Sociedade

Bombeiros Municipais de Olhão guardam “Sidecar” único no mundo

 
 
 
Integrado no plano de atividades do Corpo de Bombeiros Municipais de Olhão, comemorou-se no passado dia 1 de março, o Dia da Proteção Civil. Nesse âmbito o município de Olhão “abriu as portas”, do quartel de Bombeiros até ao final do mês e fez o convite à população para uma visita às suas instalações e para um contato mais próximo com a realidade desta corporação.

 
O Algarve Primeiro aceitou o desafio e falou com o Comandante Luís Gomes.
 
 
Constituída por 120 elementos, a corporação dispõe de 53 profissionais, sendo que 45 são bombeiros e os restantes técnicos da autarquia que prestam trabalho diário no quartel. 
 
Os BMO contam ainda com 35 voluntários que, a par da sua vida profissional dedicam uma parte do seu tempo à causa nobre de apoiar os outros.
 
Dispõe da fanfarra que reúne mais 35 elementos que “integram a corporação desde miúdos e que, em alguns casos, acabam por se interessar pela profissão e continuar”.
 
Segundo Luís Gomes, “nem sempre é fácil motivar os jovens para continuarem nesta missão, sobretudo porque as compensações são insuficientes e pouco apelativas. Realço os esforços que têm sido feitos nesse sentido, sobretudo pela autarquia e, mais recentemente com a tentativa de alterar a lei por parte do Estado, mas a realidade é que, há quinze anos que continuamos a arrastar o problema das qualificações e progressões na carreira”. 
 
Para o Comandante, “a autarquia que é quem nos paga, apoia a ideia, mas a lei não permite esses pagamentos e o devido reconhecimento, o que continua a ser o maior problema dos bombeiros, e o que mais dificulta quer em termos de motivação diária para trabalhar, quer no que se refere à captação de novos elementos para a corporação. Os jovens gostam, dedicam-se, mas quando chega a hora de fazer a opção profissional, acabam por desistir”.
 
Lamentando que permaneça a falta de progressão nas carreiras, Luís Gomes salienta que, “há efetivos que se reformam, outros colegas acabam por assumir as funções, mas sem que lhes seja atribuída uma gratificação monetária. As pessoas estão preparadas, qualificadas, mas a lei não permite que o pagamento corresponda às funções que desempenham. Felizmente temos sido sempre acarinhados pelo executivo autárquico que, dentro das suas possibilidades, dá resposta às nossas solicitações, mas quanto a vencimentos, não passa pela boa vontade, mas sim pela alteração da lei”.
 
 
Relativamente a meios disponíveis, Luís Gomes realça que “nós nunca estamos satisfeitos com o que temos, pois queremos sempre mais, mas sabemos reconhecer que estamos bem equipados e à altura das necessidades. Sempre que é possível, a autarquia faz esses investimentos e, podemos dizer que, com a chegada da nova viatura de última geração de combate a incêndios urbanos e industriais, que está previsto chegar ainda este ano, vamos ficar muito melhor apetrechados e com mais capacidade de resposta às necessidades das populações”.
 
Depois, “é tudo uma questão de gestão, quer dos meios, quer dos recursos humanos. Quando recebemos os pedidos de socorro através do 112, o Comando Distrital das Operações de Socorro faz-nos o pedido e nós respondemos, fazendo a melhor gestão desses meios e, até ao momento, não temos sentido necessidades de maior, isto porque, vamos renovando o nosso parque automóvel e, a autarquia tem feito um forte investimento na substituição das viaturas que foram para abate”.
 
Ao Algarve Primeiro o comandante dos Bombeiros Municipais de Olhão “apresentou” uma relíquia única no mundo. Trata-se de um “sidecar”que está ao serviço dos Bombeiros Municipais de Olhão desde 1939, sendo propriedade destes e também do município. Foi fabricado em Paris e deu entrada no nosso país antes da 2ª Guerra Mundial”.
 
 
O motociclo tem uma bomba acoplada de combate a incêndios, uma escada de ganchos, lanços de mangueiras e agulhetas, uma sirene manual e possui 3CV de potência.
 
Ao nível de equipamentos, o comandante avançou que “temos de ter noção de que os meios são finitos e que, por se tratar de equipamentos muito caros, o que se passa é que, quando necessitamos de meios adicionais, recorremos a outras corporações, tal como prestamos esse apoio a outros corpos de bombeiros”.
 
Assegurando que, “de um modo geral, dispomos dos meios necessários quando se trata de situações frequentes, temos de ter em conta que, nos meses de maior fluxo de população à região e ao concelho, as necessidades são maiores. Nesses casos, temos de fazer uma gestão rigorosa, tendo em conta que não podemos fazer um reforço de efetivos já que temos meios limitados, tendo, no entanto, o apoio de outras corporações o que nos permite dar resposta”.
 
Em termos de formação, “temos tido nos últimos 2, 3 anos muita resposta e também ao nível das qualificações”.
 
 
Luís Gomes destaca esse fato adiantando que, “talvez tivéssemos tido mais formação nestes dois últimos anos e atualizações do que na última década. A autarquia tem feito um forte investimento nessa área, sobretudo para que possamos dar uma melhor resposta às necessidades. Quando chega uma nova viatura, por exemplo, é fundamental que se dominem novas técnicas e formas de trabalho. Para nós é muito motivador e permite-nos estar sempre atualizados”.
 
“Penso ser um grande passo que foi conquistado, apesar de querermos sempre mais! Temos recebido muita formação no quartel e na Escola Nacional de Bombeiros, a que se acrescenta a que é facultada através da Autoridade Nacional de Proteção Civil através do Comando Regional.”
 
O responsável manifestou ainda o seu reconhecimento para com a autarquia de Olhão, “tenho de sublinhar a forma como este e os anteriores executivos têm apoiado os bombeiros, dentro das limitações, sabemos que se reúnem todos os esforços para responder às nossas necessidades”. Sem esquecer os anteriores presidentes da autarquia, Luís Gomes, destaca o trabalho que o atual autarca António Pina tem desenvolvido em prol dos Bombeiros Municipais de Olhão.
 
O Comandante do BMO acredita que, “o próximo quadro comunitário lhes permita continuar o processo de renovação do parque automóvel, sobretudo os carros autotanque de apoio, já que no anterior (QCA), foi prioritário dar resposta às viaturas de combate a incêndio”.
 
Também com planos para uma mudança de quartel, o Comandante mostra-se confiante de que, “num futuro próximo possamos ver esse sonho tornado realidade, uma vez que, somos a corporação do Algarve com mais necessidades a esse nível. Este quartel já está muito limitado, quer em termos de espaço, quer de infraestruturas. Precisamos também de um espaço de treino para os nossos homens, mas a seu tempo, estou convencido de que teremos o problema solucionado”.
 
Tendo em conta que os termómetros vão gradualmente subindo e que a “típica” época de incêndios se aproxima, Luís Gomes esclareceu que “é bom que estejamos preparados para reconhecer que, os fenómenos a que temos assistido nos outros anos, vão continuar a acontecer, pois o Algarve, devido às suas caraterísticas naturais, à falta de limpeza dos terrenos, as próprias condições do terreno e às alterações metereológicas, tem-se tornado vulnerável aos fogos florestais”.
 
O Comandante deu como exemplo o trabalho que foi desenvolvido em Olhão, “há uns bons anos atrás, esta cidade tinha um problema muito grave com a implementação de oficinas debaixo de habitações, em locais com difíceis acessos e sem as mínimas condições de segurança. Num trabalho conjunto com os bombeiros, foi tratada cautelosamente a questão da segurança urbana e, os resultados estão à vista. Temos os parques industriais, boas acessibilidades, novas condições de segurança, baseadas na prevenção e, a questão dos fogos urbanos e industriais foi controlada”. 
 
 
No caso dos fogos florestais, “têm também de ser centradas as atenções nessa realidade, sob pena de todos os anos lamentarmos bens materiais, humanos e uma vasta área florestal ardida”.
 
“Não são só os meios e os efetivos que devem ser uma preocupação, também a população em geral tem de assumir uma atitude preventiva através da limpeza, do cuidado para com os locais mais vulneráveis e com o fogo, adiantou, realçando que, “se não alterarmos comportamentos, se não apostarmos mais na prevenção e na limpeza, infelizmente poderemos ter mais incêndios e com mais gravidade”. 
 
O concelho de Olhão “não apresenta uma zona florestal problemática, nem muito significativa e, o nosso município tem apostado muito na segurança contra incêndios, ainda assim, todo o cuidado é sempre pouco”. Mas há necessidade de dar resposta a outras solicitações, “temos ilhas e praias, temos um grande aumento da população nos meses de verão, temos mais gente nas estradas e muitos mais cuidados a ter, sem esquecer que dispomos dos mesmos meios e dos mesmos efetivos, o que gera muito desgaste humano”.
 
Para finalizar, Luís Gomes destacou o trabalho desenvolvido pelos seus homens e mulheres, na capacidade de ajudar o próximo sem limites, muitas vezes com compensações “manifestamente insuficientes”, mas sempre prontos para responder a um pedido de socorro.