Sociedade

Almargem:“Petróleo no Algarve? Nem o negro, nem o verde”!

Na sequência dos prejuízos causados pelo fogo que assolou o concelho de Monchique na passada semana, a Associação Almargem remeteu um comunicado para as redações fazendo o seu ponto de situação sobre esta realidade.

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Nesse sentido, a Almargem diz que, “os concelhos de Monchique e Silves foram atacados por mais um incêndio  florestal catastrófico, motivo para que as populações  e os  responsáveis locais reconheçam, de uma vez por todas, que, há décadas,  eles se encontram perigosamente à mercê de diabólicas massas de petróleo verde”.
 
Segundo a mesma associação, “o incêndio teve início a 3 de agosto, no vale da Ribª da Perna da  Negra, tendo aí ocupado barrancos profundos e pouco acessíveis mas  densamente ocupados por eucaliptos. Chegou depois a deslocar-se um  pouco para norte, atingindo o concelho de Odemira, mas sobretudo para  sudeste, percorrendo ao sabor do vento muitos quilómetros de  eucaliptais intercalados por zonas de matagal mediterrânico e afetando  apenas meia dúzia de pequenos aglomerados populacionais, em  consequência da desertificação humana da zona”.
 
O mesmo documento adianta que, “apesar da maciça disponibilização de meios de combate aos incêndios, a  situação ficou completamente descontrolada após a incapacidade revelada no dia 5 de agosto para impedir o atravessamento da EN 266  pelo fogo. A partir daí, a área ardida decuplicou em menos de 24  horas, atingindo os concelhos de Silves e Portimão e atacando diversas  povoações, incluindo parte da própria vila de Monchique, contabilizando-se cerca de 27 mil hectares ardidos e dezenas de casas  destruídas”.
 
De sublinhar também que “grande parte das rotas de descoberta da  natureza, incluindo cerca de 80 quilómetros da Via Algarviana e  percursos complementares locais promovidos pela Almargem, foram também  aniquilados nesta ocasião”.
 
A Almargem sustenta que, “a principal prioridade revelada pelos responsáveis governamentais foi a segurança das populações, o que obviamente não pode ser contestado.Mas essa condição não deve nunca impedir que os operacionais no terreno desenvolvam também estratégias adequadas para evitar a  propagação do incêndio mesmo através de zonas despovoadas o que, neste caso, parece não ter acontecido e possibilitou a amplificação da  catástrofe”.
 
A Almargem solidariza-se com todas as pessoas diretamente afetadas pelos incêndios dos últimos dias em Monchique e Silves. O esforço e o "sacrifício" dos bombeiros e outros operacionais envolvidos no combate ao fogo e proteção das populações deve também ser realçado e louvado, as estratégias e planos postos em prática pelos responsáveis da proteção civil têm de ser analisados de forma muito crítica, defende a mesma associação.
 
Por outro lado, “tal como sucedeu o ano passado no centro do país, boa parte das pessoas afetadas pelo incêndio evita culpar ou falar dos eucaliptos, pois muitos dos respetivos empregos e rendimentos provêm do apadrinhado sector do negócio das madeiras”.
 
A Almargem sublinha no mesmo documento que, “a associação de produtores florestais Aspaflobal foi a responsável  pela plantação de eucaliptos na zona da Perna da Negra” e adianta que, “ grande parte da restante área afetada pelo incêndio está integrada no Sítio PTCON0037 da Rede Natura 2000, onde a preservação da natureza deveria ser uma prioridade por parte das entidades governamentais”.
 
Apesar disso, “a Aspaflobal não teve qualquer problema  em instalar aqui mais um gigantesco barril de petróleo verde, não  sendo obrigada a colocar de imediato em prática um plano de gestão e prevenção dessa zona perigosa, limitando-se  para esse efeito a  apresentar apenas há uns meses atrás uma candidatura a financiamento  estatal, a qual, uma vez aprovada, só iria entrar em vigor em 2019”, lê-se no mesmo comunicado.
 
Segundo a Almargem, “a Aspaflobal e algumas entidades governamentais têm assim de ser indiciadas como os principais culpados desta catástrofe pois, apesar  da argumentação repetidamente propagandeada nestas situações até por  reputadas autoridades académicas, algumas delas simpatizantes ou mesmo  avençadas pela indústria do papel, a eucaliptização de extensas áreas  serranas promove a desertificação humana, diminui a biodiversidade e  aumenta exponencialmente o risco de incêndio”.
 
De acordo com a mesma associação ambientalista, “sobretudo no atual contexto das alterações climáticas, na origem de  períodos de calor e seca extrema como o que agora sucedeu, plantar  eucaliptos de forma intensiva e desprotegida em Monchique e na  restante serra algarvia deve passar a ser considerada uma atividade  perversa e desumana. Dado que se trata de uma região particularmente  sensível, propostas de novos eucaliptais devem ser previamente  avaliadas à luz da atual legislação de impactes ambientais (DL nº  152-B/2017), independentemente da respetiva área”.
 
O outro grande problema sinalizado pela Almargem,  “tem a ver com as centenas de pequenas  propriedades semi-abandonadas, onde a limpeza e erradicação dos  eucaliptos deve ser realizada de imediato, com compensações adequadas  aos respetivos proprietários, pois estas árvores exóticas convivem bem  com o fogo, proliferando abundantemente nos anos seguintes”.
 
O futuro no entender da Almargem, passa por “criar alternativas diversificadas que permitam  promover o desenvolvimento económico local e evitem o despovoamento  das zonas serranas”.
 
A Almargem considera que se deve apostar em atividades como agricultura e hortofruticultura sustentáveis, agropecuária, pastorícia, apicultura, produção florestal tradicional (sobreiros, castanheiros, medronheiros) e artesanato, para além do turismo cultural e de natureza. O ênfase deve ser dado a projetos que permitam criar emprego e, sobretudo, trazer pessoas a viver para o meio rural, em vez de continuar a permitir a proliferação de "tristes" monoculturas desertificadas.
 
A Associação Almargem apela ao presidente do Município de  Monchique, Rui André, para que tenha a "coragem" de iniciar de imediato  a elaboração de um exemplar plano de desenvolvimento para o futuro do concelho, baseado em atividades verdadeiramente sustentáveis, disponibilizando-se para ajudar neste propósito, em conjunto com  outras entidades locais e regionais.