Família

As vantagens de ser filho único

 
Contrariamente ao que se defendia no passado, no tempo atual ser filho único constitui uma vantagem, sabe porquê?

Até há quatro ou cinco décadas atrás, cumpria-se religiosamente a máxima de criar e multiplicar. Era um contexto em que se considerava uma prova de fertilidade para os casais ter filhos, sem esquecer que até se considerava um desperdício ter apenas uma criança.
 
Os tempos mudaram, tal como as mentalidades se alteraram e muito, a par das dificuldades económicas que exigem um maior planeamento familiar, sem esquecer que, muitos pais já perceberam o quanto é vantajoso ter apenas um filho.
 
Já se disse que o filho único é egoísta, que tem poucas habilidades sociais, que cresce com limitações devido à fraca interação com outras crianças, tal como já se defendeu a importância de as crianças terem irmãos para aprenderem essas competências sociais e daí por diante, mas a verdade é que, 40% das famílias a nível mundial já optaram por ter apenas um filho.
 
Na mesma sequência, a ciência também tem uma palavra a dizer uma vez que, o filho único tem crescido envolto em mitos e medos dos pais, quase como se fosse algo de muito raro e até um erro enorme optar por ter apenas um filho.
 
Para ajudar a compreender melhor o assunto, recorremos a alguns estudos publicados pelos cientistas que demonstram que, efetivamente, existem vantagens em ser filho único.
 
Na posição dos especialistas, as famílias mais desenvolvidas cultural e socialmente são as que optam por ter apenas um filho porque acreditam que lhe podem oferecer uma melhor qualidade de vida e mais estímulos para que se desenvolva num melhor ambiente social e familiar, pelo que, esta já é uma vantagem do filho único: ter mais atenção dos pais, mais oportunidades porque os mesmos lhe podem pagar mais diversidade de atividades e momentos e receber mais estímulos.
 
Avança a ciência com base em trabalhos realizados que, os pais de um filho único fornecem-lhe uma melhor educação porque dispõem de mais tempo e disponibilidade e que o estimulam mais ao nível da linguagem. Ao mesmo tempo, estas crianças beneficiam mais da transmissão dos valores, regras de boa convivência social e uma perspetiva mais alargada da vida, sobretudo devido a um tempo de qualidade que lhe dedicam porque uma só criança exige muito menos do que duas ou três na mesma casa.
 
O filho único acaba por beneficiar de pais mais zelosos, empenhados, pelo que, regra geral, se torna mais maduro mais depressa. Compreende os assuntos dos adultos porque está muito tempo com eles, aprende a brincar com os pais devido à ausência de irmãos e desenvolve outro tipo de habilidades distintas das outras crianças de famílias numerosas.
 
O filho único faz mais perguntas e obtém respostas mais completas e de melhor qualidade devido precisamente à disponibilidade dos pais, facto que, segundo a ciência, os torna mais evoluídos e desenvolvidos em termos cerebrais.
 
Segundo os resultados de um estudo realizado pela Universidade da China e publicado na revista Brain Imaging and Behavior, os filhos únicos podem ter um desenvolvimento cerebral diferente de crianças com irmãos.
 
A pesquisa examinou 303 alunos, dos quais 170 eram filhos únicos. Todos passaram por testes psicológicos e psicotécnicos, além de uma ressonância magnética para lhes estudar os cérebros. Assim, apenas os filhos únicos apresentaram mais massa cinzenta no lobo parietal.
 
Esse facto foi associado a uma maior agilidade mental, planeamento e capacidade de linguagem. Da mesma forma, os filhos únicos pareciam desfrutar de mais criatividade e imaginação. Por outro lado, eram mais dependentes e tinham menos habilidades sociais do que aqueles que cresceram com irmãos.
 
O estudo indica ainda que, as crianças que crescem sozinhas são mais imaginativas e ativas ao brincar porque não têm companheiros de aventura e isso leva-as a desenvolver ainda mais   criatividade. Além disso, como interagem menos com outras crianças e mais com adultos, isso parece dar-lhes uma vantagem linguística.
 
Os investigadores lembram que, no passado se considerou tão problemático o facto de se ter um filho único que foi criada uma organização para ajudar os pais a educar estes supostos mal educados, mimados e muito difíceis de conviver e, ao mesmo tempo, disponibilizar interessados em estudar esta matéria para poder suportar os pais. Foi a partir daí que se percebeu o conjunto de mitos por detrás das crianças que não têm irmãos.
 
A associação  “Crecimiento cero” tinha também como missão fornecer informação à altura de colocar os filhos únicos no “bom caminho”, já que se considerava que, eram crianças insuportáveis e difíceis de criar e de conviver socialmente. Foi a partir daí que, a ciência começou a fornecer dados que mostravam o quanto essa perceção estava errada.
 
Os investigadores reconheceram que, os filhos únicos são diferentes das crianças com irmãos, mas isso não quer dizer nem que sejam piores, muito menos que o seu comportamento vá ao encontro dos muitos preconceitos que se criaram em torno do facto de se crescer sem irmãos.
 
Em 2017, foi publicado um estudo que mostrava que, em geral, os filhos únicos tendem a ser mais inteligentes e também têm uma melhor relação com os pais do que os filhos com irmãos.
 
Da mesma forma, verificou-se que estas crianças tendem a assemelhar-se mais aos pais do que as que crescem numa família com muitos filhos. Tal acontece porque é muito maior e mais intensa a interação com os pais e porque o vínculo é de maior qualidade e proximidade.
 
O filho único identifica-se muito mais com os pais também porque não possui os estímulos dos irmãos que, na maior parte dos casos, servem de referência para os mais novos. Assim, é muito mais fácil que a relação com um só filho seja mais harmoniosa  e intensa.
 
A título de curiosidade, os cientistas lembram que, existem muitos famosos filhos únicos, o que também demonstra que, estas pessoas não apresentam qualquer problema, que conseguem vencer na vida e seguir os seus sonhos tal como quem cresce com irmãos. Assim, registe as figuras conhecidas do grande público que também são filhos únicos, como é o caso de Leonardo Da Vinci, Albert Einstein, Jean-Paul Sartre, Franklin Delano Roosevelt e Charles Lindbergh, entre outros.
 
Sem ir muito longe, 20 dos primeiros 23 astronautas enviados ao espaço eram filhos únicos. Assim como uma série de figuras do entretenimento como Marilyn Monroe, Al Pacino e Brooke Shields. Da mesma forma, outros como Leonardo DiCaprio, Robert De Niro e Alicia Keys.
 
Claro, também haverá muitas figuras famosas e celebridades que cresceram com irmãos. A verdade é que não parece haver nenhuma diferença radical entre ter uma família em que há apenas um filho e outra em que há muitos. Tudo indica que é a genética, o estilo parental e as experiências pessoais que moldam cada indivíduo, pelo que, se está a planear ter filhos, faça uma opção baseada na sua própria realidade e sem medo de ter apenas um filho. Pondere a sua situação económica e decida em consciência, sabendo que, não existe qualquer problema em ter apenas um filho se o soubermos educar, se lhe dermos regras e valores, se lhe fornecermos estímulos e contextos sociais onde se possam desenvolver da melhor forma possível
 
É bom que todas as crianças tenham uma atividade para além da escola e, esse cuidado também deve existir quando se trata de um filho único já que, essa será uma boa forma de lhe permitir desenvolver mais e melhores habilidades sociais. Invista o seu tempo, entusiasmo, compreensão e carinho e permita que o seu filho siga os seus sonhos, pois ele deverá aproveitar ao máximo as vantagens de ser filho único! Forneça-lhe regras, rigor, exigência, a par do muito amor que lhe dedica e acredite que, ser filho único é ser diferente e especial e que isso é positivo e não um motivo de preocupação e de medo.
 
Fátima Fernandes