Saúde

Centro de simulação no Algarve permite a médicos ensaiar e errar em 'bonecos' de última geração

Foto|Ualg
Foto|Ualg  
Conseguem piscar os olhos, chorar, gemer e até transpirar: os ‘bonecos’ de última geração do Centro de Simulação Clínica do Algarve simulam casos clínicos, desde um parto a uma cirurgia, permitindo aos médicos ensaiar e errar fora da vida real.

Ao entrar no centro, no último piso da Faculdade de Medicina e Ciências Biomédicas da Universidade do Algarve (UAlg), no ‘campus’ de Gambelas, a sensação é a de estar num pequeno hospital, onde ao longo de um corredor existem salas de emergência, de cuidados intensivos, de obstetrícia, de imagiologia e um bloco operatório, entre outras.
 
Contudo, nas camas estão deitados simuladores que se aproximam de humanos: numa sala, uma mãe acaba de dar à luz, com o recém-nascido e a placenta ainda sobre o seu corpo, enquanto ao lado um bebé prematuro nascido com 800 gramas ‘cresce’ numa incubadora. Nos cuidados intensivos, são monitorizados os sinais vitais de uma paciente, cuja respiração é visível.
 
Médico há 25 anos e intensivista há 10, Alexandre Baptista, diretor do centro, recorda o tempo em que estudou na faculdade e o que havia era apenas livros e ‘calhamaços’ para ler e estudar, uma realidade bem diferente da de hoje, em que os alunos de Medicina e pós-graduados podem treinar em simuladores altamente sofisticados.
 
“Hoje em dia, a tecnologia evoluiu a um ponto em que nós temos equipamentos que simulam toda e qualquer expressão e atividade: um choro, um grito, uma sensação de engasgamento. Hoje em dia, os estudantes de Medicina ou os médicos que já são licenciados têm acesso a uma tecnologia que beneficia drasticamente a sua necessidade de aprendizagem”, resume.
 
No Centro de Simulação UalgTec Health há também uma sala onde é possível treinar cirurgias laparoscópicas, uma técnica cirúrgica mais moderna e menos invasiva, assim como ecografias, havendo ainda uma sala com um ecrã que apresenta um corpo humano tridimensional digitalizado no qual é possível fazer ‘cortes’ e ver o seu interior.
 
Em alguns dos simuladores, que podem ser de baixa, média ou alta-fidelidade, há ainda a possibilidade de recorrer a óculos de realidade virtual, para ver em simultâneo o que ocorre dentro e fora destes ‘bonecos’ que ajudam a treinar diversas práticas clínicas, contribuindo para acelerar a formação e prática dos médicos.
 
“São doentes que se queixam, que gritam, que gemem, que choram, que suam. O doente pode, por exemplo, urinar-se, se estamos a simular um AVC ou uma crise epilética. Realmente, hoje em dia, o avanço destes simuladores veio permitir simular praticamente tudo o que queiramos”, refere Alexandre Baptista.
 
Segundo o clínico, uma das grandes mais-valias do centro é permitir ensaiar, repetir os procedimentos vezes sem conta e errar, aprendizagem que é “extremamente importante na prática clínica”, porque o que todos os médicos menos querem fazer com o doente, no dia-a-dia, é errar, nota.
 
“Praticamente todos os médicos deviam ser obrigados a passar em centros de simulação, porque, na realidade, aqui somos capazes não só de achatar as curvas de aprendizagem, tornando-nos mais eficientes e proficientes na prática clínica, mas, principalmente, porque somos capazes de repetir e não há melhor sítio para errarmos senão aqui”, sublinha.
 
Em algumas das salas existem espelhos falsos, e é do outro lado do espelho que os formadores dão os comandos aos formandos, alterando os sinais vitais do doente e agravando ou desagravando o seu estado de saúde, para que se treine, também, a capacidade de reação perante situações inesperadas.
 
“Nós temos casos clínicos predefinidos e, uma vez que o formando aqui chega, começa a abordar o caso clínico que nós desenhámos. Daquele lado há sempre alguém que é capaz de por o doente um bocadinho mais grave ou um bocadinho melhor. [E de ver] se a atitude tomada é a incorreta ou a certa. E, no final, fazer até com que o boneco diga ‘obrigado’”, frisa.
 
Estes comandos são possíveis através de um ‘software’ “bastante avançado” que é programável, permitindo recriar uma série de situações clínicas, algumas que são mesmo casos reais, seja em situações urgentes, durante um parto, ou em contexto de cuidados intensivos, independentemente do tipo de patologia.
 
“O que nós tentámos foi conseguir simular quase desde a entrada do doente dentro do hospital até à sua saída”, exemplifica Alexandre Baptista, notando que o centro está muito bem apetrechado, com tecnologia para as pessoas que procuram formação “em praticamente todas as áreas”.
 
O Centro de Simulação UalgTec Health, inaugurado oficialmente no início de março, representou um investimento de dois milhões de euros, verba cofinanciada pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) da União Europeia, através do Programa Operacional Regional do Algarve 2014-2020 (CRESC ALGARVE 2020).
 
Lusa