Células estaminais mostram-se eficazes no tratamento da doença ocular

 
Um estudo recente, publicado na revista científica Stem Cell Research & Therapy, que utilizou células estaminais mesenquimais (MSC, do inglês Mesenchymal Stem Cells) para tratar doentes com retinite pigmentosa, apresentou resultados muito promissores.

 
As MSC podem ser obtidas a partir de diversas fontes, como o tecido do cordão umbilical, a medula óssea, a placenta, a polpa dentária e o líquido amniótico. Os autores deste estudo consideram que as MSC extraídas do tecido do cordão umbilical são as mais adequadas para aplicação clínica no contexto de retinite pigmentosa, devido à facilidade de obtenção, rápida proliferação em laboratório, compatibilidade, segurança, potencial imunomodulador e pela semelhança com o epitélio pigmentar da retina.
 
Neste ensaio clínico de fase 3 participaram 32 doentes com retinite pigmentosa, entre os 18 e os 58 anos de idade. O tratamento experimental consistiu na aplicação de células estaminais mesenquimais num dos olhos de cada doente. Numa fase posterior, os investigadores procuraram comparar, em cada doente, a evolução da visão do olho tratado com recurso a células estaminais com o olho não tratado, através da medição de vários parâmetros antes e ao longo de seis meses após o tratamento experimental. Contrariamente aos olhos não tratados, em que os parâmetros medidos não mostraram alterações significativas ao longo dos seis meses de seguimento, nos olhos tratados com células estaminais, os mesmos parâmetros melhoraram significativamente, nomeadamente a acuidade visual, o campo visual e a espessura da retina. O procedimento adotado foi seguro, visto não terem sido observados efeitos adversos decorrentes do tratamento durante os seis meses seguintes.
 
Segundo Bruna Moreira, Investigadora do Departamento de I&D da Crioestaminal, "este estudo demonstra que é possível melhorar a visão de doentes com retinite pigmentosa recorrendo à aplicação de células estaminais. Os investigadores concluíram que o método que utilizaram é seguro e eficaz, ao mesmo tempo reforçando que é necessário continuar a seguir estes doentes a longo-prazo, para garantir a segurança do tratamento e a frequência ótima da sua aplicação.".
 
A retinite pigmentosa é uma doença ocular de origem genética, habitualmente diagnosticada em adolescentes e adultos jovens, que conduz a uma perda progressiva da visão. Esta doença resulta de um processo de degeneração da retina, que é a estrutura do olho responsável por captar as imagens, que são depois transmitidas ao cérebro através do nervo ótico. Estima-se que a retinite pigmentosa afete uma em cada quatro mil pessoas na Europa e mais de um milhão em todo o mundo. A retinite pigmentosa não tem cura e dispõe, atualmente, de poucas opções terapêuticas capazes de abrandar sua progressão. Dada a necessidade de encontrar novas formas de abordar este problema têm surgido estratégias inovadoras, como a utilização de células estaminais mesenquimais, atualmente em avaliação em ensaios clínicos.