Sociedade

Carmo Afonso alertou em Loulé: “A democracia está em perigo”

 
 
 
A convite do Município de Loulé para falar sobre o tema “Crise da democracia – o que fazer?”, no âmbito do ciclo “Horizontes do Futuro”, a conferencista fez uma abordagem ao que se passa no mundo atual, numa noite em que a plateia teve também uma palavra a acrescentar às reflexões, durante o debate que se seguiu.

Uma Europa é um mundo sobressaltado pelo fantasma do populismo. Um país que está a deslocar-se à direita e onde a “Paz, Pão, Habitação, Saúde e Educação” perderam o significado de outros tempos. Uma guerra que só terá fim pela via diplomática, foram algumas das ideias deixadas por Carmo Afonso, na quinta-feira, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, uma algarvia da Serra do Caldeirão que é hoje uma voz dissonante com forte presença no espaço mediático.
 
Em nota da autarquia lê-se que, se até 2019, era garantido que a democracia portuguesa estava consolidada, para a cronista foi nessa altura que o aparecimento dos populismos fez soar o alarme. “Hoje somos uma democracia em que a terceira força política é um partido de extrema-direita”.
 
Da parte da esquerda, Carmo Afonso considerou que longe vai o radicalismo do pós-25 de Abril e que partidos como o Bloco de Esquerda ou Partido Comunista são hoje erradamente vistos como extremistas. “Estão a defender não uma subversão do sistema, mas os direitos dos trabalhadores, defendem a Constituição e fazem uma luta trabalhista”, notou.
 
Numa época em que os alicerces da democracia – “Paz, Pão, Habitação, Saúde e Educação” - estão em risco, o escalar do populismo surge também “porque as pessoas sentem uma grande frustração pois não têm as suas necessidades concretizadas” e a extrema-direita “é especialista em apontar um culpado”.
 
“A democracia está em perigo!”, alertou Carmo Afonso, considerando que o que está em causa são os valores conservadores e antiprogressistas e um retrocesso na luta antirracista e feminista, referindo que este não é apenas um problema português, mas de outros países europeus como Espanha, França, Itália ou Suécia, e mesmo fora da Europa, com os antigos presidentes norte-americano, Donald Trump, e brasileiro, Jair Bolsonaro.
 
Num mundo em que o “nós está mais fraco”, a cronista do “Público” diz ser fundamental a organização das pessoas em grupos. “Temos que voltar às estruturas coletivas. É aí que se faz a reflexão política, que pode haver processos transformadores”. Isto por contraposição às redes sociais que considera ser um “palco” para um “ativismo que não é suficiente” já que se trata de conteúdos “de consumo rápido e imediato”. “Não é o tempo que é preciso para fazer uma resolução, quanto mais uma luta”, argumentou.
 
Apesar de se assumir como uma mulher de esquerda, considera ser muito importante “uma direita forte e saudável”, e defende “uma alternância democrática”. E se os problemas de emprego, habitação, educação e saúde são “mato para arder” para os populistas, a Guerra “veio também mexer com os portugueses”, acrescentou.
 
Quanto ao conflito, Carmo Afonso referiu-se ao posicionamento do País: “Portugal sempre defendeu o eixo euro-atlântico, o mundo ocidental, que tem coisas muito boas, mas em nome dessas coisas boas participámos em coisas muito más, como a guerra do Iraque. Fazemos parte de um lado e quem puser em causa o imperialismo americano está sempre em minoria”, considerou.
 
Ainda em relação à Guerra diz ser necessária uma reflexão no espaço público sobre os antecedentes. “Alguém acredita que a Rússia sairá derrotada? Como é que não estamos do lado de uma solução negociada?”, questionou. E sublinhou o agudizar da situação: “Estamos cada vez mais numa trincheira de onde é difícil sair…”.
 
Em resposta a um aluno da Escola Secundária de Loulé que perguntou se “Ainda acredita em nós, jovens? Acha que ainda é possível mudar?”, a oradora respondeu: “É possível, mas é sobretudo preciso!”.