e afetuosa tem mais amigos durante a velhice. Quem é amável também é digno de ser amado e terá mais tendência para se rodear de pessoas do que um rabugento de quem todos querem fugir”!
O cérebro é um órgão social que se alimenta com as trocas, com os desafios, com os afetos e emoções partilhadas. “Uma pessoa que se isola, que não convive, naturalmente envelhece mais depressa e de forma negativa. Pelo contrário, quem cultiva amigos e enaltece as relações familiares, acaba por ter um percurso mais alegre e por nem se aperceber da idade.”
O especialista alemão não hesita em apresentar os seus conselhos: “não deixe de fazer as coisas de que gosta. Nenhum artista deixa de pintar aos 65 anos, ou de escrever, ou de tocar música. Outro conselho: evite tudo aquilo o que faz envelhecer e morrer prematuramente, sobretudo fumar.”
Mais uma dica: “cuide do seu peso, siga uma dieta equilibrada e nunca perca a curiosidade pela vida. Descobrir coisas novas e ser capaz de apreciá-las, traduz interesse pela vida e motivação para ter mais saúde e bem-estar.”
Nunca é demais recordar que, todos envelhecemos, podemos ter mais ou menos qualidade de vida e longevidade, mas o processo começa desde que nascemos.
Gunk acredita que, “estamos neste planeta com um objetivo biológico básico, que consiste em transmitir os nossos genes às gerações seguintes. Cumprida a missão, passamos a ser prescindíveis.”
Nesta teoria, “após cumprida a função reprodutiva, passamos a envelhecer de maneira significativa e mensurável. Até aos 30 anos, quando a missão de reproduzir normalmente é cumprida, permanecemos jovens. A partir daí, a mãe natureza perde o interesse pelo nosso percurso, ficando sob a nossa responsabilidade.”
Perante esta interpretação publicada na DW, faz sentido preparar o envelhecimento ao longo da vida, seja através da alimentação saudável, da prática de exercício físico, do contacto com a natureza e, não esquecer o ‘segredo’: manter relações estáveis e felizes com a família, pois não é numa idade avançada que se despertam emoções, que se vivenciam carinhos e sorrisos e se transforma num ‘lobo solitário’ numa pessoa afável e com quem se gosta de estar.
Fátima Fernandes