O executivo da Câmara Municipal de Portimão aprovou ontem, por unanimidade, duas moções de repúdio ao comunicado do conselho de administração do Centro Hospitalar do Algarve (CHA) sobre a morte de uma criança.
Paulo Rafael Silaghi, de 8 anos, deu entrada na urgência pediátrica de Portimão a 19 de outubro, de onde teve alta no próprio dia, mas viria a morrer dias depois num hospital de Lisboa, para onde foi enviado em estado grave após ter sido submetido a uma cirurgia em Faro para retirar o apêndice.
“A haver culpados estes são todos aqueles que não perdem uma oportunidade para denegrir a imagem do hospital vilipendiando todos os abnegados funcionários públicos que nele trabalham”, considerou o CHA, em comunicado divulgado na altura.
“A haver culpados estes são todos aqueles que por interesses económicos, de evidência social ou da mais rasteira política, não hesitam em lançar a desconfiança, o medo e o desespero nas pessoas. São todos esses que nunca perdem uma oportunidade para atingir os seus fins os verdadeiros, mas indiretos, culpados desta tragédia. Que lhes pese na consciência”, acrescentava-se.
Na sessão de câmara de terça-feira, a presidente da Câmara Municipal de Portimão, Isilda Gomes, e o representante da coligação «Servir Portimão», José Pedro Caçorino, apresentaram duas moções de repúdio, que foram aprovadas por unanimidade.
Na apresentação da sua moção, a autarca portimonense lamentou a postura da administração do CHA, questionando se a defesa dos interesses de Portimão pode ser considerado “delito de opinião”.
“Sem que nada o fizesse prever, decidiu o conselho de administração do CHA incluir no final do referido comunicado quatro parágrafos que configuram uma crítica a todos os que têm manifestado a sua preocupação com o resultado da fusão do Centro Hospitalar do Barlavento e do Hospital Distrital de Faro e a eventual perda de qualidade dos serviços prestados, sobretudo na unidade de Portimão”, refere Isilda Gomes.
Para a autarca, a administração do centro “deve ser questionada sobre a oportunidade deste inusitado ataque”, porque “aproveitar a trágica morte de uma criança para desferir um ataque a quem de forma livre diverge da opinião do CA do CHA revela uma insensibilidade gritante para quem dirige um serviço de saúde e uma antipatia profunda por quem apenas exerceu, e esperamos que continue a exercer, o direito a ter uma opinião diversa dos signatários do referido comunicado”.
Na moção da coligação «Servir Portimão», pede-se “bom senso” à administração do Centro Hospitalar do Algarve e considera-se o trecho final do comunicado “indigno e gravemente atentatório das mais elementares regras do decoro, respeito e dor de uma família que perdeu uma criança de 8 anos de idade”.
Ambas as moções serão remetidas à família de Paulo Silaghi, à comissão parlamentar de Saúde da Assembleia da República, aos vários grupos parlamentares, ao ministro da Saúde, à Administração Regional de Saúde do Algarve, ao Centro Hospitalar do Algarve e à Associação de Municípios do Algarve.