«Este hospital é uma iniciativa louvável que surgiu na altura da implementação do Serviço Nacional de Saúde», destacou a convidada.
Na sessão do “Café com Letras” que teve lugar na passada sexta-feira na Fnac do Forum Algarve, acerca dos 40 anos da Universidade do Algarve e do Hospital de Faro, promovido pela Direção Regional de Cultura do Algarve em parceria com a Biblioteca da Universidade do Algarve, a Presidente do Conselho de Administração do CHUA percorreu alguns pontos da instituição evidenciando que, «estou na região há 28 anos, pelo que não conheci o início do Hospital, mas li alguns documentos sobre a sua construção e, é disso que falarei nesta sessão. Recordo também um documentário muito interessante da RTP que temos e que um dia poderá ser exibido e que é muito interessante, pois mostra bem como se cuidavam dos doentes há quatro décadas atrás e as mudanças que felizmente ocorreram».
Para Ana Paula Gonçalves, «o significado do Hospital de Faro, prende-se com o facto de, antes do 25 de Abril, apenas existirem dois ou três hospitais de referência no país, Santa Maria, São João e Hospital de Universidade de Coimbra. Até lá, a responsabilidade regional, distrital e até mesmo local dos hospitais era das Misericórdias, pelo que, com a criação do SNS, os hospitais passam a ter um papel diferente».
Nessa sequência, o Ministério da Saúde entendeu que teria de formar pessoas para gerir os hospitais, o que para Ana Paula Gonçalves foi «a oportunidade de se criar um curso que formasse as pessoas para trabalharem em unidades hospitalares. Por volta de 1977, reconhece-se a necessidade de dotar alguns hospitais do país com necessidades distintas, como foi o caso de algumas instituições, estando o Hospital de Faro incluído».
A mesma responsável recordou o Hospital da Misericórdia que era um antigo convento, com claustros interiores e que não reunia o mínimo de condições para ser um Hospital e «é nessa sequência que surge o Hospital Distrital de Faro para suprir essa lacuna».
O Hospital de Faro começou com muitos problemas porque «o projeto tem 50 ou 60 anos, pelo que já estava desatualizado quando começou a ser construído. O construtor faliu e, as obras atrasaram-se, pelo que, o hospital só arrancou em 1979-80».
Rapidamente o incremento do turismo «obrigou a que o hospital se organize para ter novas respostas, sendo já desde essa altura de assinalar o mesmo que se passa hoje: a muita carência de profissionais médicos».
Segundo Ana Paula Gonçalves, o hospital começou a consolidar-se com uma nova leva de médicos ainda sem a especialidade concluída, mas que aceitaram vir para o Algarve ao mesmo tempo, concluíam os seus estudos. «O mesmo se passou com os enfermeiros e, rapidamente as especialidades começaram a desenvolver-se, bem como toda a construção inicial começou a sofrer alterações. Em 1990, as 365 camas iniciais tinham passado a 400 e, aos poucos, aumentou-se estes números nos vários departamentos. No fundo, já eram muitos dos problemas que se foram arrastando até hoje; a necessidade de ir dando resposta às necessidades dessa forma em que se faziam adaptações à realidade de cada momento».
Foi ainda recordado que os hospitais de Lagos e de Portimão eram igualmente da Misericórdia.
A dinâmica das cidades fez com que se investisse mais nos hospitais de Faro e de Portimão, sendo que, no ano 2000, aproveitando o apoio dos fundos comunitários, se deu forma à construção do Centro Hospitalar do Barlavento Algarvio».
Foi estipulado que Faro seria uma unidade mais complexa, não por prestar melhores cuidados de saúde, mas por fazê-los em maior quantidade. «Para fazermos bem, temos de fazer em grande quantidade e servir muitas mais pessoas ao mesmo tempo, por isso, está escrito na carta que, o CHUA tem essa função diferente de Lagos e de Portimão».
Fazendo a ligação com os 40 anos do CHUA - Centro Hospitalar Universitário do Algarve e da Ualg, Ana Paula Gonçalves assinalou que, para além da área da saúde, o hospital absorve muitos recursos humanos de outras áreas como sendo a Economia, a Gestão, Assessoria da Administração, nas áreas das engenharias, das biotecnologias e por aí fora, sendo «o CHUA a maior entidade empregadora da região que capta alunos da Ualg».
Para finalizar, a Presidente do Conselho de Administração do CHUA realçou que são atendidos entre 800 e 1000 doentes por dia na urgência e que, «o hospital tem uma atividade forte na área cirúrgica, nas consultas externas, mas obviamente que queremos mais e, vou mais longe, considero que, com o que o Algarve contribui para o PIB nacional, não está a ter o retorno, quer na área da saúde, quer noutras áreas, que devia ter».
Numa perspetiva futura, Ana Paula Gonçalves sustentou que, «o SNS e os Hospitais não terão capacidade de responder a toda a população envelhecida se não invertermos o modo e a estrutura de rede que os idosos têm de ter na sociedade e na comunidade. Muitos idosos caem nas estruturas hospitalares por estarem sozinhos em situações muito graves e depois não têm esse retorno».
Evidenciou também que, «o país terá cada vez menos população e mais envelhecida, pelo que, se não agirmos nesse sentido, os hospitais públicos não vão ser capazes de dar resposta a todas essas situações. Os hospitais do SNS são estruturas para resolver situações graves, agudas e de forma rápida, não estão vocacionados para responder a essa realidade».
A presidente do Conselho de Administração do CHUA terminou sublinhando o facto do hospital acolher médicos de várias nacionalidades, «o que para nós é muito positivo, já que ilustra muita bem o que é a região e como é que se vive neste destino turístico que é visitado por todas as nacionalidades também».