Sociedade

As redes sociais e a ansiedade

 
Todos sabem que os amigos ajudam a combater diversos problemas de saúde, a ponto de se dizer que, os amigos ajudam a prevenir a depressão, que nos despertam para coisas novas, que a conversa ajuda a aliviar um conflito, então por que razão as redes sociais geram ansiedade?

 
 
Tomando por parte o que tem sido publicado acerca do assunto nos mais diversos meios de comunicação, parece unânime afirmar que, a falta de proximidade entre as pessoas, a necessidade de receber a aprovação de muita gente face às publicações efetuadas, bem como a descoberta do “outro lado” de um “amigo”, geram instabilidade e ansiedade.
 
Na prática, os utilizadores dizem que “se fartam de ver sempre as mesmas pessoas e o mesmo tipo de comentários”, pelo que “optam por procurar notícias e temas que motivem a reflexão através das redes, mas “ainda assim, em pouco tempo se esgota a novidade e, sendo as mesmas pessoas a publicar e a comentar, temos a sensação de entrarmos num círculo vicioso que nos causa ansiedade, pois queríamos uma surpresa; uma resposta diferente que nos acrescentasse e não se encontra”. Sabendo que nas relações de proximidade existe um conjunto de sensações que ajudam a manter a convivência, será isso o que falta nas redes sociais?
 
Será a forma linear com que se escreve e descrevem os acontecimentos que provocam essa ansiedade?
 
Cada um saberá a sua resposta, uma vez que este apontamento visa simplesmente refletir acerca do assunto, mas a novidade perde-se a partir do momento em que se apresentam quase que diariamente as mesmas publicações. Ou se muda a foto de perfil, ou se altera a capa, ou existe um tipo de publicação associado a uma determinada pessoa e, mal se recebe a notificação, já se sabe o que vai acontecer, são respostas dadas pelos utilizadores.
 
Os mais jovens dizem que as redes “tradicionais” só são frequentadas por “cotas” por isso refugiam-se nas alternativas para a sua idade, mas usam-nas mais para comunicarem entre si. Estabelecem uma rede de contactos e “vão falando” nos tempos livres. Os mais velhos mostram curiosidade em saber mais acerca da privacidade sem que se saiba que estão a observar outrem, mas cada vez mais as políticas de privacidade estão a comprometer esse gesto, já que, os utilizadores estão mais conscientes daquilo que devem publicar, pelo que essa reserva também diminui o interesse e a regularidade com que se visita a rede e os “amigos”.
 
Muitos estudos afirmam que a Internet torna as pessoas mais inteligentes devido à abertura que oferece, ao acesso à diversidade e, claro, a facilidade com que se comunica e aproximam as pessoas, mas não estará esse interesse comprometido com estas limitações?
 
Se por um lado nos dá segurança saber que os amigos “estão ali” na rede e que os podemos encontrar ou simplesmente ver as fotos para matar saudades, a ansiedade resulta da “espera de uma resposta, de uma apreciação ao que se publica e, muitas vezes, é um reflexo da desilusão”, já que, “havia como adquirido que @ amig@ X ou Y iria apreciar uma foto ou um texto, mas não aconteceu como era esperado”.
 
Ao mesmo tempo, o tipo de reação dos amigos também provoca ansiedade na medida em que, se esperava “um adoro e só foi colocado ‘um gosto’, pelo que, a tristeza obriga a que se façam mais e mais tentativas para receber aquele sentimento”.
 
De facto, torna-se complexa a tarefa de gerir tantas emoções quando “o tempo é escasso”, talvez, comentário ou publicação”, o que “nos rouba tempo para fazermos outras coisas e nos coloca em stress”.
 
Para o criador do Facebook, “a rede serve para aproximar quem está distante, razão pela qual discordo de quem diz que, esta rede social substitui o contacto presencial”, mas na prática, o que vai acontecendo é mesmo essa substituição, a ponto de “estarmos sentados à mesma mesa e a mandar mensagens uns para os outros, ou na mesma sala ou a poucos metros de distância”.
 
No fundo, a maioria dos utilizadores sabe que deveria estar mais tempo em família, com amigos ou a passear, mas… “acabamos por ter de estar sempre a responder ao sinal, a ponto de não desligarmos do aparelho durante a noite e de vermos o sono condicionado também”.
 
Fátima Fernandes