Economia

Autarcas queixam-se que o Algarve só serve aos governantes para “estender a toalha de praia”

O presidente de Vila do Bispo recua-se a “fazer figura decorativa” e não vai mais à Associação de Municípios para falar com governantes.

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O encerramento dos Serviços de Urgência Básica (SUB), durante dois dias, na semana passada, em Loulé, foi a gota que fez transbordar o copo da indignação nos municípios algarvios. 
 
Segundo o "Público" ao protesto contra o anunciado encerramento de mais escolas de ensino básico e de repartições de finanças, juntaram-se os cortes na saúde. “Não venho aqui mais [à sede da Amal] para reuniões com membros do Governo, não me presto a desempenhar o papel de figura decorativa - estou farto”, disse o presidente da Câmara de Vila do Bispo, Adelino Soares, na última reunião do órgão executivo da Comunidade Intermunicipal do Algarve – Amal. 
Os restantes 15 autarcas disseram “compreender” o protesto, porque, também eles, falam, falam, mas não são escutados.
 
A tomada de posição de Adelino Soares surgiu depois do presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) Algarve, David Santos, pedir o agendamento para o próximo dia 15 de Maio de uma reunião, na Amal, com o secretário de Estado da Modernização Administrativa, Joaquim Cardoso da Costa, que pretenderá discutir com os autarcas a instalação no Algarve de 37 Espaços do Cidadão – locais de multiserviços públicos.
 
Mas “a intenção é encerrar mais serviços”, observou o presidente da Câmara de Monchique, Rui André, PSD, o concelho onde está previsto, num âmbito do programa de reforma da Justiça, o fecho do Tribunal. O autarca de São Brás de Alportel, Vítor Guerreiro, socialista, enfatizou a luta que tem travado para evitar o previsto encerramento da repartição de finanças no concelho e de escolas na zona rural.
 
O presidente da Amal, Jorge Botelho (também autarca de Tavira), PS, concordou com a necessidade de “endurecer” o discurso contra o Governo, exemplificando com o insucesso do resultado da  reunião tida com o ministro da Saúde, a propósito da criação do Centro Hospitalar do Algarve (CHA). “Às vezes sinto que o diálogo [com a administração central] é chover no molhado, só querem  o Algarve para estender a toalha na praia”, comentou.
 
Se dúvidas houvesse quanto à falta de eco das críticas, o presidente da câmara de Faro, Rogério Bacalhau, PSD, desfez os equívocos: “Aquilo que estamos a dizer hoje aqui, já dissemos há um mês”. À redução de serviços no Hospital do Barlavento (Portimão) e encerramento de mais escolas do interior, junta-se a falta de conclusão das obras de requalificação na EN 125 e as portagens na Via do Infante. Portanto, concluiu, “daqui a um mês podemos estar a repetir exactamente a mesma coisa”.
 
O vice-presidente da Câmara de Loulé, Hugo Nunes, PS, por outro lado, lembrou o “o jogo de empurra” das responsabilidades entre a administração do Centro Hospitalar do Algarve (CHA) e a Administração Regional de Saúde (ARS) do Algarve a propósito da falta de médicos e enfermeiros no Serviço de Urgência Básica (SUB) da cidade, encerrado por falta de médicos durante os dias 1 e 2 de Maio. 
 
O Sindicato dos Enfermeiros, em comunicado, veio ontem confirmar que o “impasse” na gestão hospitalar que se está a verificar “provoca consequências graves na gestão dos recursos humanos e materiais, com implicações no socorro da população”. A situação mais grave, sublinha, acontece em Loulé. “A dificuldade em fazer escalas de enfermeiros tem vindo a agravar-se de mês para mês”. Albufeira e Vila Real de Stº António são outros dos concelhos com “ruptura” nos Serviços de Urgência Básica.